Por Ronald Stresser | Sulpost
O Paraná rural chora. O Paraná político reage. Enquanto cafeicultores, apicultores, piscicultores e madeireiros do estado veem seus negócios ameaçados pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos, parlamentares aliados à extrema direita continuam a aplaudir o presidente norte-americano Donald Trump. Mas na Assembleia Legislativa do Paraná, uma voz se ergueu em defesa do povo trabalhador — e sem economizar palavras.
“O choro é livre, mas o Bolsonaro é preso. Engulam essa!”, disparou o deputado Arilson Chiorato (PT), presidente estadual do partido, diante de um plenário dividido. Com ironia cortante, sacou lenços de papel e os ofereceu aos bolsonaristas.
O discurso, inflamado e carregado de dados, apontou para a raiz do problema: a subserviência cega da direita brasileira aos interesses dos Estados Unidos, mesmo quando esses interesses se voltam contra o Brasil.
O tarifaço que atinge o campo
Os novos impostos impostos por Donald Trump contra produtos brasileiros atingem diretamente o agronegócio paranaense, especialmente os setores da tilápia, mel, madeira e café. Os EUA são o principal mercado de destino da tilápia brasileira, e, segundo a Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), não há, neste momento, outro país que possa absorver essa demanda com a mesma força.
A cadeia do mel, igualmente, está em alerta: mais de 40 mil famílias podem ter sua renda severamente comprometida. Os apicultores, especialmente os de menor porte, que já enfrentavam dificuldades desde a pandemia, agora estão entre os mais vulneráveis. "Precisamos de uma intervenção rápida, incluindo liberação de créditos e compensações tributárias", cobra o Grupo Somar, que reúne produtores de mel do Nordeste.
Para o café, a preocupação não é menor. No Norte Pioneiro, região produtora histórica, o impacto pode significar falência em massa. A alternativa mais discutida nos bastidores do governo federal é a compra dos produtos afetados para abastecimento da merenda escolar, garantindo escoamento e dignidade mínima aos produtores.
Trump: o “aliado” que apunhala pelas costas
Durante seu discurso na Assembleia, Chiorato desafiou os defensores do ex-presidente norte-americano:
“Cadê a defesa do povo paranaense? O Paraná vai perder 1,5 bilhão de reais por conta desse tarifaço norte-americano. E aqui, um silêncio absurdo!”, exclamou o deputado.
Segundo ele, a ala bolsonarista ignora os impactos reais no bolso dos paranaenses para continuar idolatrando um “líder” estrangeiro que atua contra os interesses do Brasil.
“Trump está jogando a águia norte-americana contra o nosso país. E aqui tem gente que bate palminha pra isso?”, questionou indignado.
A crítica se estendeu à própria família Bolsonaro. Para o deputado, além de omissos, são cúmplices do sufocamento econômico que está em curso.
“Estão nos EUA jogando contra o Brasil, ao lado do homem que quer quebrar nossa economia rural. E ainda há quem os trate como patriotas?”
O peso da história: pandemia, golpe e prisão
Chiorato também fez questão de lembrar os crimes de Jair Bolsonaro.
“Bolsonaro está preso por desrespeitar a lei, por tramar um golpe de Estado que previa acabar com a vida do presidente Lula. Está preso por tudo o que fez ao nosso povo, por tudo que causou ao país. A Papuda lhe espera!”, declarou, sem titubear. “Ou vocês esqueceram das 700 mil mortes durante a pandemia, por causa da negação da ciência, da falta de vacinas e da sabotagem à máscara?”, completou.
Brasil acima do complexo de vira-latas
O sentimento entre os produtores é de abandono — não por parte do governo Lula, que articula soluções emergenciais, mas por quem deveria defendê-los. Enquanto se discute a liberação de créditos, renúncias fiscais e compensações via PIS, Cofins e ICMS, o campo segue esperando respostas — e ações concretas.
Para Chiorato, o caminho é claro:
“Ou defendemos o Brasil, ou nos curvamos à águia imperial.”
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