BRDE anuncia R$ 200 milhões em crédito emergencial para empresas paranaenses afetadas pelas tarifas de 50% impostas por Donald Trump — pacote faz parte de um esforço estadual que pode chegar a R$ 400 milhões para preservar empregos e a economia do estado
Por Ronald Stresser | SulpostBRDE formaliza crédito de R$ 200 milhões para o Paraná vencer o tarifaço dos EUA - Foto: Claudio Neves |
Quando a notícia chegou do outro lado do continente, o impacto foi imediato. Empresários paranaenses que há décadas constroem pontes comerciais com os Estados Unidos foram pegos de surpresa por uma nova barreira: o governo de Donald Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros, com vigência a partir de 6 de agosto. No Paraná, o golpe veio seco: madeira reflorestada, carnes, móveis, erva-mate, cerâmica e outros produtos estratégicos ficaram fora da lista de exceções.
Agora, diante do baque, o Paraná busca respirar. E o alívio começa a tomar forma.
Nesta sexta-feira (1º), o Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE) anunciou um pacote emergencial de crédito no valor de R$ 200 milhões, voltado exclusivamente às empresas e cooperativas paranaenses que foram afetadas pelas novas tarifas impostas pelos EUA. A medida, articulada com o Governo do Estado, visa preservar empregos, manter cadeias produtivas e, sobretudo, impedir que o tarifaço transforme uma crise comercial em uma tragédia social.
Linha de crédito salvadora
A nova linha do BRDE será destinada ao financiamento de capital de giro, com prazos de até cinco anos e um ano de carência. Os juros — IPCA + 4% ao ano — são menores do que boa parte das opções hoje disponíveis no mercado financeiro, fruto de uma política deliberada do Estado para socorrer quem precisa. Os valores vão de R$ 500 mil a R$ 10 milhões por empresa, dependendo da capacidade de pagamento de cada tomador.
“Nosso compromisso é com o chão de fábrica, com o pequeno empresário do interior, com as cooperativas e indústrias que são o coração da nossa economia. Essa linha de crédito é uma resposta concreta, imediata, para quem não pode esperar”, afirmou o governador Ratinho Junior.
Para acessar o crédito, as empresas deverão comprovar que foram atingidas pelas tarifas norte-americanas, apresentando histórico de exportações para os EUA ou evidências como demissões recentes e férias coletivas. Também serão analisados casos de empresas que já possuem financiamentos com o banco e que, devido à dificuldade de exportar, não estão conseguindo arcar com as parcelas — com possibilidade de postergação dos pagamentos.
Pedidos acima de R$ 10 milhões poderão ser avaliados dentro de outras linhas do BRDE.
Um Estado que se mobiliza
A medida não vem sozinha. O Governo do Paraná autorizou o repasse de R$ 43 milhões dos dividendos do próprio BRDE — recursos de juros sobre capital próprio — para que o banco tenha lastro suficiente e consiga oferecer dinheiro mais barato no mercado, com foco no fôlego imediato de quem emprega e produz.
Além disso, a Fomento Paraná disponibilizará uma linha paralela de R$ 200 milhões para micro e pequenas empresas, com foco em valores abaixo de R$ 500 mil. A instituição oferecerá atendimento personalizado e poderá renegociar dívidas de pequenos negócios comprovadamente afetados pelas tarifas de Trump.
“Esse é um momento delicado da economia e as empresas terão apoio total do Poder Público Paranaense. A Secretaria da Fazenda está em campo, ouvindo setores e acompanhando cada caso”, garantiu o secretário estadual da Fazenda, Norberto Ortigara.
Prejuízo direto ao Paraná
O prejuízo é claro e imediato. Segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), de um total de US$ 1,59 bilhão exportado pelo Paraná aos EUA em 2024, apenas 2,7% (US$ 42,4 milhões) foram contemplados com exceções à tarifa.
Em contraste, 43,4% das exportações nacionais foram poupadas, de acordo com levantamento da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (AMCHAM). A razão é estrutural: os principais itens brasileiros que escaparam da tarifa — petróleo bruto, ferro e aviões — não fazem parte da pauta de exportações do Paraná. Já o Estado é fortemente dependente de setores como o madeireiro reflorestado, que não foi considerado como “madeira tropical” e ficou de fora da exceção.
Setores como o de móveis, carnes, chá, mel, couro, peixes e a tradicional erva-mate — símbolo da cultura sulista — também foram atingidos em cheio.
“Estamos falando de cadeias produtivas que geram milhares de empregos no interior do Estado, em cidades onde a economia depende quase exclusivamente desses setores”, alerta Ortigara.
Esperança de reversão
Ratinho Junior também cobrou ação do governo federal para tratar diretamente com os Estados Unidos.
“Estamos trabalhando diretamente com os setores atingidos para apresentar as medidas e esperamos que o governo brasileiro, via Itamaraty, consiga dialogar com os EUA para reverter essa posição ao longo das próximas semanas”, afirmou o governador.
O Estado também anunciou outras medidas complementares: empresas poderão utilizar créditos de ICMS homologados no Siscred para reforçar o fluxo de caixa e poderão postergar compromissos de investimento já firmados. Um novo aporte de capital no Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE) também está em estudo para ampliar o alcance do socorro financeiro.
Ponte sobre águas turbulentas
Em meio a um cenário internacional conturbado, o Paraná tenta proteger o que construiu ao longo de décadas. São milhares de empresários e trabalhadores que vivem do comércio exterior e que agora, diante de uma decisão unilateral da Casa Branca, veem suas rotinas ameaçadas.
A resposta do Estado é clara: não deixar ninguém para trás. O pacote de medidas, que pode alcançar R$ 400 milhões somando as ações do BRDE e da Fomento Paraná, é mais do que um socorro financeiro. É uma demonstração de que, mesmo diante de uma política externa hostil, o Paraná continua escolhendo estar ao lado de quem produz, emprega e sustenta a economia real.
📍Com informações da AEN/PR.
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