Após encontro cordial entre Vieira e Rubio, Brasil e EUA trabalham para marcar reunião entre Lula e Trump
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Ministro das relações exteriores, Mauro Vieira, se encontrou com o secretário de Estado americano, Marco Rubio - Embaixada do Brasil nos EUA |
Em um movimento que mistura pragmatismo e expectativa, autoridades do Brasil e dos Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira que vão trabalhar para viabilizar um encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald John Trump “o mais breve possível”. A promessa brotou ao final de uma reunião descrita por ambos os lados como cordial e produtiva — um gesto que, em meio a semanas de tensão, tem cheiro de reaproximação.
O encontro de alto nível, realizado na Casa Branca, reuniu o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR), Jamieson Greer. Em nota conjunta, as autoridades afirmaram que mantiveram "conversas muito positivas sobre comércio e questões bilaterais em andamento" e que concordaram em "colaborar e conduzir discussões em várias frentes no futuro imediato".
Segundo o Itamaraty e relatos da imprensa, a reunião começou com uma conversa reservada entre Rubio e Vieira — uma sessão curta e direta — seguida por um encontro mais amplo, com a presença de diplomatas e do representante comercial norte-americano. O tom foi descrito pelo chanceler brasileiro como “muito produtivo, num clima excelente de descontração e de troca de ideias”, sinalizando que, além do protocolo, houve espaço para um diálogo franco sobre o que realmente afeta empresas, trabalhadores e famílias dos dois lados.
No centro da agenda: as tarifas impostas pelos EUA a produtos brasileiros — um aumento anunciado no meio do ano que subiu de 10% para 50% em muitos casos e que, na visão de Brasília, tem causado danos econômicos imediatos a exportadores e cadeia produtiva. A reversão ou pelo menos a mitigação dessa sobretaxa foi colocada como prioridade pelo governo brasileiro durante as conversas.
Do lado americano, fontes oficiais destacaram que as negociações incluem uma série de interesses concretos: abertura de mercado ao etanol dos EUA, acesso a minerais críticos e preocupações regulatórias com plataformas digitais — uma lista que reflete a combinação de pressões comerciais e geopolíticas que atravessam o relacionamento bilateral. A reunião, portanto, é tanto técnica quanto política: uma tentativa de transformar atritos de outrora em roteiro de trabalho no presente.
Não há, por ora, data ou local definidos para o encontro entre Lula e Trump. A expectativa inicial apontava para a Cúpula da ASEAN, na Malásia, no fim de outubro, mas os próprios chanceleres disseram que as agendas presidenciais — sempre móveis — determinarão o momento mais adequado. Até lá, a proposta é deixar instaurada uma “rota de trabalho conjunto” entre as equipes.
O significado prático dessa abertura de diálogo só se mede quando lembramos do contexto recente: além do chamado “tarifaço”, Washington aplicou sanções financeiras e restrições consulares a figuras brasileiras, o que aprofundou uma crise diplomática que agora tenta ser contornada. Para analistas, o gesto americano de sentar-se à mesa com os interlocutores brasileiros demonstra vontade de resolver problemas que já produziram efeitos concretos na vida de empresários, agricultores e indústrias.
O professor Vitelio Brustolin, pesquisador com passagem por Harvard e especialista em relações interamericanas, resumiu as expectativas dos EUA em cinco pontos — entre eles: evitar retaliações brasileiras às tarifas, acordos sobre abertura de mercados, garantias sobre o uso do Judiciário, cooperação migratória e um esforço para reduzir influência de atores como Rússia e China na região. Para Brustolin, a postura americana não é dirigida apenas ao Brasil, mas faz parte de uma estratégia regional mais ampla.
No plano humano dessa diplomacia, há algo a observar: o encontro foi antecedido por um breve contato pessoal entre Lula e Trump durante a Assembleia Geral da ONU, em setembro, e por uma conversa telefônica posterior. Pequenos gestos pessoais — um aperto de mão, uma palavra rápida — abriram a janela para que técnicos e ministros pudessem, então, dar forma a uma agenda concreta. É um lembrete de que a diplomacia, além de regras e tarifas, pulsa em encontros que restituem possibilidades.
Como toda tentativa de reaproximação, o processo será feito aos poucos: tratativas técnicas no curto prazo; encontros ministeriais para destravar pontos sensíveis; e, se o vento soprar favorável e as agendas permitirem, um encontro cara a cara entre os dois presidentes que terá, mais do que fotografia, impacto econômico e político mensurável. A narrativa de tensão, por ora, ensaia uma nova cena — de negociação, não de confrontação.
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