domingo, 26 de outubro de 2025

A COP30 será o teste da nossa responsabilidade ante à Emergência Climática

Belém, a Amazônia e o espelho do clima: por que a COP30 será o grande desafio para encontrar respostas e traçar estratégias perante às mudanças — cada vez mais radicais — que a população mundial está enfrentando 

Por Ronald Stresser — 26 de outubro de 2025

 

A cidade que respira rio e floresta prepara-se para receber um mundo inquieto. Levar a COP30 à Amazônia não é apenas uma decisão de logística: é um gesto de significado profundo — colocar a maior cúpula climática do planeta no lugar onde as decisões mais concretas sobre clima e vida ainda podem ser tomadas.

Nos últimos dias, diplomatas e organizadores correram para costurar presenças, agendas e quartos de hotel. Entre as delegações mais visíveis estão países ricos e membros do grupo dos BRICS, que têm papel decisivo nas negociações: atores como o Reino Unido e países-chave do bloco — China, Índia e Rússia — mostraram participação em nível elevado nas atividades preparatórias. Essas presenças dão peso político à reunião; sua ausência, ao contrário, poderia reduzir a COP a um encontro de boas intenções.

A conta dos hotéis e o limite da equidade

Há uma batalha silenciosa que decide quem terá voz na mesa: o preço de uma cama por noite. Nos últimos relatórios, delegações de países menores e ilhas recordaram que os custos de acomodação em Belém elevaram-se a patamares que tornam inviável deslocar grandes equipes. Esse é o nó: quando o quarto vira moeda de poder, quem paga fala mais alto.

O governo federal — ciente do risco político e diplomático — anunciou medidas para aliviar a pressão: parcerias de hospedagem, plataformas para compartilhamento de vagas, programas de apoio a países de menor renda e negociação com redes de hotéis para ofertas especiais. Há ainda negociações para subsidiar deslocamentos e flexibilizar a logística — mas, como afirmam diplomatas, o problema do preço das acomodações segue sendo o maior entrave para a confirmação de algumas delegações.

Por que Belém? Por que agora?

A escolha da Amazônia é como apontar o dedo ao epicentro de uma responsabilidade: a floresta não é cenário — é protagonista. É ali que se mede a capacidade do planeta de absorver carbono; é ali que se decidem fluxos de água que abastecem bacias e colhemos consequências para safras, energia e vidas humanas. Reunir o mundo em Belém é forçar o debate a olhar nos olhos da floresta e perguntar: vamos pagar para preservá-la ou vamos aceitar a fatura das perdas?

Para o Brasil, a COP30 é oportunidade de traduzir em política o que já se vislumbra em dados recentes — como a queda nas emissões em 2023 impulsionada pela desaceleração do desmatamento — e de fortalecer iniciativas complementares, como o combate à poluição plástica via programas nacionais alinhados ao projeto internacional Plastic Reboot. É também o momento de mostrar que é possível conciliar desenvolvimento com proteção ambiental.

O que está em jogo para populações vulneráveis

Não se trata apenas de metas numéricas. Em Belém se decidem vidas: povos indígenas, ribeirinhos, comunidades tradicionais que guardam saberes e dependem da floresta para alimentação, remédios e cultura. São essas pessoas que pagam a conta das secas, das cheias inesperadas, do avanço de doenças e do colapso de sistemas produtivos.

A COP30 precisa, portanto, combinar ambição de mitigação com pacotes reais de adaptação — financiamento para sistemas de alerta, saúde pública, proteção territorial e programas que remunerem quem conserva. Sem isso, as declarações ficam bonitas nas fotos e vazias no campo.

Logística, diplomacia e o teste da ambição

Nas semanas que antecedem a cúpula veremos anúncios de metas nacionais (NDCs), debates sobre financiamento para loss & damage e negociações arduamente técnicas sobre mecanismos de mercado e integridade ambiental. A presença de líderes de potências econômicas e dos BRICS dará energia política; sua ausência, por motivos logísticos ou orçamentários, reduzirá a pressão por resultados concretos.

Se Belém resolver a logística com justiça e transparência, o Brasil terá feito mais do que acolher delegações: terá ali apoiado a participação plural e inclusiva que negociações desse porte exigem.

Um convite final — e concreto

A COP30 pode ser lembrada de duas formas: como a conferência em que o planeta sorriu, porque acordamos para pagar o custo da preservação; ou como mais uma cúpula em que palavras gesticulam e recursos não chegam. O que se decide em Belém — sobre financiamento, presença diplomática e justiça climática — dirá muito sobre qual desses futuros escolhemos.

Enquanto as cortinas se abrem, resta um desejo simples e urgente: que a floresta não seja apenas cenário de fotos, mas referência de ação. Que as camas reservadas em hotéis signifiquem vozes salvas na mesa de negociação. E que o Brasil, ao receber o mundo no coração da Amazônia, não apenas fale de liderança — mas a exerça em atos que protejam quem mais precisa.

  • Com informações devGov.BR e ONU Brasil

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