Trump demite procuradores federais e escancara guerra contra o Departamento de Justiça - Decisão inédita rompe tradições e intensifica clima de perseguição política nos EUA
Por Ronald Stresser
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Presidente dos EUA, Donald Trump, assina decretos no Salão Oval da Casa Branca Jim WATSON / POOL / AFP |
O silêncio nos corredores do Departamento de Justiça foi rompido na manhã de segunda-feira (27) por telefonemas inesperados e mensagens curtas, mas devastadoras: mais de uma dúzia de procuradores federais estavam oficialmente demitidos. O motivo? Terem participado de investigações e processos criminais contra o presidente Donald Trump.
A decisão, tomada pelo procurador-geral interino James McHenry, não apenas desmontou uma equipe de carreira respeitada, mas também lançou um sinal claro: o novo governo está disposto a reescrever as regras para garantir que o Departamento de Justiça funcione sob sua ótica de lealdade inquestionável.
Para muitos dos dispensados, a notícia não foi exatamente uma surpresa. Desde que reassumiu a Casa Branca, Trump deixou evidente que seu retorno ao poder viria acompanhado de uma profunda purga nos bastidores do governo. O alvo? Qualquer um que tenha se colocado no caminho de sua absolvição política e jurídica.
O peso da retaliação
Entre os demitidos estavam procuradores que trabalharam diretamente com Jack Smith, o advogado especial responsável por duas das investigações mais explosivas da história recente dos EUA: a tentativa de Trump de reverter o resultado das eleições de 2020 e a retenção de documentos ultrassecretos em sua propriedade em Mar-a-Lago. Ambos os casos foram arquivados logo após a vitória eleitoral do republicano, mas o ressentimento do presidente permaneceu vivo.
A ação de segunda-feira não foi um episódio isolado. Desde sua posse, Trump já havia promovido uma verdadeira dança das cadeiras dentro do Departamento de Justiça, removendo funcionários de longa data e substituindo-os por aliados. Mas desta vez, a mensagem foi ainda mais forte: não basta estar fora das investigações, é preciso pagar um preço por tê-las conduzido.
"Essas pessoas não podem ser confiáveis para implementar fielmente a agenda do presidente", afirmou um funcionário do governo em condição de anonimato. "Estamos corrigindo anos de abusos e politização do Departamento de Justiça."
A justificativa oficial? O compromisso do governo em acabar com a "instrumentalização" da Justiça contra Trump. Mas, para críticos e especialistas, o movimento tem outro nome: vingança.
Ruptura sem precedentes
Nos Estados Unidos, procuradores de carreira são tradicionalmente blindados contra mudanças políticas. O motivo é simples: garantir que a Justiça não seja manipulada ao sabor de quem ocupa a Casa Branca. O que aconteceu nesta segunda-feira, no entanto, rompeu essa norma de maneira brutal.
Nunca antes na história recente um presidente havia demitido uma quantidade tão grande de procuradores pelo simples fato de terem feito seu trabalho. A decisão causou choque até mesmo entre republicanos moderados, que temem que o Departamento de Justiça esteja sendo transformado em um braço pessoal do presidente.
"A lei deve ser maior do que qualquer indivíduo, inclusive o presidente", afirmou um ex-funcionário do departamento, sob anonimato. "O que estamos vendo agora é um esforço para reescrever essa premissa fundamental."
Efeito dominó
A demissão em massa levanta uma série de questões preocupantes. Quem será o próximo alvo? Até que ponto o governo está disposto a ir para reconfigurar a estrutura do Judiciário? E, acima de tudo, o que isso significa para o futuro das investigações sobre Trump?
O próprio Jack Smith já havia renunciado ao cargo no início do mês, assim como Jay Bratt, outro nome-chave nos casos contra o presidente. Com isso, a rede de procuradores que ousou desafiar Trump vai, pouco a pouco, sendo desmontada.
Mas a questão que ecoa nos corredores do Departamento de Justiça e entre juristas de todo o país é ainda mais profunda: se um presidente pode demitir investigadores que um dia ousaram processá-lo, o que o impede de fazer o mesmo com juízes, agentes do FBI e qualquer outro funcionário público que cruze seu caminho?
Prenúncio de um governo autoritário
A Casa Branca de Trump não está apenas consolidando o poder — está moldando as instituições para que jamais sejam um obstáculo para ele novamente. A nomeação de Pam Bondi como procuradora-geral é um exemplo claro disso. Durante sua audiência de confirmação, ela garantiu que não usaria o cargo para perseguições políticas, mas não descartou abrir investigações contra adversários do presidente, incluindo Jack Smith.
O que começou como uma promessa de "drenar o pântano" agora se parece cada vez mais com a construção de um novo império, onde a lealdade pessoal supera qualquer compromisso com a Justiça.
Enquanto os demitidos tentam entender o que fazer a seguir — e se podem recorrer legalmente contra as exonerações —, uma certeza se instala: o Departamento de Justiça nunca mais será o mesmo.
E, para muitos, esse pode ser apenas o começo.
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