A democracia à beira do abismo: os bastidores da tentativa de golpe que quase mudou o Brasil
Por Ronald Stresser
A democracia à beira do abismo: os bastidores da tentativa de golpe que quase mudou o Brasil
Por Ronald Stresser| Os golpistas Bolsonaro, Braga Netto e Ramagem - Pablo Jacob/Ag. O Globo, Isac Nóbrega/PR e Valter Campanato/Ag. Brasil |
O dia 18 de fevereiro de 2025 marca um novo capítulo na história do Brasil – um capítulo sombrio, mas necessário para que o país nunca mais flerte com o autoritarismo. A Procuradoria-Geral da República (PGR), através de seu procurador Paulo Gonet, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma denúncia devastadora, realmente bombástica: um minucioso dossiê, uma denúncia baseada em robusto conjunto probatório, que expõe, detalhadamente, como o país esteve perigosamente próximo de ver sua democracia ruir.
O ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 34 nomes de seu círculo mais íntimo, entre eles os generais Augusto Heleno e Braga Netto, foram formalmente acusados de orquestrar o que a PGR chamou de "conspirata" – uma trama calculada, sem improviso ou hesitação, que atravessou anos e se desenrolou nos bastidores do poder com um único objetivo: impedir a transição democrática por meio de um golpe de Estado.
A denúncia revelou que essa tentativa de ruptura institucional não foi um delírio momentâneo de um governo acuado. Ao contrário, foi um plano meticuloso, baseado na desinformação, na manipulação das instituições e na pressão sistemática sobre as Forças Armadas. O Brasil, como mostram os documentos da investigação, esteve a um fio de se transformar em uma ditadura moderna. Mas a engrenagem golpista falhou.
O nascimento de um plano perigoso
Os primeiros sinais de que algo maior estava em curso surgiram ainda em 2021, quando Bolsonaro iniciou uma ofensiva sem precedentes contra o sistema eleitoral. De discursos inflamados a lives recheadas de mentiras sobre as urnas eletrônicas, cada movimento servia para plantar a semente da dúvida em sua base mais fiel. O recado era claro: se perdesse, não aceitaria o resultado.
A reabilitação política de Lula, com a anulação de suas condenações pelo STF, acendeu o alerta máximo dentro do Palácio do Planalto. Com a volta do petista ao jogo, o projeto de poder de Bolsonaro estava em risco. E, a partir dali, cada ato do governo passou a ser guiado por um único temor: a derrota nas urnas.
O 7 de setembro de 2021 foi um divisor de águas. Diante de uma multidão na Avenida Paulista, o então presidente escancarou sua disposição de confrontar as instituições. "Só saio preso ou morto", vociferou, enquanto ameaçava o Supremo Tribunal Federal. Era o prenúncio do que viria a seguir.
A radicalização e o empurrão final
Nos meses que antecederam as eleições de 2022, o cenário se tornou ainda mais sombrio. Grupos estratégicos dentro do governo passaram a discutir alternativas para evitar a posse de Lula. De reuniões ministeriais sigilosas a tentativas de manipulação da comunidade internacional, tudo estava sendo cuidadosamente preparado para justificar um golpe.
A PGR revelou que, em julho de 2022, o general Augusto Heleno fez uma declaração emblemática: "Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições." O plano estava em marcha.
A Polícia Rodoviária Federal, um órgão essencialmente técnico, foi instrumentalizada para dificultar o voto de eleitores do Nordeste – uma última cartada desesperada para reverter a iminente derrota. Mas não foi suficiente. Em 30 de outubro de 2022, Lula venceu. E, em vez de reconhecer o resultado, Bolsonaro e seu círculo íntimo decidiram dobrar a aposta.
O golpe que não aconteceu – e o que quase aconteceu
O que veio a seguir foram semanas de tensão máxima. Acampamentos golpistas se espalharam pelo país, com manifestantes pedindo intervenção militar. Enquanto isso, nos bastidores, planos sombrios eram traçados. Segundo as investigações, houve até mesmo a ideia de um plano secreto para assassinar Lula, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes – um ato extremo para abrir caminho ao golpe.
Mas o exército, que era peça-chave nessa engrenagem, não aderiu. Pressionados por oficiais bolsonaristas, os generais de alto escalão resistiram. E, sem a adesão militar, o plano desmoronou.
O golpe fracassou. Mas a democracia saiu ilesa?
O futuro que se desenha
O dia 8 de janeiro de 2023 foi o último e mais violento capítulo dessa história. Uma invasão coordenada aos prédios dos Três Poderes tentou criar o caos necessário para justificar uma intervenção militar. Mas a resposta das instituições foi rápida. Com prisões, investigações e o fortalecimento das regras democráticas, o país mostrou que, desta vez, não cederia à barbárie.
Agora, com a denúncia da PGR, a história dá mais um passo rumo à justiça. A delação de Mauro Cid trouxe evidências irrefutáveis de que Bolsonaro e seus aliados atuaram diretamente para minar a democracia. O cerco se fecha. E, com ele, surge uma pergunta inevitável: a justiça será feita antes que um novo ciclo de autoritarismo tente se erguer?
O relógio segue correndo. Tic-tac...

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