“Ratinho Jr esconde a letra miúda”: Requião Filho acusa governo de transformar a redução do IPVA em armadilha e denuncia multa de 100%
Por Ronald Stresser — Sulpost
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O deputado Requião Filho em frente ao Palácio Iguaçu: "A propaganda fala só da redução, mas não contaram tudo". (Foto: reprodução/Instagram) |
O anúncio que veio em letras garrafais — a redução do IPVA que promete aliviar o bolso de milhões de paranaenses — traz junto uma cláusula que pesa na vida de quem não tem fôlego para pagar “no estilo quartel”: multa que pode chegar a 100% para quem atrasar o imposto. A denúncia foi feita pelo deputado estadual e pré-candidato ao governo, Requião Filho (PDT), que acusa o Palácio Iguaçu de omitir a parte mais dura da nova política tributária.
É fácil entender por que a notícia da redução viralizou: para um carro de R$ 50 mil, por exemplo, o IPVA passa de R$ 1.750 para R$ 950 — uma economia concreta que bate forte no orçamento familiar. Mas a economia mostra apenas metade da história. "Se atrasar uma parcela do IPVA, por exemplo, a multa é de cem por cento. Mas isso o Ratinho Junior não colocou na propaganda", diz Requião Filho em vídeo gravado diante do Palácio Iguaçu.
Quem ouve a fala do deputado percebe não só a crítica política, mas o tom de alerta de alguém que vê famílias apertadas sendo pegas na armadilha de uma promessa que tem letras miúdas. Há nesses protestos um sentimento recorrente: a sensação de que, quando a política vira vitrine eleitoral, os riscos reais que recaem sobre a vida das pessoas ficam de fora.
O que mudou — e para quem
A lei sancionada pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior reduziu a alíquota do IPVA de 3,5% para 1,9% sobre o valor venal de automóveis, motocicletas e caminhonetes, inaugurando oficialmente a menor alíquota do Brasil. São cerca de 3,4 milhões de veículos contemplados pela medida, que entra em vigor a partir de 2026.
O efeito prático foi imediato: nos dias que se seguiram ao anúncio, os emplacamentos cresceram — um sintoma de mercado reagindo à promessa do imposto mais barato. Mas se por um lado há quem respire aliviado, por outro há quem tema que a tranquilidade seja um curto intervalo entre a propaganda e a cobrança rigorosa que vem depois.
O discurso que não entrou na propaganda
Requião Filho não só pontua a omissão, ele também relaciona o episódio a um padrão: decisões tomadas em ano pré-eleitoral que se anunciam como alívio imediato. O deputado cita como exemplo a suspensão de cancelas de pedágio em 2021, uma medida populista na campanha que depois acabou costurada em acordos contratuais, sem efetivar a redução prometida.
"Olha o tamanho da propaganda, mas não contaram tudo", diz o parlamentar, ao apontar para grandes peças oficiais espalhadas pela cidade. Essa frase resume o medo de muitos: a publicidade do benefício existe — o compromisso com as consequências nem sempre.
Quem paga a conta
Para o assalariado, o pequeno comerciante, o entregador, a economia pretendida é bem-vinda. Mas a dúvida que permanece é: o que acontece com quem, por qualquer motivo, atrasa um vencimento? Uma multa dobrada pode transformar um alívio temporário em dívida sufocante. A política tributária, assim, deixa de ser apenas técnica: torna-se questão de dignidade e de capacidade de manutenção do cotidiano.
"É o mesmo roteiro de sempre: em ano eleitoral se anuncia alívio, mas o custo real vem depois, escondido em letras miúdas." — Requião Filho (PDT)
O cenário político
Ratinho Junior governa o Paraná há sete anos. A redução do IPVA funciona também como material de construção de imagem — e não só localmente: fala a uma ambição maior. Nos bastidores, a medida é lida por analistas como estratégia de visibilidade em ano pré-eleitoral.
Se será uma mudança duradoura ou uma cortina de fumaça até o fim do mandato, só o tempo dirá. O próximo ocupante do cargo poderá reverter índices e regras tributárias, afinal, as políticas fiscais estão no terreno da disputa política.
No final, mais um jogo desigual
Reduzir tributos é, em tese, aliviar a vida das pessoas. Mas quando a redução vem acompanhada de regras tão severas para quem não cumpre prazos — e quando essas regras não foram claras na campanha de comunicação — o que se cria é um jogo desigual, em que os mais vulneráveis pagam o preço. No Paraná, o IPVA virou espelho do momento político: luz forte sobre os benefícios, sombras enormes sobre as penalidades.
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