Reciclar é plantar cuidado: resíduos entregues nos pontos viram frutas e verduras frescas, aproximando produtores e bairros numa rede de afeto público
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| Imagem meramente ilustrativa - Sulpost/Arquivo (IA) |
No fim da manhã desta quinta-feira, Maria Ivone Paez, 82 anos, separava cuidadosamente garrafas, papelões e duas garrafas PET cheias de óleo de cozinha usado. Amanhã, sexta (5), ela pretende estar cedo no ponto do Câmbio Verde perto de sua casa, no Boqueirão. “Minha geladeira fica mais saudável e minha consciência também”, diz, rindo enquanto ajeita a sacola nas mãos.
A cena de Maria se repete em mais de 103 pontos espalhados por Curitiba. É nesses cantos de bairro — às vezes ao lado do campinho, outras na frente da igreja, ou junto de uma escola — que o programa da Prefeitura troca lixo reciclável por hortifrutis frescos e devolve algo raro: a sensação de pertencimento.
Os caminhões e a circulação
Amanhã, os caminhões verdes voltam a circular: a Secretaria Municipal do Meio Ambiente mantém, de terça a sexta-feira, oito caminhões do Câmbio Verde nas ruas — quatro pela manhã e quatro à tarde. Cada parada transforma a rua em um pequeno mercado, carregado de impacto ambiental e social.
Como funciona — regras claras, acesso direto
A regra é simples e democrática: 4 kg de resíduos recicláveis = 1 kg de alimentos. Ou, se preferir, 4 litros de óleo de cozinha usado = 1 kg de Hortifruti. Vale papel, papelão, embalagens de vidro, sucata ferrosa e não ferrosa. O óleo deve estar em garrafas PET, bem lacradas.
Não é necessário agendamento, cadastro ou pagamento. As trocas são quinzenais (exceto feriados), com dia e horário pré-determinados no calendário anual da Prefeitura. Basta levar o material limpo e separado e trocar no ponto mais próximo.
Da coleta à economia solidária
Os recicláveis recolhidos em cada ponto — em média 3,5 toneladas por dia — seguem para os barracões das associações do Ecocidadão, onde são separados e vendidos, gerando renda local. O hortifrúti que volta para as famílias vem de 389 agricultores familiares das cooperativas Coophort (São José dos Pinhais), Cooacol (Colombo) e Provale.
O Câmbio Verde é uma parceria entre as secretarias municipais do Meio Ambiente e de Segurança Alimentar e Nutricional: o convênio garante que os excedentes da produção de pequenos produtores sejam oferecidos às famílias da cidade — o resultado é menos desperdício, mais alimento fresco e renda para quem planta.
Impacto em números (2024)
- 2.496 toneladas de resíduos recicláveis coletadas
- 16.077 litros de óleo de cozinha recolhidos
- 738 toneladas de hortifrútis entregues
- 54.024 famílias atendidas
Os números impressionam, mas o efeito real aparece nas mesas: alimentos frescos à disposição de quem precisa e trabalho gerado para comunidades inteiras.
Alguns pontos e horários (sexta, 5)
Confira alguns dos pontos onde os caminhões estarão — verifique o calendário oficial para a lista completa:
Manhã
- Vila Tramontina – CIC
Rua Padre José Kentenich, em frente ao campinho — 9h às 10h - Caiuá – CIC
Rua Marcos Antônio Malucelli — 10h às 11h - Vila Progresso – Campo Comprido
Rua Natálio Scussiato, esquina com Pedro Dybas — 9h às 10h - Vila Estrela – Fazendinha
Rua Aristides Borsato — 10h às 11h
Tarde
- Pinh. Roma – Pilarzinho (Parque Tingui)
Rua Professor Dario Garcia — 14h às 15h - Lamenha Pequena – Santa Felicidade
Rua Justo Manfron, nº 254 — 15h às 16h - Jardim Pinheiros – Santa Felicidade
Rua Adolfo Lutz — 14h às 15h - São João Vista Alegre – Vista Alegre
Rua Batista Pessine — 15h às 16h - Andorinha Cianorte – Fazendinha
Rua Joni Francisco Jensen — 14h às 15h - Parolin – Parolin
Avenida do Canal, esquina com Carlos Affonso Meissner Osório — 14h às 14h30
Mais informações e o calendário completo estão disponíveis no site da Prefeitura de Curitiba ou pela Central de Atendimento 156 (chat online ou telefone).
Histórias que explicam a política
O Câmbio Verde não é apenas um mecanismo de troca: é uma política que restaura vínculos. Ao entregar uma sacola de recicláveis, a pessoa alimenta uma economia solidária, reduz o impacto ambiental e traz alimento fresco para casa. “É tão simples ajudar a cidade e ainda levar uma comidinha boa pra casa. Parece até que a gente faz parte de algo maior”, resume dona Maria, com a naturalidade de quem vive a cidade como comunidade.


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