Em meio à saída de Ciro Gomes rumo ao PSDB, o PDT se reúne em Santa Catarina para discutir o futuro do país. Aos 84 anos, Roberto Requião ressurge como símbolo de resistência e soberania nacional — “um Rolling Stone da política brasileira”, dizem aliados
Por Ronald Stresser — 20 de outubro de 2025
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Roberto Requião (PDT) - Foto: Beto Barata/Agência Senado |
BC (SC) — Nesta segunda, quando o lusco-fusco começar a tomar conta a orla e da Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú, Santa Catarina vai amplificar as vozes pedetista para todos o país. O encontro intitulado “Jangada do Sul: Soberania Nacional e Eleições 2026” promete revelar muito mais que um calendário de eventos: é um retrato do PDT diante de si mesmo.
Neste autoretrato nacional do partido, onde se observam as memórias trabalhistas e a urgência urgentíssima de um projeto para o país, duas figuras encarnam a tensão do momento — o veterano Roberto Requião e o hoje ex-pedetista Ciro Gomes, cuja filiação ao PSDB anuncia novos rumos.
Uma tradição que busca redefinição
O encontro, aberto ao público e convocado pelo Diretório Municipal do PDT, vai reunir militantes, lideranças e simpatizantes, todas e todos juntos em busca de uma pergunta simples e crucial: quem pode carregar a bandeira pedetista em 2026?
A pauta, segundo os organizadores, é revisitar os pilares de soberania, independência econômica e valorização do trabalho — temas que remontam à própria gênese do movimento trabalhista no Brasil.
Os anfitriões locais, Allan Müller Schroeder e a vereadora Ciça Müller, ditam o ritmo: recuperar a conexão do partido com a base real, com as dores e as esperanças de quem constrói o país no dia a dia. “Falar de soberania é falar de dignidade, de educação pública, de trabalho e de justiça social” — declarou Ciça à uma reportagem local — oferecendo ao público a imagem de um PDT que sonha em ser ao mesmo tempo memória, releitura e esperança de futuro.
Requião: a experiência como argumento
Roberto Requião, com trajetória que engloba prefeituras, governos estaduais e o Senado, aparece no centro da conversa como uma voz conhecida do povo brasileiro — uma voz que, para muitos, tem autoridade e consistência. Aos 84 anos, Requião é descrito por aliados como alguém “em turnê política”, sempre presente em palanques e debates, e que não se deixa resumir à cronologia das datas. “Ele é como um Rolling Stone”, resume um amigo — metáfora que traz um ponto claro: idade não seria obstáculo quando a energia é canalizada pela experiência e pela coerência histórica.
Há, porém, outra leitura. Para críticos, a idade levanta dúvidas sobre a capacidade de atrair novos públicos e dialogar com um eleitorado que busca renovação, narrativa que pode perfeitamente ser desmontada quando olhamos o contexto familiar do político. Seu filho, o deputado estadual Requião Filho (PDT-PR), hoje com 45 anos, dialoga bem com estes públicos e é pré-candidato ao Governo do Estado do Paraná, e está muito bem colocando nas pesquisas de intenção de voto.
No balanço entre memória e futuro, a possível escolha de Requião colocaria o PDT na trilha de uma candidatura de marca clássica, nacionalista e trabalhista — uma aposta de firmeza, mas também, como toda campanha à Presidência da República, de riscos estratégicos.
Ciro Gomes: o que a filiação diz
A filiação de Ciro Gomes ao PSDB — que será formalizada em cerimônia marcada para quarta (22), em Fortaleza (CE) — é um fato que reverbera em Balneário Camboriú. Ciro, figura de longa trajetória nacional, deixa o PDT em um momento em que o partido debate candidatura própria. Sua saída simboliza perda de capilaridade e também a obrigação de reformular uma estratégia política sem uma de suas vozes mais atuantes.
Para o PDT, o movimento amplia a necessidade de refletir: seguir com candidatura própria ou construir alianças que garantam relevância eleitoral? A resposta, no encontro desta noite, pode não vir pronta, mas certamente orientará o tom nas próximas semanas.
O dilema — continuidade ou oxigenação?
Na prática, o partido encara duas escolhas difíceis. Confirmar Requião seria afirmar identidade e experiência. Buscar outro nome, mais jovem ou com maior apelo entre novos públicos, significaria admitir um processo de oxigenação — arriscado em termos de coesão interna, porém talvez necessário para voltar a disputar competitivamente no plano nacional.
As informações que circulam nos bastidores do evento são auspiciosa para Roberto Requião, e traduzem o clima: há força de memória, de luta e vontade de agir, mas também há uma uma tensão evidente sobre como transmutar isso em votos. Em um momento político marcado por deslocamentos partidários e por um eleitorado polarizado, que mistura nostalgia e impaciência, o PDT tenta, na Jangada, entender sua travessia.
O que olhar nas próximas semanas
- O anúncio formal do PDT sobre candidatura própria ou apoio — como e quando será feito.
- Qual discurso prevalecerá: a reafirmação da marca trabalhista-soberanista ou a abertura para renovação e alianças.
- Como o eleitorado regional, especialmente no Paraná (Sul) e no Ceará (Nordeste), reagirá aos movimentos de Requião e Ciro no tabuleiro da política nacional.
Uma travessia que é, ao mesmo tempo, memória e futuro
Na Câmara de Balneário Camboriú, as luzes se apagam e as conversas seguem. O PDT, partido com história e tradição, experimenta um momento de transição em que escolhas simbólicas terão consequências práticas. Roberto Requião representa a tradição — o fio histórico do trabalhismo que se recusa a baixar a guarda. Ciro Gomes encarna a fratura e o recomeço, um movimento que leva parte do protagonismo para outras margens do campo político.
Em última instância, a grande pergunta colocada pelo encontro permanece aberta: que Brasil o PDT quer defender em 2026? O Brasil da memória histórica do trabalhismo, da luta popular, da ordem e do progresso, ou o Brasil recriado por nareativas e alianças planejadas por políticos e marqueteiros apenas para vencer eleição. As respostas começarão a aparecer esta semana, mas a imagem fica: uma jangada no mar da política, lançada agora, navegando entre correntes de memória e ventos de futuro.
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