Crescimento de 0,4% em agosto traz alívio contido — inflação ainda pesa e Selic segue alta; mercado reduz projeção de 2025 para 4,72%
No compasso cauteloso da economia, um suspiro — pequeno, mas real — percorre ruas, lojas e pequenas indústrias do país. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) mostrou crescimento de 0,4% em agosto frente a julho, conforme dados divulgados nesta quinta-feira. É um movimento que não garante euforia, mas devolve um pouco de ar a quem respira o dia a dia do trabalho e do comércio.
O IBC-Br, que reúne sinais da indústria, do comércio, dos serviços e da agropecuária, subiu 0,4% na série dessazonalizada. Na comparação anual, entre agosto de 2025 e agosto de 2024, houve variação positiva de 0,1%. No acumulado do ano, o indicador registra 2,6% e, em 12 meses, a alta é de 3,2%.
Números, porém, são apenas o início da história. Para dona Maria, que administra um pequeno mercadinho na periferia, 0,4% significa vender algumas embalagens a mais, repor o estoque que vinha sendo empurrado para frente e talvez manter um funcionário por mais duas semanas. Para o empreendedor que planeja investir em máquinas ou ampliar um salão, o arrefecimento do crédito e o custo elevado dos empréstimos ainda fazem a decisão pender para a espera.
O Banco Central usa o IBC-Br como um termômetro útil para a política monetária, embora o índice não seja a prévia oficial do Produto Interno Bruto. Mesmo assim, ele pesa nas avaliações do Comitê de Política Monetária (Copom) na hora de calibrar a taxa Selic — hoje em 15% ao ano.
Inflação: alívio parcial, risco persistente
O alívio no crescimento convive com uma inflação que não cede com facilidade. Em setembro, o IPCA avançou 0,48%, com forte influência da conta de luz. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação oficial alcança 5,17%, acima do teto da meta de 4,5%. Esse cenário ajuda a explicar por que o Copom decidiu manter a Selic em patamar elevado e por um período que seus diretores definem como “bastante prolongado”.
Ainda assim, o mercado financeiro revisou levemente para baixo suas expectativas: o Boletim Focus baixou a projeção de inflação para 2025 a 4,72%. A leitura dos analistas é que medidas vigentes e a própria acomodação da demanda podem reduzir parte das pressões sobre preços — embora o resultado permaneça sensível a choques externos e a movimentos no câmbio.
Selic e o dilema do crescimento
A Selic elevada é a ferramenta com a qual o Banco Central tenta ancorar a inflação — tornando o crédito mais caro e, com isso, moderando a demanda. Mas há um custo: juros altos tolhem investimentos e estrangulam a dinâmica de emprego e renda. Em público, membros da autoridade monetária insistem que só reduzirão a taxa quando houver sinais robustos de convergência da inflação para a meta.
O cotidiano em jogo
no varejo, nas pequenas fábricas e nas estradas, as decisões tomadas agora reverberam pelos próximos meses. Uma construção emperrada por financiamento caro significa pedreiros e fornecedores sem trabalho; uma linha de crédito mais apertada postergar compra de insumos e também adianta a conta da incerteza. Nesse cenário, o 0,4% vira metáfora: é a prova de que a máquina ainda funciona, mas precisa de manutenção, ajuste de rota e pactos de longo prazo para acelerar sem queimar etapas.
O que observar daqui para frente
- Dados de atividade: próximos meses dirão se a tendência é continuidade do crescimento moderado ou oscilação;
- Inflação subjacente: será o termômetro mais fiel para a decisão do Copom sobre a Selic;
- Fisco e confiança: sinais de disciplina fiscal e políticas claras ajudam a reduzir o prêmio de risco e baratear o investimento;
- Choques externos: câmbio e inflação global podem forçar reavaliações rápidas.
O crescimento de agosto não é um fim — é um convite a ler os sinais com atenção e a construir políticas que permitam ao país crescer sem perder o pulso da inflação. Para as famílias e empresas, resta a tarefa concreta de ajustar planos, cortar desperdícios e procurar oportunidades onde surgirem. Para os decisores, a equação é antiga e complexa: encontrar o momento certo para acionar a retomada sem deixar a inflação correr.
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