Terceirização no Paraná: trabalhadores enfrentam perda de direitos, piora na qualidade dos serviços e ameaça à soberania
Por Ronald Stresser | Sulpost![]() |
Nelsão da Força discursa sob o olhar atento do presidente Arilson Chiorato |
Na manhã siberiana de Curitiba, o auditório da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) foi palco de um debate acalorado e carregado de emoção. O tema não era novo, mas a urgência crescia a cada história contada: a terceirização, modelo que vem se espalhando pelo estado, estaria não apenas retirando empregos de servidores concursados, mas também corroendo a qualidade do serviço público e enfraquecendo a organização dos trabalhadores.
Na primeira fila, professores, servidores da saúde, trabalhadores terceirizados e sindicalistas se revezavam ao microfone, narrando a insegurança de contratos temporários e a rotina exaustiva imposta pela escala 6x1. Muitos estavam ali também pela defesa de uma bandeira mais ampla: o fim dessa jornada desumana, a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e a proteção da soberania nacional como forma de enfrentar a crescente agenda extremista no mundo.
“Estratégia para enfraquecer o trabalhador”
À frente do movimento, coordenando a audiência pública, o deputado estadual Arilson Chiorato, presidente do PT Paraná, não poupou críticas.
"A terceirização não é apenas uma estratégia de gestão, é uma estratégia de enfraquecimento do poder de negociação coletiva" — afirmou.
Chiorato lembrou que, desde 2019, o Governo do Estado vem utilizando o modelo como forma de driblar a exigência constitucional do concurso público, privatizando setores essenciais sem que a população perceba o impacto imediato.
"Aqui no Paraná, a terceirização ganha contornos ainda mais dramáticos. Na prática, o que vemos é a substituição de direitos e benefícios tanto no setor público quanto no privado, precarizando a vida de quem trabalha e piorando o serviço para quem precisa dele" — reforçou.
Os números apresentados são alarmantes: no quadro de docentes estaduais, apenas 48% têm vínculo efetivo, 51% são temporários e cerca de 1% estão sob regime CLT ou terceirização.
“Mais gasto, menos qualidade”
Para a presidente da APP Sindicato, Walkiria Mazeto, essa mudança não é apenas administrativa, mas ideológica.
"Os responsáveis por isso são o ex-governador Beto Richa (PSDB) e o governador Ratinho Jr. (PSD), que intensificaram esse modelo. Não se trata de redução de custos, porque o estado gasta mais e o recurso não chega nem ao trabalhador nem ao cidadão. Fica na mão dos intermediários" — criticou.
Walkiria lembrou que setores inteiros, como o de funcionários de escola, estão sendo terceirizados, gerando alta rotatividade, perda de experiência acumulada e descontinuidade nos serviços.
Um futuro em disputa
No centro do debate, estava a defesa do fortalecimento da negociação coletiva e da organização do trabalho como caminho para reverter o quadro. Ao lado de Arilson, lideranças como Nelsão, da Força Sindical (foto), reforçaram que a luta não é apenas por condições melhores para a categoria, mas por um modelo de Estado que respeite e valorize quem trabalha.
A audiência terminou sem ilusões fáceis. Não houve promessa de solução imediata, mas houve um consenso: a terceirização, como está sendo aplicada no Paraná, não é sinônimo de eficiência. É a abertura de um mercado que, para muitos, serve mais para enriquecer empresas inexperientes do que para melhorar a vida de quem depende do serviço público.
E, como ficou claro no plenário, enquanto houver contratos precários e direitos substituídos por lucro de terceiros, haverá resistência.
📌 Com informações da Assembleia Legislativa do Paraná, APP Sindicato, Força Sindical, CUT Paraná, falas do deputado Arilson Chiorato e de Walkiria Mazeto, da APP.
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