segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Calçadas que respiram: por que Curitiba aposta nos bloquetes de concreto

Da "pedra que cospe" aos blocos de concreto: a transição silenciosa que redefine acessibilidade, segurança e o futuro das cidades sob chuva

Por Ronald Stresser - 01 de dezembro de 2025

Antiga e nova calcada. Acessibilidade - Ilustração/Sulpost

Há mudanças urbanas que passam quase despercebidas, mas que transformam profundamente a forma como caminhamos pela cidade. Em Curitiba, uma delas está bem debaixo dos nossos pés. Aos poucos, as calçadas tradicionais em petit-pavé — um símbolo da estética curitibana, com sua poesia em mosaico — vêm cedendo espaço para uma solução mais pragmática, mais nivelada e, principalmente, mais segura: os bloquetes de concreto.

À primeira vista, parece apenas uma alteração técnica. Mas basta conversar com quem depende da rua para entender que estamos diante de uma pequena revolução cotidiana. Pessoas com deficiência, idosos, trabalhadores que enfrentam o vai-e-vem diário, mães que empurram carrinhos, ciclistas que desmontam da bike — todos sentem a diferença. O piso mais firme, regular e acessível não é luxo. É cidadania.

Mas existe um ponto decisivo nessa transição que costuma escapar ao senso comum: a relação da calçada com a chuva. Em uma cidade que aprendeu a conviver com temporais repentinos, galerias sobrecarregadas e alagamentos localizados, o tipo de pavimento importa mais do que parece.

Calçadas que funcionam como esponja

Diferentemente das placas totalmente impermeáveis ou do petit-pavé assentado de forma tradicional, os bloquetes de concreto podem — quando instalados com base drenante — funcionar como uma espécie de esponja urbana. A água da chuva não só escorre pela superfície, mas infiltra pelos espaços entre os blocos, alimenta o solo e reduz a pressão sobre o sistema de drenagem.

É uma tecnologia simples, quase humilde, mas poderosa no desenho de cidades que precisam respirar. Quanto mais a água encontra caminhos para voltar ao subsolo, menos ela se acumula onde não deveria. E isso, somado à acessibilidade, ajuda a explicar por que tantas prefeituras brasileiras adotaram os blocos intertravados como padrão.

Curitiba, que sempre foi referência nacional em urbanismo, não ignora o valor histórico do petit-pavé — e ninguém deveria ignorar. Ele faz parte da memória afetiva da cidade. É o chão clássico da Boca Maldita, do Passeio Público, da imagem cartesiana da Curitiba antiga. Mas calçadas precisam, acima de tudo, funcionar para as pessoas.

Entre a poesia e o cotidiano

No fim, a discussão não é sobre abandonar a história, mas sobre garantir que a cidade seja vivida de forma plena. Calçadas não são meros acabamentos urbanos — são os primeiros degraus da cidadania. São a porta de entrada de todos os trajetos. São o espaço onde a vida passa caminhando.

Se os bloquetes oferecem mais segurança, mais nivelamento e ainda ajudam a cidade a lidar com a chuva, é natural que se tornem protagonistas. E isso não precisa apagar a beleza do petit-pavé, que pode seguir preservado em áreas culturais, históricas e turísticas.

Curitiba sempre foi feita de escolhas que conciliam técnica com sensibilidade. Talvez esse seja apenas mais um capítulo dessa tradição — um daqueles que, daqui a alguns anos, veremos como tão óbvio quanto respirar.

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