Entre números que doem e soluções que já funcionam, a urgência é uma convocação — não uma sentença. A escolha por um futuro justo e viável está nas decisões que tomamos hoje
Por Ronald Stresser — 19 de outubro de 2025
Há manchetes que passam. Outras perscrutam o silêncio das manhãs quentes demais, das chuvas fora de época, das colheitas que falham, das casas que não resistem. A crise climática não é um assunto distante: é um tecido que rasga a vida cotidiana — e que, se soubermos costurá-lo diferente, permite remendar o futuro.
Um planeta só — equilíbrio frágil
No universo conhecido, temos apenas um lar. A Terra mantém a vida por uma série de coincidências delicadas — água líquida, atmosfera protetora, temperaturas que permitem planta, animal e humano. Esse equilíbrio está sendo rompido pela queima massiva de combustíveis fósseis e pela extração desenfreada de recursos. Os países ricos utilizam os recursos do planeta como se houvesse entre 3 e 9 Terras — quando, na verdade, só há uma.
Impactos desiguais — a crise que tem rosto
A crise climática é universal em efeito, mas profundamente desigual em quem sofre. Entre 3,3 e 3,6 bilhões de pessoas vivem em áreas altamente vulneráveis — grandes partes da África, Sul da Ásia, América Central e do Sul, pequenas ilhas e o Ártico. A África, por exemplo, responde por menos de 4% das emissões globais e, ainda assim, arca com perdas colossais: insegurança alimentar, deslocamentos e retrocessos no desenvolvimento.
Dentro dos países, raça, gênero, idade e condição socioeconômica definem quem terá menos proteção diante da mesma tempestade.
Gerações à prova — crianças que herdam extremos
As decisões das gerações passadas gravaram um futuro pesado nas frentes das crianças de hoje: elas enfrentarão até 7 vezes mais eventos climáticos extremos do que os avós. Em cenários mais extremos, como em partes do Afeganistão, jovens podem encarar 18 vezes mais ondas de calor; em regiões do Sahel, até 10 vezes mais quebras de safra.
Isso não é estatística fria — é a vida futura de estudantes, trabalhadores e sonhadores que herdarão cidades e campos marcados por riscos que poderiam ter sido atenuados.
Desejo coletivo de ação e oportunidade econômica
Ao contrário da imagem de indiferença, pesquisas mostram que 8 em cada 10 pessoas querem mais ação climática por parte de seus governos; 86% defendem cooperação internacional acima de disputas geopolíticas. Essa vontade pública encontra resposta em oportunidades concretas: a economia verde já vale cerca de US$ 7,9 trilhões, representando quase 9% dos mercados de capitais.
A transição para energias renováveis, mobilidade sustentável e infraestrutura resiliente não é apenas ambientalmente necessária — é economicamente viável e geradora de empregos.
Soluções que salvam vidas e dinheiro
As medidas de adaptação e mitigação trazem retorno real: cada US$ 1 investido em adaptação pode gerar mais de US$ 10 em benefícios ao longo de uma década. No setor industrial, ganhos de eficiência podem cortar até 11% das emissões relacionadas à energia até 2030. Energias como o sol e o vento, mais baratas e em expansão acelerada, já prometem duplicar sua participação na matriz elétrica até 2030.
Em suma: investir hoje protege vidas, gera empregos e reduz custos futuros.
Natureza em risco — e a urgência de protegê-la
A perda das florestas é uma ferida que retroalimenta a crise: em 2024, o mundo registrou um recorde de destruição de florestas primárias tropicais — o equivalente a 18 campos de futebol por minuto. Entre 2000 e 2019, apenas os eventos climáticos extremos custaram ao mundo cerca de US$ 16 milhões por hora.
Apesar das perdas, há avanços: hoje mais de 17% das terras e águas interiores estão protegidas, e o objetivo global é alcançar 30% até 2030 — uma meta que precisa de pressão pública e compromisso político para ser cumprida.
Poluição plástica: um problema de clima e saúde
O plástico também atravessa a crise climática. Cerca de 13 milhões de toneladas se acumulam nos solos a cada ano, degradando solos, liberando gases e infiltrando microplásticos na cadeia alimentar. Estima-se que um adulto pode ingerir, em média, o equivalente a um cartão de crédito em microplásticos por semana — um lembrete brutal de que a crise climática também é crise de saúde pública.
A escolha que resta — e quem paga o preço
As evidências científicas são claras: limitar o aquecimento a 1,5 °C evita muitos dos piores impactos. Sob o Acordo de Paris, países se comprometeram a reduzir emissões e ampliar ambição em ciclos quinquenais. As decisões nacionais (as chamadas NDCs) têm poder real — e a terceira geração de NDCs, prevista até o final de 2025, será teste decisivo para saber se a humanidade encara a urgência com a gravidade necessária.
A crise climática é, portanto, um teste de democracia, justiça e solidariedade. Quem enriqueceu com décadas de emissões tem responsabilidade histórica de descarbonizar rápido e apoiar os países e populações mais afetadas.
Esperança ativa: agir é possível
Se há uma mensagem final nesta contabilidade do clima é simples: as soluções existem, funcionam e ainda compensam. De cidades planejadas para o calor e a chuva, a redes de transporte público limpas, passando por investimentos maciços em renováveis e proteção da natureza — cada ação conta. O tempo é curto, mas a escolha é coletiva.
O que nos cabe agora é enfrentar o desconforto da mudança — de políticas, de hábitos, de estruturas — e entender que agir para mitigar e adaptar é também agir por justiça.
— Com informações do PNUD — edição com auxílio de I.A.


Nenhum comentário:
Postar um comentário