sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

CPMI do INSS convoca dono do Banco Master e governador Zema — rosto financeiro da necropolítica consigna­da na mira

Quando o sistema financeiro e os barões da direita convergem contra aposentados e pobres — Zema e Vorcaro são convocados a depor à CPMI do INSS

Por Ronald Stresser — 05 de dezembro de 2025

Na sessão desta quinta-feira (4), a CPMI do INSS aprovou a convocação e a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telemático de Daniel Bueno Vorcaro — ex-presidente do Banco Master —, e decidiu também convocar Romeu Zema (governador de Minas Gerais), para que expliquem à comissão as possíveis irregularidades na oferta de empréstimos consignados a aposentados e pensionistas do INSS.

Vorcaro já chegou a ser preso, mas foi libertado, acusado pela Polícia Federal (PF) por supostas fraudes que poderiam atingir até R$ 12 bilhões. O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), apontou que o Banco Master é um dos que mais concentram reclamações sobre empréstimo consignado, especialmente de aposentados e pensionistas.

Paralelamente, o pedido para ouvir o governador Zema foi apresentado pelo deputado Rogério Correia (PT-MG), que argumenta que a empresa da família — a Zema Financeira — foi uma das poucas autorizadas a oferecer crédito consignado a beneficiários da antiga Bolsa Família (à época configurado no programa Auxílio Brasil) por meio da Medida Provisória 1.106/2022.

Em nota enviada à CPMI, Zema afirma que deixou a direção da Zema Financeira após assumir o governo de Minas, em 2018, e que “não há nada a esclarecer” sobre a atuação da empresa — embora Correia destaque que o ex-governador continua como acionista com cerca de 16,41% das ações. Para o deputado, isso não afasta a suspeita de conflito de interesses, sobretudo considerando o contexto de vulnerabilidade social dos beneficiários da política de assistência e aposentadoria.

A decisão, aprovada mesmo com protestos da bancada aliada de Zema, representa um momento crucial para a investigação: a convocação obrigatória dá à CPMI o poder de cobrar esclarecimentos diretos não só de um operador financeiro suspeito de fraude bilionária, mas também de um governante cuja família pode ter lucrado com empréstimos consignados a pobres, aposentados e pensionistas.

O que está em jogo — e por que importa

Para aposentados, pensionistas e famílias vulneráveis, a movimentação da CPMI é uma oportunidade rara de ver expostas práticas de endividamento automático, desconfiança e possível desvio de recursos através de contratos de consignado. Se comprovadas irregularidades, poderão haver reparações e responsabilização de quem lucrou — direta ou indiretamente — em cima de vidas fragilizadas.

Politicamente, a convocação de Zema, apontado como pré-candidato à Presidência da República em 2026, expõe a coesão entre modelos empresariais privados e negócios de crédito consignado voltados a populações vulneráveis — um traço característico da necropolítica praticada pela extrema direita e seus aliados, que utiliza o crédito como arma de exploração sobre os mais pobres.

Mais do que um escândalo financeiro, trata-se de um alerta social: quando lucro e poder se combinam para comprometer os direitos de quem mais depende de segurança e justiça social, a democracia é ferida — e vidas, colocadas à venda.

Próximos passos da investigação

  • A CPMI deve requisitar ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) o envio do relatório de inteligência financeira sobre as movimentações de Vorcaro, para rastrear fluxos de dinheiro suspeitos.

  • Se Zema comparecer ao depoimento, ele terá de explicar, publicamente, seu vínculo — mesmo que societário — com a Zema Financeira, e como a empresa participou da concessão de consignados a beneficiários de programas sociais. Caso não compareça, a exigência de convocação formal reforça o caráter de exigência de transparência da comissão.

  • Com bancos e financeiras envolvidos, a CPMI poderá ampliar a investigação a outras instituições além do Banco Master, o que pode revelar um esquema mais vasto de abusos e irregularidades no crédito consignado ofertado a aposentados, pensionistas e beneficiários de programas sociais.

O que esperar? — A decisão da CPMI desta quinta-feira representa um ponto de inflexão na luta contra a necropolítica do consignado: coloca sob escrutínio não apenas financiadores, mas também governantes que mantêm laços empresariais com instituições de crédito. Num país onde aposentados, pensionistas e vulneráveis já vivem com o fio da dignidade tensionado — e o fantasma da pobreza extrema e da dívida rondando —, investigar quem se beneficia desse sistema não é apenas uma questão jurídica: é uma questão de justiça social e dignidade humana.

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