quinta-feira, 7 de agosto de 2025

CEO da Apple dá presente com ouro 24 quilates para Trump

Trump ganha escultura de vidro da Apple com base de ouro 24 quilates: símbolo de inovação ou alerta democrático?

Por Ronald Stresser | Sulpost

 
O CEO da Apple, Tim Cook, entrega a Donald Trump um disco de vidro gravado com base de ouro durante um evento no Salão Oval da Casa Branca, nesta quarta-feira. (Foto: Demetrius Freeman/The Washington Post)
 

Num gesto que mistura reverência tecnológica e política de alto teor simbólico, o presidente Donald Trump recebeu nesta quarta-feira (07), durante um evento oficial nos Estados Unidos, um presente que chamou a atenção não apenas pelo luxo, mas pelo momento em que foi entregue: uma escultura de vidro artístico, representando uma pastilha de silício — matéria-prima essencial na produção de semicondutores — montada sobre uma base de ouro 24 quilates. O presente foi entregue pelo CEO da Apple, Tim Cook, e teve seu design assinado por um ex-fuzileiro naval norte-americano que atualmente trabalha para a gigante da tecnologia.

"É uma peça única", declarou Cook, exibindo o objeto com um cuidado visivelmente calculado. "Foi criada exclusivamente para o presidente Trump", completou, sob aplausos e câmeras que registravam cada movimento.

Luxo, política e um cenário de tensão

Em meio à celebração, os números também falavam alto. Segundo a Reuters, o preço do ouro ultrapassa os US$ 3.300 por onça, o que eleva ainda mais o valor simbólico — e material — da base da escultura. Em um país onde a Constituição proíbe explicitamente que autoridades recebam presentes de governos estrangeiros sem aprovação do Congresso, o histórico recente de Trump acende um sinal de alerta. No início do ano, o presidente já havia sido criticado por aceitar um luxuoso Boeing 747-8 do Catar, gesto denunciado por opositores como “suborno institucionalizado”.

Dessa vez, o presente veio de uma empresa americana. Mas nem por isso o episódio deixa de levantar questionamentos sobre o limite entre cortesia corporativa e favorecimento político.

 
 

Tarifa de 100% nos chips — mas com exceções

O evento também serviu de palco para o anúncio de uma medida econômica de grande impacto: Trump prometeu impor uma tarifa de 100% sobre todos os chips de computador importados para os Estados Unidos. Uma promessa antiga de sua campanha de reindustrialização.

Porém, a medida vem com uma porta entreaberta: empresas que se comprometerem a "produzir em solo americano" poderão ser isentas da taxa. A Apple, segundo o próprio presidente, já garantiu essa exceção.

A fala de Trump foi precisa, mas deixou lacunas: quais tipos de fábricas serão consideradas? Qual o montante mínimo de investimento necessário? Nenhuma dessas perguntas teve resposta clara. Mesmo assim, Cook foi só sorrisos e apertos de mão, agradecendo Trump por ser “um grande defensor da inovação e da manufatura americana”.

Para a Apple, essa gentileza política pode significar bilhões de dólares em economia. Estimativas internas da própria empresa apontam que as tarifas poderiam acrescentar US$ 900 milhões aos seus custos operacionais.

Entre símbolos e silêncios

A escultura entregue a Trump é mais do que um mimo corporativo: ela é, para muitos, a representação física da complexa simbiose entre o poder político e o poder econômico. Em um país que se autodefine como bastião da democracia liberal e da livre concorrência, esse tipo de relação desperta tanto fascínio quanto preocupação.

Se por um lado Trump fortalece seu discurso nacionalista com a promessa de recuperar empregos industriais perdidos para a China, por outro, a política de exceções seletivas — onde empresas ganham isenções mediante promessas de investimento — gera desconfiança em setores que veem nisso uma forma disfarçada de clientelismo econômico.

E enquanto a escultura reluz em ouro sob as luzes do Salão Oval improvisado, a pergunta ecoa nos bastidores: estamos diante de uma celebração da indústria americana ou de um perigoso flerte com o autoritarismo empresarial?


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