Lula recebe ligação de Putin e reforça papel do Brasil na busca pela paz
© Ricardo Stuckert |
O telefone tocou no Palácio do Planalto no início da manhã de sábado. Do outro lado da linha, Vladimir Putin. Ao centro da cena, Luiz Inácio Lula da Silva — que há meses tenta transformar a diplomacia em ferramenta de acomodação das maiores dúvidas do mundo moderno: como encerrar guerras, restabelecer diálogo e proteger vidas.
Segundo nota oficial divulgada pela Presidência, a conversa durou cerca de 40 minutos e teve como eixo central os esforços pela paz entre Rússia e Ucrânia. Entre as falas houve também troca de informações sobre diálogos em curso entre a Rússia e os Estados Unidos e conversas sobre o cenário político e econômico internacional.
Não se tratou apenas de palavras diplomáticas. Em tempos em que a política externa frequentemente é narrada em extremos, a ligação — confirmada pelo Planalto e pela própria imprensa russa — revela uma tentativa persistente do Brasil de se firmar como interlocutor capaz de escutar e reunir atores com visões distintas.
Brics, economia e laços bilaterais
Além do tema Ucrânia, os presidentes conversaram sobre a cooperação no âmbito do Brics. De acordo com o comunicado oficial, Vladimir Putin parabenizou o Brasil pelos resultados da Cúpula do Brics, realizada nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, e ambos confirmaram a intenção de organizar ainda este ano a próxima edição da Comissão de Alto Nível de Cooperação Brasil–Rússia — fórum chave para trade, investimentos e parcerias tecnológicas.
Em poucas palavras: o telefonema aproximou agendas. Numa mesa invisível, estiveram presentes as exportações, investimentos e o cálculo político que liga decisões econômicas a interesses geopolíticos, especialmente em um momento de tensões entre grandes potências.
O Brasil como ponte
Para entender o gesto, é preciso voltar a ver o Brasil não como uma potência militar, mas como um país que tem tentado, em sua diplomacia, articular consensos. Lula vem ocupando esse lugar desde o começo do mandato: promoveu iniciativas multilaterais, defendeu o enfrentamento da fome como imperativo de paz e buscou assumir protagonismo em fóruns como os Brics.
Há críticas — e não poderiam faltar. A mesma disposição ao diálogo é vista por opositores como ambivalente: seria o Brasil um mediador isento ou um ator movido por interesses econômicos e estratégicos? A resposta talvez esteja nas ações: interlocução sem imposição, esforço de acolhida sem promessa de soluções mágicas.
O peso de um telefonema
Um telefonema de 40 minutos não muda fronteiras nem cria tratados, mas tem o poder de iniciar conversas que, se aprofundadas, podem abrir frestas para soluções maiores. No campo da diplomacia, a paciência muitas vezes vale mais do que a pressa. E o Brasil, nesta manhã de sábado, escolheu a escuta.
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