Ao formalizar apoio aos projetos dos Núcleos de Cooperação Socioambiental, a Binacional devolve voz e poder às comunidades: "Essa é a alma da verdadeira política", afirmou o ministro Guilherme Boulos
Por Ronald Stresser — 01 de dezembro de 2025
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| Itaipu/Divulgação |
Na tarde de quinta-feira, 27 de novembro, um auditório em Foz do Iguaçu reuniu mais do que representantes: trouxe histórias, demandas e esperanças. Ali, entre conversas de corredor e abraços demorados, a Itaipu Binacional formalizou o compromisso de apoiar os projetos elaborados pelos Núcleos de Cooperação Socioambiental (NCS) — iniciativas nascidas do chão, das mesas de comunidade e das rodas de escuta.
O gesto tem forma institucional — uma assinatura no papel —, mas o seu alcance é simbólico: é a devolução do poder de decisão a quem vive os problemas e desenha as soluções. Mais de 1.200 pessoas e representantes de mais de mil organizações do Paraná e do sul do Mato Grosso do Sul estavam presentes para testemunhar o pacto.
Autoridades e vozes da base
A cerimônia teve a presença do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Guilherme Boulos, ao lado do diretor-geral brasileiro da Itaipu, Enio Verri, e outros dirigentes da Binacional e do Ministério do Meio Ambiente. Representando a sociedade civil, Inácio José Werle, presidente da Assesoar, esteve com as lideranças que vieram dizer ao palco o que já tinham dito nas suas comunidades.
Entre os convidados estavam também o diretor de Coordenação da Itaipu, Carlos Carboni; o diretor de Educação Ambiental e Cidadania do MMA, Marcos Sorrentino; o diretor-superintendente do Itaipu Parquetec, Irineu Colombo; e o diretor Administrativo, Iggor Gomes Rocha.
Da mobilização às propostas
Os 21 NCS, criados em 2023 pelo programa de Governança Participativa, abrangem 434 municípios na área de atuação da Binacional. O processo de construção não foi episódico: envolveu seminários, webinars, encontros presenciais e o curso de Desenvolvimento Organizacional, que reuniu 98 instituições. No conjunto, mais de 11 mil pessoas foram mobilizadas nos territórios — um mapa de conversas que gerou projetos com diagnóstico, planejamento e execução participativos.
É nessa trama que se sustentam os novos projetos: gestão hídrica comunitária, agroecologia, economia solidária, educação ambiental, tecnologias sociais e pequenas infraestruturas que respondem à urgência local e respeitam saberes tradicionais. O diferencial é a autoria: as propostas são da própria comunidade.
Palavras que traduzem uma aposta
"Essa é a alma da verdadeira política. É a participação social, é a união para promover uma vida melhor." — Guilherme Boulos
O ministro não apenas elogiou a iniciativa; fez um chamado: empresas e instituições públicas deveriam seguir o exemplo e ajudar as pessoas a se organizarem coletivamente. Para Boulos, a educação é pedra angular da democracia — uma ideia que ecoou entre os presentes, muitos dos quais vêm de regiões acostumadas à ausência do poder público.
Enio Verri, por sua vez, definiu o programa como um exercício de escuta ativa. "Quem pode dizer como a Itaipu pode investir para melhorar a vida das pessoas é a sociedade organizada", disse. Nas suas palavras, está a aposta numa atuação que busca justiça social, fortalecimento regional e soberania nacional.
O que muda no cotidiano
Com o reconhecimento formal dos projetos dos NCS, abre-se caminho para investimentos alinhados às prioridades locais. Não se trata apenas de projetos técnicos: trata-se de restituir voz, de qualificar gestão local e de fortalecer redes que já atuam no dia a dia — associações, cooperativas, escolas e grupos informais que passaram a se articular.
Para moradores e lideranças, a assinatura simboliza que a política pode ser feita com gentileza e firmeza: gentileza para ouvir; firmeza para cumprir compromissos.
Um pacto com futuro
Ao final do encontro, representantes dos 21 núcleos subiram ao palco — gesto que transformou a assinatura num mapa vivo. O pacto assinado é o primeiro passo de uma caminhada que, se bem conduzida, pode mudar a paisagem institucional da região: mais participação, mais protagonismo e políticas mais próximas da realidade.
Naquele fim de tarde em Foz do Iguaçu, Itaipu não apenas assinou um documento. A Binacional plantou uma semente de democracia participativa. Agora, cabe aos territórios regar, cuidar e transformar essa semente em políticas que durem.


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