Almoço entre Lula, Alcolumbre e Motta selou a definição de pauta; projeto que isenta do IR quem ganha até R$ 5 mil chega ao plenário em clima de urgência — e há risco de obstrução que pode atrasar o alívio para milhões
Por Ronald Stresser — Sulpost
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Lula reunido com os Davi Alcolumbre e Hugo Motta - Agência Brasil |
Havia, naquela mesa do Palácio da Alvorada, pratos e conversas que valem mais do que votos: valem meses de economia doméstica, a diferença entre pagar a feira ou apertar ainda mais o orçamento. Um almoço entre o presidente Lula, o presidente do Senado Davi Alcolumbre e o presidente da Câmara Hugo Motta cristalizou a decisão política de levar ao plenário, nesta quarta-feira (1º), a votação da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5.000 por mês.
O que está em jogo
Para milhões, a medida não é abstrata: representa renda que fica no bolso, contas que não viram dívida e pequenas margens que significam dignidade. Estimativas oficiais e análises técnicas apontam que a medida pode beneficiar cerca de 10 milhões de brasileiros e ter impacto orçamentário relevante — na casa das dezenas de bilhões por ano (em torno de R$ 25,8 bilhões para 2026, segundo reportagens que acompanharam a tramitação).
O Senado acelerou o debate ao aprovar, em Comissão de Assuntos Econômicos, um texto terminativo que também prevê isenção para rendas até R$ 5 mil e regras para descontos graduais para faixas superiores — manobra que pressiona a Câmara a votar com celeridade.
Entre o texto fechado e as resistências
Do lado do Executivo e do centro costurado no Congresso, há a sensação de que um texto “fechado” pode sair do papel — mas na prática o caminho é pontilhado de emendas, negociações e riscos políticos. A liderança já oficializou que o PL 1.087/2025 será a pauta exclusiva desta quarta-feira, numa tentativa de blindar a votação. Ao mesmo tempo, frentes internas do PL (partido do ex-presidente Bolsonaro) ensaiam estratégias de obstrução parlamentar — tática que, se eficaz, atrasa a votação, muda o calendário de vigência e aumenta a insegurança sobre quando o alívio chegará ao trabalhador.
Para quem depende do salário todo mês, cada atraso é um rombo que não se negocia: é comida, conta de luz, escola. O debate técnico sobre compensações fiscais — por exemplo, tributar maiores rendas com alíquotas progressivas ou ajustar outras bases tributárias — existe, mas não pode transformar urgência social em espetáculo parlamentar.
Histórias que valem uma lei
Entre as estatísticas, há nomes e cozinhas: dona Maria que tira a renda do marido para completar as contas; o jovem que trabalha de madrugada e não vê sentido em pagar imposto sobre um salário que mal cobre ônibus e refeição; a professora que paga aluguel e compra material para a escola com parte do próprio salário.
Quando o Congresso conversa em abstrato, essas vidas ficam nas margens. Aprovar a isenção é, antes de tudo, uma decisão sobre o tipo de país que queremos ser: um em que a lei reflita o esforço de quem trabalha, e não a indiferença por trás de votos e manobras.
Como participar — um caminho cidadão (não direcionado a nenhum grupo)
A democracia pede voz ativa. Se você quer que o projeto seja votado sem obstruções que retardem sua aplicação, há formas concretas e legítimas de agir sem partir para agressões: contatar representantes, organizar pedidos coletivos e registrar demandas nas redes e gabinetes. Abaixo, um roteiro prático que qualquer eleitor pode usar para cobrar seu(a) deputado(a) federal — independente de filiação partidária.
- Localize seu deputado(a) federal — consulte o site da Câmara dos Deputados ou procure pelo nome do parlamentar no Google com o termo “gabinete” para achar telefone, formulário e e-mail.
- Mensagens claras e respeitosas — expresse que você apoia a isenção para rendas até R$ 5.000 e que espera que o(a) parlamentar não use obstrução para adiar a votação. Seja breve: apresente sua situação (por exemplo, “sou eleitor(a) do seu estado, trabalho com X e dependo da renda mensal para Y”) e peça resposta.
- Use um modelo prático (sugestão) — este texto é genérico e serve para qualquer eleitor:
Prezado(a) Deputado(a) [Nome],
Sou eleitor(a) do estado de [Seu Estado] e venho respeitosamente solicitar que o(a) senhor(a) apoie a votação rápida e sem obstruções do projeto que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5.000 mensais. Essa medida tem impacto direto na renda das famílias trabalhadoras do nosso estado. Aguardo sua posição e agradeço a atenção.
Atenciosamente,
[Seu nome] — [Cidade / Estado]
- Organize pressão pública honesta — mensagens em massa bem articuladas (via redes sociais, abaixo-assinados e e-mails) têm peso político. Peça a amigos e familiares que também escrevam — diversidade de vozes ajuda mais do que mil mensagens idênticas.
- Acompanhe a tramitação — verifique a pauta da Câmara na data marcada e peça posicionamento se houver sinais de obstrução. Cobrança cidadã é legítima; desqualificações pessoais não.
Observação: esta orientação é pensada para qualquer eleitor que queira participar do processo democrático. Não é direcionada a grupos partidários específicos.
Um ultimato moral
A política tem seus ritos, mas quando o rito significa adiar o pão do outro, perde a humanidade. A votação desta quarta-feira será um teste: o Congresso age em função da vida ou do espetáculo? A resposta, no fim, não será dos presidentes de mesa ou dos operadores parlamentares — será a conta no bolso do brasileiro.
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