Itaipu conclui montagem de sua primeira ilha solar flutuante e inicia a contagem regressiva para gerar energia limpa
Por Ronald Stresser • Sulpost • 06/10/2025
![]() |
A usina de Itaipu concluiu a montagem da primeira “ilha solar”, formada por 1.568 painéis fotovoltaicos sobre o Rio Paraná - Elder Alejandro Baez Flores/Itaipu Biacional |
Nas águas serenas do Rio Paraná, onde há mais de quatro décadas nasceu uma das maiores hidrelétricas do mundo, agora repousa uma nova promessa: a primeira ilha solar flutuante de Itaipu. O projeto-piloto, concluído no fim de setembro, marca uma nova era na história da usina que simboliza a força da integração entre Brasil e Paraguai — agora voltada também à transição energética e à inovação ambiental.
Ao todo, foram instalados 1.568 painéis fotovoltaicos sobre uma estrutura de flutuadores ancorada com precisão no leito do reservatório. A “ilha solar” ocupa 7,6 mil metros quadrados — quase o tamanho de um campo de futebol — e deve começar a gerar energia já em novembro. Toda a produção será destinada ao consumo interno da própria hidrelétrica, mas o potencial é expressivo: cerca de 1 megawatt-pico (MWp), o suficiente para abastecer aproximadamente 650 residências.
Entre águas e sol: a transição que nasce sobre o espelho d’água
Em meio ao barulho das ondas e ao brilho metálico das placas, há um sentido simbólico profundo. Itaipu, que desde 1984 transforma a força das águas em eletricidade, agora passa a olhar também para o céu. A hidrelétrica, responsável por cerca de 9% da energia consumida no Brasil, conclui um movimento que combina tradição e futuro — integrando-se ao desafio global da descarbonização.
Para o engenheiro Márcio Massakiti Kubo, da Superintendência de Energias Renováveis, a jornada até aqui exigiu cuidados técnicos e humanos. “Tivemos ajustes no cronograma por causa das chuvas e da necessidade de garantir a segurança de todos os trabalhadores, especialmente por estarmos próximos do vertedouro e da área náutica de segurança da usina”, explicou. Cada módulo foi montado e ancorado como quem finca uma esperança no leito do rio.
Da teoria à prática: energia limpa em movimento
O investimento de US$ 854,5 mil (cerca de R$ 4,5 milhões) foi viabilizado por um consórcio binacional formado pelas empresas Sunlution (Brasil) e Luxacril (Paraguai), vencedoras da licitação. O projeto passou agora para a fase de testes “frios” e “quentes”, quando os cabos de energia e comunicação serão conectados à subestação da margem paraguaia.
Nos próximos meses, Itaipu acompanhará o desempenho da planta com monitoramentos contínuos da água, da fauna e da flora. Segundo a empresa, não há registro de impactos ambientais significativos na literatura especializada — e justamente por isso o projeto foi considerado seguro. Ainda assim, o acompanhamento será constante, analisando desde a qualidade da água até a movimentação de aves e peixes.
Aprender com o sol para iluminar o futuro
O superintendente de Energias Renováveis, Rogério Meneghetti, afirma que o período de um ano de operação experimental será decisivo. “Este é um aprendizado que vai muito além da engenharia. Queremos entender o comportamento da tecnologia, o retorno energético e o impacto ambiental para então decidir sobre possíveis ampliações”, destacou.
As possibilidades impressionam. Se apenas 1% do reservatório fosse coberto por placas solares, Itaipu poderia gerar até 3,6 terawatts-hora (TWh) por ano — cerca de 4% da produção total registrada em 2023. Já um cenário de 10% de cobertura, segundo estimativas, dobraria a capacidade da hidrelétrica, chegando a 14 mil megawatts. “É claro que nem todas as áreas podem ser usadas, mas o potencial é enorme”, pondera Meneghetti.
Um marco em um rio que não para
Mais do que um projeto de engenharia, a ilha solar é um símbolo de transição. Representa a união de dois países, a reinvenção de uma usina e o amadurecimento de uma consciência energética. No dia 5 de setembro, Itaipu também alcançou outro feito histórico: a marca de 3,1 bilhões de megawatts-hora (MWh) produzidos desde 1984 — energia suficiente para abastecer o mundo inteiro por 44 dias ou o Brasil por seis anos e um mês.
Agora, com o sol refletindo sobre as águas que giram suas turbinas, Itaipu se reposiciona. De uma usina feita para dominar a força da natureza, ela se transforma numa plataforma de aprendizado e de esperança — mostrando que desenvolvimento e sustentabilidade podem, sim, remar na mesma direção.
“Estamos construindo pontes entre o que fomos e o que precisamos ser”, resume um técnico da equipe, olhando o reflexo dourado das placas no entardecer do lago.
Nenhum comentário:
Postar um comentário