Entre quedas e alertas: o retrato do desmatamento no Brasil: desmatamento cai 20% no Cerrado e aumenta 4% na Amazônia
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Os satélites não mentem. Em cada pixel captado pelo Deter, o sistema de alertas rápidos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), há uma história de floresta que resistiu — e outra que cedeu. Nos últimos 12 meses, entre agosto de 2024 e julho de 2025, o Brasil viu um cenário misto: o Cerrado respirou um pouco mais aliviado, com queda de 20,8% no desmatamento, enquanto a Amazônia registrou um aumento de 4% na devastação. O Pantanal, por sua vez, surpreendeu com uma redução drástica de 72% no corte raso da vegetação.
No bioma amazônico, a floresta perdeu 4.495 km² — o equivalente a três vezes a área da cidade de São Paulo. É um aumento em relação ao período anterior (4.321 km²), mas ainda assim o segundo menor número da série histórica. Já no Cerrado, a área desmatada caiu de 7.014 km² para 5.555 km². O Pantanal teve seu melhor desempenho, despencando de 1.148 km² para apenas 319 km².
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, presente à divulgação dos dados, destacou que os avanços pontuais não podem mascarar os desafios. “Não podemos permitir retrocessos. Cada hectare preservado é uma defesa contra a crise climática e um compromisso com as futuras gerações”, disse.
O peso da fiscalização e a disputa contra o tempo
Entre agosto de 2024 e julho de 2025, o Ibama emitiu 3.976 autos de infração e aplicou multas que somaram R$ 2,4 bilhões. Mais de 5 mil km² foram embargados. É a ação de campo tentando acompanhar o ritmo acelerado de motosserras e incêndios.
Para Ana Crisostomo, especialista em conservação do WWF-Brasil, os dados mostram que políticas públicas e fiscalização funcionam — mas precisam de blindagem contra interesses contrários à preservação. Ela cita como exemplo o veto ao chamado “PL da Devastação” (PL 2.159/21), que, se derrubado, poderia enfraquecer o licenciamento ambiental.
“O momento exige coerência e responsabilidade. Proteger nossos biomas é proteger o futuro do país. Uma Amazônia de pé significa segurança hídrica, climática e alimentar para todos”, alerta Crisostomo.
Financiamento climático: muito sol, pouca sombra
A preservação exige mais do que boa vontade: demanda dinheiro. O financiamento climático internacional para o Brasil cresceu 84% entre 2019/2020 e 2021/2022, chegando a R$ 26,6 bilhões por ano. Mas a fotografia do destino desses recursos revela uma contradição: 53% foram para o setor de energia, especialmente solar e eólica, enquanto apenas 2% chegaram ao subsetor de florestas.
Joana Chiavari, diretora do Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio), lembra que as florestas tropicais são estratégicas na luta contra o aquecimento global.
“Quando conservadas, absorvem carbono; quando destruídas, se tornam fontes de emissão. Elas podem ser solução ou agravante da crise climática — depende de como as tratamos”, explica Joana.
Ela aponta ainda que o setor que engloba florestas, agricultura, pesca e uso da terra enfrenta barreiras para atrair capital privado.
“Os retornos financeiros são de longo prazo e exigem estabilidade jurídica e política. Mas há sinais de mudança: o financiamento global para soluções baseadas na natureza cresceu 286% entre 2018 e 2023, apoiado por recursos públicos e concessões”.
Amazônia na vitrine do mundo
Com a COP30 marcada para novembro, em Belém, o Brasil será palco de uma das maiores discussões climáticas da década. Entre as demandas centrais dos países em desenvolvimento, está a captação de pelo menos US$ 1,3 trilhão por ano das nações mais ricas para enfrentar a crise climática.
Para o Brasil, a missão vai além de captar: é mostrar que o dinheiro será usado de forma eficaz. O governo aposta em iniciativas como a Plataforma de Investimentos Climáticos e Transformação Ecológica (BIP), o Eco Invest Brasil e a emissão de títulos soberanos sustentáveis para atrair capital.
Entre a esperança e a urgência
O dado de queda no Cerrado e no Pantanal é um sopro de esperança, mas a alta na Amazônia soa como alerta. Em cada hectare desmatado, há mais que perda de árvores: há liberação de carbono, perda de biodiversidade, desequilíbrio de chuvas e ameaça à vida de comunidades indígenas e ribeirinhas.
Se a floresta é o coração climático do planeta, ela pulsa mais fraca a cada hectare derrubado. E, como lembram os cientistas, não há desfibrilador capaz de reverter o colapso quando ele se instala. O tempo para agir é agora — e a próxima década dirá se fomos capazes de escutar os sinais.
📍Com informações da Agência Brasil. Edição: Ronald Stresser, para o Sulpost. Gostou da notícia? Considere fazer uma contribuição. Pix: 41992814340
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