sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Dólar em alta, Brasil em alerta

A luta do real contra a tempestade do dólar: o impacto no dia a dia e os bastidores de um leilão histórico - por: Ronald Stresser

 
 

Na manhã quente de uma quinta-feira, o Brasil acordou com mais uma notícia que parecia um déjà-vu dos piores momentos econômicos da última década: o dólar batendo a casa dos R$ 6,30. Naquele momento, para Maria Clara, 32 anos, dona de uma pequena loja de importados em São Paulo, isso não era só um número em um gráfico.

“Cada centavo a mais no dólar é um cliente a menos. Eu compro tudo lá fora. Agora, como vou vender aqui sem triplicar o preço?”, desabafou Maria Clara.  

Essa disparada da moeda americana não é apenas uma questão de economia abstrata. Ela invade os supermercados, os postos de gasolina, os planos de viagem, e até os sonhos de quem só queria um pouco de estabilidade. "Eu já troquei o pão francês pelo pão caseiro, a carne virou frango, e agora estou pensando em trocar o gás por fogão à lenha”, brincou, sem muito humor, o aposentado João Carlos, de 68 anos, morador do interior de Minas.  

O governo reage 

Enquanto milhões de brasileiros sentiam o impacto no bolso, em Brasília, a movimentação era intensa. O Banco Central decidiu agir pesado. Em uma operação que entrou para a história, foram leiloados mais de US$ 8 bilhões em dólares à vista – a maior intervenção desde o fim da década de 90, quando o Brasil adotou o regime de câmbio flutuante. 

“O mercado financeiro é como um mar revolto. Você não controla as ondas, mas pode ajustar o barco”, explicou um analista financeiro que acompanhava as operações. Com os leilões, o Banco Central conseguiu, ao menos momentaneamente, conter a valorização. No final do dia, o dólar caiu 2,28%, fechando em R$ 6,12.  

Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e uma das vozes mais respeitadas da economia brasileira, foi direto ao ponto:

"Isso não é um ataque especulativo. É um reflexo do cenário fiscal e político incerto. A PEC que o governo tenta aprovar no Congresso é decisiva para o equilíbrio do mercado", afirmou Meirelles em entrevista ao jornal O Globo.

Mas e o futuro? 

Mesmo com a intervenção bem-sucedida, a pergunta que ecoa nos mercados, nas mesas de jantar e nas ruas é: até quando o governo consegue segurar essa onda? A injeção de bilhões no mercado cambial pode aliviar a pressão de curto prazo, mas não resolve a origem do problema: a desconfiança sobre as contas públicas e a falta de clareza nas políticas econômicas do governo. 

A alta acumulada de 29% no dólar ao longo de 2024 é reflexo de um ano difícil, marcado por crises políticas e fiscais. Enquanto isso, os brasileiros tentam encontrar maneiras criativas de lidar com os impactos. “O jeito é se adaptar. Vamos apertando daqui, cortando dali, e torcendo para que as coisas melhorem”, resume Maria Clara, antes de voltar a calcular, pela décima vez no dia, os novos preços dos seus produtos. 

Para ela, para João Carlos e para milhões de brasileiros, o dólar a R$ 6,30 é mais que um número assustador. É um lembrete de que, em meio à tempestade econômica, o Brasil ainda luta para manter o equilíbrio entre os ventos do mercado global e as necessidades do dia a dia. 

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