terça-feira, 21 de outubro de 2025

Boulos promete “colocar o governo na rua” e retomar o diálogo com o povo: “Minha

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) leva o governo às ruas — “Minha escola é o movimento social”: ministro promete escuta ativa, viagens a todos os estados e uma Presidência que respira a vida das ruas 

Ministro Guilherme Boulos - © Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Há gestos de poder que preferem a sala fechada; e há gestos de poder que escolhem caminhar. Guilherme Boulos optou, desde o primeiro post agradecendo ao presidente Lula, pela segunda via: a de transformar a máquina do Estado em algo que ande, escute e responda — nas praças, nas ocupações, nas periferias, nas assembleias de sindicato e nos grêmios escolares.

Em sua publicação nas redes sociais, Boulos registrou gratidão pelo convite para chefiar a Secretaria-Geral da Presidência e desenhou o mapa de sua missão: “ajudar a colocar o governo na rua, levando as realizações e ouvindo as demandas populares em todos os estados do Brasil”. As palavras soam como um compromisso — e como uma promessa de presença permanente.

A nomeação, oficializada nesta semana, o coloca no lugar de Márcio Macêdo e confere ao deputado licenciado a responsabilidade formal de articular o Palácio com a sociedade civil: movimentos sociais, organizações não governamentais, entidades de classe e jovens ativistas. É uma função que, em suas mãos, pretende virar ponte e escuta, não só protocolo.

Da ocupação ao Planalto: uma trajetória que respira rua

A biografia de Boulos é, por si só, um mapa de travessias. Nascido em Pinheiros, São Paulo, em 19 de junho de 1982, filho de médicos e professores universitários, ele trocou cedo o conforto das Escolas Particulares pelo ambiente mais desafiante de uma escola pública — um gesto simbólico que anunciava a escolha por aprender onde a desigualdade se ensina.

Aos 19 anos, decidiu morar em uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Foi ali que a militância deixou de ser atividade e passou a ser práticas de vida: cozinhas solidárias, ocupações, organização coletiva. Foi também ali que se iniciou a construção de um estilo político marcado pela atenção às dores cotidianas e pela busca de soluções que nasçam da própria comunidade.

Professor, psicanalista, escritor — com obras que questionam o presente e apontam caminhos — e eleito deputado federal com mais de 1 milhão de votos em 2022, Boulos chega ao Planalto com uma credencial rara: a de quem aprendeu política no chão das lutas e nos livros. Essa mescla, diz ele, será levada ao núcleo do Executivo.

Promessa concreta: rodar o país para ouvir

“Vou rodar o país e conversar com os movimentos sociais, com o povo”, declarou Boulos em entrevista que acompanhou a nomeação — e repetiu a ideia nas suas redes: o ministério, para ele, não será gabinete fechado, mas itinerário. A promessa tem duplo sentido: levar ao público as ações do governo e trazer ao Planalto as urgências que nascem das ruas.

Para além do simbolismo, isso exige logística, paciência e cooperação institucional. Significa criar canais permanentes de interlocução, ouvir lideranças locais sem substituí-las, e transformar escuta em políticas palpáveis — desde programas de moradia e reforma urbana até iniciativas voltadas à juventude, trabalho e cultura. É um desafio que mistura sensibilidade política com capacidade técnica.

O significado político da escolha

A ascensão de uma liderança oriunda do movimento social ao gabinete presidencial tem um efeito prático e simbólico: reafirma a aposta do governo em ampliar canais de participação e reduz a distância entre decisão e vida concreta. Entre alas políticas e receios institucionais, a escolha anuncia que o Executivo quer — ao menos em retórica e agenda — virar corpo presente nas causas populares.

Para muitos movimentos, a mensagem é de esperança: não se trata apenas de ter alguém que conhece suas pautas, mas de ter alguém que se compromete a ouvir e traduzir demandas em ação. Para os críticos, a preocupação é prática: como transformar itinerância e presença em políticas sustentáveis? O teste, como sempre, será dos resultados.

Uma Presidência que aprende

Boulos repete, com a calma de quem viveu e aprendeu em coletivo, que sua “grande escola de vida e de luta foi o movimento social brasileiro” — frase que não é apenas memória, mas promessa de método: governar aprendendo, governar dialogando, governar responsabilizando-se com quem está à margem.

Se a política tem futuro quando ouve, essa escolha abre um caminho de reconstrução de confiança entre o Estado e parcelas da população que historicamente se viram distantes das decisões centrais. O que virá pela frente dependerá da capacidade de transformar escuta em agenda, de traduzir relatos em políticas, de fazer da rua não um palco ocasional, mas um laboratório permanente de democracia.

Edição: Ronald Stresser • Sulpost

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