sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Lula na Malásia: entre a diplomacia dos grandes números e a conversa que pode redefinir o jogo para o Brasil

Presidente Lula desembarca em Kuala Lumpur para reunião de cúpula da ASEAN — na bagagem a expectativa de milhões de brasileiros e brasileiras do eminente encontro com Donald Trump, presidente dos Estados Unidos 

Ronald Stresser — 24 de outubro de 2025

Presidente Lula e primeira-dama Janja da Silva desembarcam em Kuala Lumpur para a cúpula da ASEAN. (Foto: Presidência da República-Brasil)

A imagem que se repete nos corredores do Kuala Lumpur Convention Centre é simples, quase cinematográfica: líderes entrando e saindo de portas com placas douradas, assessores correndo atrás, tradutores sussurrando frases. No meio desse movimento — de cúpulas que nascem para decidir preços, tarifas e alianças estratégicas — está o presidente Lula, cuja agenda nesta visita à Malásia mistura o cotidiano pesado da diplomacia econômica com um elemento só aparentemente mais leve: um encontro direto com Donald Trump.

A visita de Lula a Kuala Lumpur, primeiro roteiro oficial do Brasil como convidado da presidência rotativa da ASEAN, tem objetivo claro: transformar declarações em contratos, apertos de mãos em projetos concretos nas áreas de comércio, tecnologia, energia renovável e ciência. Autoridades malaias já anunciaram recepções formais e conversas bilaterais previstas com o primeiro-ministro Anwar Ibrahim, sinalizando interesse em ampliar laços em semicondutores, agronegócio halal, saúde e educação.

Mas o que vem mantendo boa parte das atenções é outro nó diplomático: a chance de Lula e Trump selarem um aperto de mão público e algum tipo de acordo de base que alivie as tensões comerciais que marcaram os últimos meses. Desde a imposição de tarifas americanas sobre produtos brasileiros até episódios políticos que azedaram o tom entre Brasil e EUA, a relação passou por fases de ruído que hoje tentam dar lugar a sinais de normalização.

Por que esse encontro importa para o Brasil — e para quem está no chão da economia

No papel, um encontro entre Lula e Trump é um encontro entre agendas: o Brasil quer exportar mais, proteger cadeias produtivas e reabrir canais de investimento e cooperação tecnológica; os Estados Unidos, por sua vez, procuram parceiros em cadeias de semicondutores, minerais raros, energia e segurança geopolítica na Ásia. O que pode sair dessa conversa, na prática, tem efeitos mensuráveis: redução ou suspensão de tarifas punitivas, facilitação de investimentos americanos em indústrias brasileiras, acordos de cooperação científica e até sinais políticos que afetam expectativas de mercado.

Há também o efeito simbólico. Depois de meses de ruído — marcado por medidas punitivas e retórica dura — um encontro cordial e produtivo poderia reabrir portas para negociações setoriais (especialmente em tecnologia e semicondutores, caros à economia asiática e fundamentais para a indústria brasileira que busca expansão e modernização). Um aperto de mãos com Trump poderia facilitar o retorno de investimentos internacionais que vinham mantendo distância em função da incerteza política e do risco de barreiras comerciais.

O elemento humano por trás da mesa

Ainda que tratemos de commodities,, energia, tarifas e terras raras, a conversa entre presidentes é, no fundo, sobre confiança — e confiança se constrói com acordos que sobrevivem aos noticiários. Fontes próximas às delegações descrevem conversas longas e insistentes sobre — ao mesmo tempo — o pragmatismo econômico e o respeito às soberanias nacionais. Para Lula, a pauta não é apenas comercial: passa por defender projetos de desenvolvimento que toquem comunidades rurais e polos industriais; para Trump, a balança pende para garantir empregos e segurança das cadeias tecnológicas americanas. É nessas bordas que se definem os detalhes que, no fim, mudam contratos e geram impactos para toda população.

O que pode acelerar — e o que pode emperrar — um acordo

Há três fatores que podem acelerar um resultado concreto: 1) vontade política demonstrada em público por ambos os líderes; 2) celeridade técnica de equipes econômicas para transformar intenções em textos de entendimento; 3) disposição de mercados e empresas a aceitar fórmulas de transição (isenções temporárias, programas de co-investimento, revisão de regras de conteúdo local). Mas existem riscos claros: pressões domésticas nos EUA por protecionismo, reticência de setores brasileiros sobre compromissos que impliquem perda de autonomia industrial, e a complexidade de coordenar medidas que dependendo da área exigem trabalho árduo e dependem de longos processos.

No fim do dia: resultados concretos para ambos os países

Se a conversa resultar em avanços o efeito pode chegar ao bolso do brasileiro em poucos meses: mais empregos industriais, aumento das exportações com valor agregado e maior oferta de tecnologia em setores que hoje cobram caro por importações. Além disso, a normalização diplomática tende a reduzir o risco-país e a trazer previsibilidade para contratos públicos e privados. Para muitos, porém, o teste será ver medidas que combinem crescimento com inclusão, ou seja, investimentos que cheguem a regiões fora dos grandes centros.

No fim do dia, a fotografia que veremos — se houver encontro — será menos importante do que o que vier depois dela. Um jantar, um aperto de mãos e algumas frases afáveis na frente das câmeras não garantem, por si só, mudança estrutural. O desafio para Lula e para qualquer parceiro internacional é traduzir o gesto diplomático em políticas, contratos e projetos que sobrevivam aos ciclos eleitorais e às manchetes. É aí que se mede o legado real de uma visita como esta: nas estradas que se pavimentam, nas fábricas que abrem e nos contratos que assinam o possível início de uma nova história entre Brasil e Estados Unidos.

  • Com informações da Reuters; Bernama; Malay Mail; Departamento de Estado dos EUA; Politico; Brookings Institution.

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