A promessa da picanha e da cachaça virou ilusão: Brasil lidera juros reais e trava crescimento - por Ronald Stresser
"Se todo mundo tiver emprego e salário, todo mundo vai ter direito a tomar uma cachacinha e comer uma picanha no final de semana." A frase de Lula, dita ainda na campanha de 2022, acendeu um sonho em milhões de brasileiros. Um Brasil próspero, onde o trabalhador pudesse desfrutar daquilo que, no imaginário popular, é sinônimo de fartura e dignidade. Mas três anos depois, a realidade impõe um choque de frustração: o país lidera o ranking mundial de juros reais, enfrenta uma carga tributária sufocante e um mercado de trabalho que, ao invés de ascender, empurra formados para a informalidade e subempregos.
Brasil: campeão dos juros reais no mundo
Os números não mentem. Com a decisão da Argentina de reduzir sua taxa básica para 29%, o Brasil passou a ostentar a liderança do ranking de maiores juros reais do planeta. Segundo levantamento do MoneYou, enquanto a Argentina agora tem juros reais de 6,14%, os do Brasil dispararam para 9,18%, superando até a Rússia (8,91%).
Isso significa que, ao descontar a inflação da taxa de juros, o país tem o custo do dinheiro mais alto do mundo. Para os cidadãos comuns, isso se traduz em crédito inacessível, empresas sufocadas e um mercado de trabalho cada vez mais restrito. É a antítese da "cachaçinha e picanha": ao invés de crescimento e consumo, o Brasil tem um cenário de austeridade imposta pelo próprio governo.
De quem é a culpa?
Durante anos, o PT apontou Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, como o grande vilão dos juros altos. Gleisi Hoffmann, presidente do partido, chegou a acusá-lo de "sabotagem contra o Brasil". Mas agora, com os indicados de Lula formando a maioria do Copom (Comitê de Política Monetária), a taxa segue elevada, e o discurso de culpabilização começa a ruir. Se antes a justificativa era que o BC trabalhava contra o governo, agora, com os aliados do Planalto no controle, a pergunta inevitável é: quem está sabotando o país?
A resposta pode estar na própria estrutura econômica desenhada pelo governo. A carga tributária continua pesando sobre as empresas e os trabalhadores, a industrialização segue travada, e os cortes de gastos miram áreas sociais enquanto os juros da dívida pública crescem sem freios. O resultado? Um país onde 76,7% das famílias estão endividadas, 25% têm dívidas em atraso e 67% dos brasileiros não possuem sequer uma reserva de emergência.
Formados no braçal, economia no atraso
Enquanto isso, o mercado de trabalho expõe mais uma contradição da narrativa oficial. A promessa de empregos de qualidade se esfarela diante de um cenário onde profissionais altamente qualificados são forçados a recorrer a trabalhos braçais para sobreviver.
A falta de investimento na indústria, aliada a um ambiente de negócios sufocado por tributos e juros altíssimos, empurra jovens graduados para funções que não exigem formação superior. O governo, que tanto falou em prosperidade, hoje se vê incapaz de criar um ambiente que garanta o mínimo: oportunidades condizentes com a qualificação da população.
Austeridade seletiva e o peso sobre os mais pobres
Se a gestão petista sempre criticou a "agenda neoliberal" e os cortes sociais, sua política econômica mostra que a austeridade não foi deixada de lado — apenas mudou de endereço. Enquanto bilhões são torrados no pagamento de juros da dívida pública, o país vê cortes em investimentos estratégicos e sociais, aprofundando desigualdades e abrindo caminho para uma privatização forçada dos serviços públicos.
Em outras palavras, o governo se apega ao discurso da distribuição de renda, mas, na prática, joga nas costas dos mais pobres o peso de uma economia estagnada. Se há um adversário da prosperidade no Brasil atual, não são os banqueiros ou os empresários — mas a própria incompetência governamental.
O que sobrou da promessa da "cachaçinha e picanha"? Para milhões de brasileiros, apenas um prato de feijão com farinha e, no lugar do café, um amargo chá da desilusão.
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