Após tragédia no Rio, Governo Federal lança ofensiva inédita contra o crime organizado: “É preciso asfixiar as fontes do mal”
Por Ronald Stresser – 1º de novembro de 2025
![]() |
| Lula assina projeto de lei de combate à facções criminosas ao lado de Lewandowski - Ricardo Stuckert |
O país ainda tenta compreender o rastro de dor deixado pela Operação Contenção, no Rio de Janeiro — uma ação policial que terminou com 121 mortos, um número que choca e escancara a profundidade do problema da violência e das facções criminosas no Brasil.
No mesmo dia em que famílias sepultavam seus mortos, o governo federal respondeu com medidas consideradas históricas. Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o Projeto de Lei Antifacção, encaminhado em regime de urgência ao Congresso Nacional. No memo dia, poucas horas depois, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou uma nova frente de combate: o estrangulamento financeiro das facções criminosas.
“Não adianta só o chão de fábrica. Nós precisamos chegar nos CEOs do crime organizado”, afirmou Haddad, em tom de indignação contida. “Se não asfixiar o financiamento do crime, não vai dar certo. O verdadeiro bandido está em outro lugar, usufruindo da riqueza acumulada ilicitamente e aliciando jovens nas comunidades.”
As declarações vieram acompanhadas de ações práticas. A Receita Federal publicou uma nova instrução normativa que obriga fundos de investimento a divulgarem os CPFs dos beneficiários finais — uma forma de rastrear quem realmente se esconde atrás de esquemas financeiros e negócios de fachada usados para lavar dinheiro do tráfico e da corrupção.
“Agora nós vamos saber o CPF que está por trás. Vamos descobrir se é um laranja, se é residente, se é não-residente. Isso vai aumentar o poder de fiscalização e dificultar a vida de quem financia o crime por dentro do sistema financeiro”, explicou o ministro.
O dinheiro sujo por trás da violência
Enquanto o noticiário exibia imagens de confrontos, tiroteios infindáveis e corpos estirados no asfalto, Haddad trouxe à tona outro campo de batalha — o dos números, das transações e dos fluxos ilegais de dinheiro. Segundo ele, muitos dos chamados devedores contumazes — empresários que usam a inadimplência fiscal como estratégia — estão diretamente conectados à lavagem de dinheiro do crime organizado.
“O devedor contumaz é uma palavra chique para o sonegador. E por trás do sonegador está o crime organizado”, disse Haddad. “Eles lavam dinheiro por meio de postos de gasolina, motéis e empresas de fachada. Se o Estado não agir nessas camadas, o sistema continuará alimentando o mesmo círculo de violência.”
O ministro também fez um apelo ao governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), para que convença seu partido a aprovar a Lei do Devedor Contumaz, que endurece punições contra quem usa brechas legais para ocultar lucros ilícitos. “O PL precisa compreender a importância desse projeto que estava adormecido”, reforçou.
Operação Fronteira: sem tiros, mas com resultados
No mesmo evento, o Ministério da Fazenda e a Receita Federal divulgaram os resultados da Operação Fronteira, considerada a maior já realizada no país em pontos estratégicos de contrabando e tráfico.
Foram mais de R$ 160 milhões em mercadorias ilegais apreendidas, 27 prisões em flagrante, 213 mil litros de bebida adulterada e três toneladas de drogas. Tudo isso, sem disparos. “Não teve tiro, não teve morte. Foi trabalho de inteligência, cooperação e integração federativa”, destacou Haddad.
Segundo ele, o sucesso da operação se deve à parceria entre a União e os governos do Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e com as Forças Armadas. “Foi o Estado brasileiro agindo em unidade, sem olhar para partido político”, disse.
Projeto de Lei Antifacção: endurecimento e inteligência
Em Brasília, Lula assinou o Projeto da Lei Antifacção, elaborado pelo Ministério da Justiça e da Segurança Pública. A proposta cria o novo tipo penal de “organização criminosa qualificada”, com penas que podem chegar a 30 anos de prisão, transformando esse crime em hediondo — ou seja, sem direito a fiança.
O texto prevê ainda a infiltração de policiais e colaboradores em facções, a criação de empresas fictícias para investigações, um banco de dados nacional com DNA e informações estratégicas sobre integrantes, além da apreensão de bens e valores durante o inquérito.
“As facções só serão derrotadas com o esforço conjunto de todas as esferas de poder”, declarou Lula. “Diferenças políticas não podem ser pretexto para que deixemos de avançar. As famílias brasileiras merecem essa dedicação.”
Entre luto e esperança
Os 121 mortos da operação no Rio não são números. São vidas interrompidas, mães que choram, comunidades feridas e um país que tenta, mais uma vez, não se acostumar com a barbárie. A ofensiva de Lula e Haddad representa, para muitos, uma tentativa de redefinir o combate ao crime organizado — não apenas pela força, mas pela inteligência e pela justiça social.
O desafio é imenso, e o tempo dirá se o Brasil vive um novo começo ou mais uma promessa que se dissolve na rotina das tragédias. Mas, por ora, há um sopro de esperança — a ideia de que combater o crime também é lutar por dignidade, por Estado e por futuro.
Quem coloca a ideologia política na frente da inteligência usada para o combate ao crime, certamente não está preocupado com a questão das drogas e facções criminosas, mas sim em desestabilizar o governo para tentar a sorte nas eleições do ano que vem.
O crime organizado não tem partido político, muito menos ideologia e deve ser combatido de forma conjunta, integrando forças de segurança, governos estaduais e federal. Ou será que estudam estender a tal anistia, que querem dar a marginais que atentaram contra o estado democrático de direito, também aos cartéis de drogas?


Nenhum comentário:
Postar um comentário