A engrenagem emperrou – mas a inteligência artificial ainda gira o mercado norte-americano, diz BlackRock
Publicado em 07 de maio de 2025
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Edifício Sede da BlackRock em NY - Wikimedia Commons |
Na sala de reuniões silenciosa do BlackRock Investment Institute, os maiores cérebros da maior gestora de ativos do planeta não falam em crise – mas também não ignoram o barulho vindo do motor emperrado da economia dos Estados Unidos. O comunicado semanal da instituição, divulgado nesta segunda-feira (6), soa como um alerta ponderado: vem aí uma contração econômica provocada não por falta de demanda, mas por um choque de oferta – e o responsável tem nome, sobrenome e data marcada: tarifas comerciais, em especial contra a China, que entraram em vigor no dia 2 de abril.
É uma recessão diferente, explicam os estrategistas. Não aquela típica de ciclos econômicos, mas algo mais parecido com os dias sombrios da pandemia: fábricas parando, gargalos logísticos se multiplicando, prateleiras meio vazias, inflação renitente. E mesmo assim, paradoxalmente, a recomendação é seguir apostando nas ações norte-americanas.
O nó da vez: tarifas
“Se os atuais níveis de tarifas forem mantidos, esperamos uma contração econômica nos EUA ainda neste ano”, diz o relatório, assinado pelos principais nomes da casa – entre eles Jean Boivin, Wei Li e Nicholas Fawcett. Não por acaso, o título do comentário semanal é “Binding economic rules” – regras econômicas rígidas. A lógica é clara: cadeias globais de suprimento não se reorganizam do dia para a noite, e qualquer tentativa brusca de isolamento comercial tem efeitos colaterais graves.
Os dados de março já mostravam sinais de um corre-corre nas importações norte-americanas, com empresas estocando insumos antes da entrada das tarifas. Esse comportamento provocou um salto nos volumes importados e um acúmulo de estoques – uma calmaria antes da tormenta.
Fed entre a cruz e a espada
O recado ao Federal Reserve também é direto: prepare-se para um dilema ainda mais desconfortável do que o habitual. A inflação, pressionada pelas novas tarifas e pelas disfunções logísticas, não dá trégua. Mas a atividade já mostra sinais de enfraquecimento, como revelou o PIB do primeiro trimestre. “Mesmo com a contração que esperamos, não vemos o Fed cortando juros tanto quanto os mercados ainda precificam”, afirma o relatório.
Os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos se mantiveram estáveis na semana passada, mesmo com a forte recuperação das bolsas – o S\&P 500 subiu 3%, embalado por dados robustos de geração de empregos em abril. Mas os estrategistas da BlackRock sugerem cautela: a tempestade não chegou por completo
IA: o motor que não para
Em meio ao cenário incerto, uma engrenagem segue girando sem parar: a inteligência artificial. Ela tem sido o verdadeiro pilar de sustentação do otimismo com as ações nos EUA – e o motivo pelo qual a BlackRock segue com posição “overweight” (acima da média) em papéis norte-americanos e de mercados desenvolvidos.
As gigantes de tecnologia seguem surpreendendo nos resultados trimestrais. Algumas reportaram lucros acima do esperado, impulsionadas pela demanda voraz por soluções baseadas em IA – e já anunciaram novos investimentos no setor. “Isso reforça o papel da mega força da IA em sustentar o desempenho do mercado, mesmo diante de disrupções severas”, diz o comunicado.
No outro extremo da balança, setores como o automotivo, altamente dependentes de peças chinesas, começaram a sentir o baque. Algumas montadoras já revisaram para baixo suas projeções de lucro, citando explicitamente o impacto das tarifas.
Volatilidade à frente
Para a BlackRock, o momento pede ajustes táticos. Em abril, a gestora reduziu sua exposição de risco para um horizonte de três meses. Mas, com a sinalização de uma pausa temporária nas tarifas e a expectativa de mudanças políticas, voltou a adotar um horizonte de seis a doze meses para as estratégias em ações.
No longo prazo, as perguntas continuam abertas: o dólar manterá seu status de porto seguro? O apetite por ativos domésticos continuará a pesar mais que os fundamentos globais? Como se adaptar a um mundo de juros estruturalmente mais altos?
Enxerganfo além da nebulosidade
A mensagem final é de pragmatismo estratégico. As regras rígidas da economia – como a dificuldade de reestruturar cadeias produtivas sem trauma – podem até conter parte dos danos. Mas não há mágica: o curto prazo será volátil, a inflação ainda assombra e o crescimento dos EUA pode tropeçar. Ainda assim, a IA segue como um vetor de transformação poderoso, capaz de manter acesa a esperança – e o apetite – dos investidores globais.
*com informações da BlackRock.
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