quinta-feira, 16 de outubro de 2025

“Quando a fábrica cala, a alma fala” — SMC reúne vozes para enfrentar a crise de saúde mental no trabalho

Crise silenciosa nas fábricas: seminário do SMC expõe avanço dos transtornos mentais e pede urgência no cuidado com os trabalhadores

Auditório Diamiro Cordeiro da Fonseca (SMC) - 10/10/25 - Divulgação 

Na manhã da última sexta-feira, dia 10 de outubro — quando o país celebrou o Dia Nacional da Saúde Mental e Psicossocial, que se alinha ao Dia Mundial da Saúde Mental — o auditório do SMC virou sala de acolhimento e debate público. Não foi apenas mais um seminário técnico: foi um encontro onde se respirou a urgência de lembrar que, por trás das máquinas e metas, há corpos cansados e histórias que pedem cuidado.

O seminário “Saúde Mental e Psicossocial no Trabalho: Caminhos e Desafios” reuniu trabalhadores, lideranças sindicais, especialistas em saúde do trabalhador e representantes de órgãos públicos. Transmitido pelas redes do Sindicato, o evento buscou construir, com palavras e propostas, uma ponte entre a realidade das fábricas e as políticas públicas necessárias para cuidar da vida.

“Priorizar a saúde mental é garantir dignidade ao trabalho”

Na abertura, o presidente do SMC, Sérgio Butka, colocou a questão com clareza: “Não dá mais para tratar saúde mental como assunto secundário nas negociações coletivas. Ela é parte da dignidade do trabalho.” A frase, simples, reverberou. Para quem trabalha sob pressão de metas, jornadas exaustivas e incertezas, reconhecer a fragilidade emocional como pauta de negociação é começar a transformar o cotidiano.

Diálogo entre instituições e práticas

O Seminário foi construído para escutar e para propor. O coordenador de Saúde e Segurança do SMC, Osvaldo Silveira, disse que o objetivo era ampliar o diálogo sobre bem-estar e condições de trabalho nas indústrias: “Cuidar do trabalhador é cuidar do futuro da própria produção.”

Do campo institucional, vieram contribuições que misturam técnica e compromisso. A superintendente regional do Trabalho, Regina Cruz, e Sezifredo Paz, diretor da FEAS, exploraram os desafios de implementar políticas que alcancem quem vive a rotina da indústria. Já a Secretária de Saúde do Paraná, representada por Aline Pinto Guedes, apresentou ações estaduais voltadas ao cuidado do trabalhador — lembretes concretos de que políticas públicas podem aliviar o sofrimento quando chegam às pontas.

O que as empresas podem fazer

A médica Daniela Isoyama Manca di Villahermosa, da Renault do Brasil, trouxe um olhar prático: programas de prevenção, formação de lideranças para reconhecer sinais precoces, espaços de escuta e ajustes organizacionais que diminuam pressão e estresse. Não se trata apenas de “bem-estar” cosmético; trata-se de construir rotinas que respeitem limites humanos.

Da notificação ao reconhecimento

O coordenador Luiz Antônio Bittencourt Teixeira trouxe uma discussão técnica, porém fundamental: a obrigatoriedade das notificações de agravos e acidentes relacionados à saúde ocupacional. Registrar, nomear e monitorar — palavras administrativas que significam reconhecimento. Sem dados e notificações, o sofrimento permanece invisível; com eles, surgem responsabilidades e possibilidades de intervenção.

Justiça, prevenção e experiências públicas

O perito do Ministério Público do Trabalho, Elver Andrade Moronte, detalhou as ações do MPT para promover a saúde mental no trabalho, lembrando que medidas preventivas também têm força jurídica. Encerrando a série de apresentações, Amanda Macedo, do SESMT da FEAS, expôs experiências práticas na rede pública de Curitiba — exemplos de como o cuidado se faz no cotidiano, com pequenas iniciativas que somadas mudam trajetórias.

Escuta que transforma

No momento de perguntas, o público trouxe dúvidas, relatos e angústias. O debate final, coordenado pelo médico do trabalho e assessor do Departamento de Saúde e Segurança do SMC, Dr. Zuher Handar, reafirmou uma mensagem repetida no dia: falar sobre saúde mental é tirar o silêncio de cena. “Falar sobre saúde mental é romper o silêncio. É enxergar o ser humano por trás da função que ele exerce”, disse Zuher.

“Quando a fábrica cala, a alma fala.” — frase ouvida ao final do encontro, que sintetiza o que o seminário buscou provocar: atenção, ação e cuidado.

Por que isso importa

O aumento de transtornos mentais relacionados ao trabalho não é estatística distante: é colega que falta, é mãe que chora no intervalo, é operador que perde dias de vida produtiva porque a mente foi embora. O seminário do SMC não propôs soluções mágicas, mas reafirmou caminhos: políticas públicas efetivas, negociação sindical com cláusulas de saúde mental, formação de gestores, sistemas de notificação e, sobretudo, uma mudança cultural que veja no trabalhador um ser humano inteiro.

Encaminhamentos e um chamado

Saímos do Auditório Diamiro Cordeiro da Fonseca com uma certeza: prevenção exige continuidade. O SMC sinalizou para a inclusão das pautas de saúde mental nas negociações coletivas; instituições presentes se comprometeram a estreitar canais; e a comunidade de trabalhadores ganhou um espaço de fala. Mas o chamado é amplo — para patrões que ainda negam o problema, para gestores públicos que precisam transformar discursos em orçamento, e para a sociedade que pode ajudar a derrubar o estigma.

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