Escalada de violência contra indígenas Avá Guarani expõe descaso com promessas de demarcação de terras no Paraná
Por Ronald Stresser
Ivan Kaingang, liderança indígena paranaense em Brasília - Arquivo/Sulpost |
Nos últimos dias, a Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, localizada entre Guaíra e Terra Roxa, no oeste do Paraná, foi palco de uma série de ataques violentos que deixaram indígenas Avá Guarani feridos, além de famílias desabrigadas e devastação de barracos e plantações. A escalada de violência, iniciada em 29 de dezembro de 2024, reflete a grave omissão das autoridades na proteção dos povos originários e o atraso no cumprimento da promessa de demarcação de terras feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante sua campanha eleitoral.
Ataques em sequência
A série de agressões começou na noite de domingo, 29 de dezembro, quando pistoleiros incendiaram vegetação, barracos e plantações, dispararam armas de fogo e lançaram bombas contra a comunidade. No dia seguinte, 30 de dezembro, uma indígena sofreu queimaduras no pescoço durante um novo ataque.
Na noite de 31 de dezembro, quase à virada do ano, a violência atingiu outro patamar: pistoleiros atearam fogo em barracos e realizaram disparos com munição letal. Um indígena foi baleado no braço e precisou ser transferido para o hospital Bom Jesus, em Toledo, a mais de 100 km de distância. A comunidade relatou que os ataques eram planejados, com pistoleiros posicionados estrategicamente em pontos ao redor da aldeia.
A sequência culminou em 3 de janeiro, quando pistoleiros novamente cercaram o tekoha. Dessa vez, quatro pessoas ficaram feridas, incluindo uma criança de 4 anos baleada na perna, um jovem alvejado nas costas, outro indígena ferido na perna e um homem atingido no maxilar por munição de grosso calibre. As vítimas foram levadas para hospitais em Toledo e Cascavel, mas a tensão na região só aumentou.
Contexto de vulnerabilidade
A Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá foi delimitada em 2018, mas o processo de demarcação foi interrompido em 2020 por decisões judiciais. Apenas em 2024, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) retomou o processo de regularização. Apesar disso, as comunidades continuam desprotegidas, vulneráveis à violência e enfrentando dificuldades para acessar recursos básicos como água potável e alimentos.
Lideranças indígenas e organizações como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) apontam que a lentidão na demarcação agrava os conflitos fundiários. “Foram avisados de que corríamos risco, mas nada foi feito. Precisamos de proteção urgente”, declarou Karai Okaju, uma das lideranças locais, apoiado por outra grande liderança indígena do Paraná, o petista Ivan Kaingang.
Resposta das autoridades
Após os ataques, a Justiça Federal determinou o reforço da segurança na região, ordenando a ampliação do efetivo da Polícia Federal, da Força Nacional e da Polícia Militar. No entanto, indígenas criticam a demora na ação e questionam a eficácia das medidas. “Precisamos enterrar um parente para provar que estamos sendo atacados?”, questionou uma liderança após o ataque que feriu a criança de 4 anos.
O Ministério da Justiça afirmou que desde novembro de 2024 a Força Nacional está presente na região e anunciou o aumento do efetivo em 100% após os últimos episódios de violência. O governo do Paraná também intensificou o policiamento e cobrou uma solução definitiva do governo federal.
Promessa não cumprida
A violência crescente expõe a falha do governo em cumprir a promessa de demarcar terras indígenas, uma das bandeiras da campanha de Lula. Enquanto o processo de regularização segue travado, os Avá Guarani enfrentam o cerco de pistoleiros e o desamparo estatal.
A urgência da situação demanda mais do que reforço policial: é necessário acelerar a demarcação das terras e implementar políticas de proteção efetivas para os povos indígenas. Para os Avá Guarani, a terra não é apenas um espaço físico, mas um pilar de sua existência e cultura.
Enquanto a violência continuar, o Brasil seguirá em dívida com seus povos originários. Até quando será assim? É claro como cristal wur a demarcação das terras indígenas no Paraná não vão apenas restituir o solo que é de direito às nações indígenas do estado, vão trazer a paz para a região. Ninguém mais quer ver cenas como as do vídeo abaixo, registradas durante o confronto mais recente se repetirem.
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