No centro de Jaú, interior de São Paulo, uma mensagem em letras garrafais atravessa o asfalto, invade as redes sociais e não deixa espaço para dúvidas: "SOBERANIA NÃO SE NEGOCIA"
Por Ronald Stresser | Sulpost![]() |
Outdoor em Jaú-SP, em frente a um shopping, com a frase “Soberania não se negocia” - Divulgação |
O outdoor, estrategicamente colocado de frente para o shopping mais movimentado da cidade, traz a bandeira do Brasil como pano de fundo. Não é propaganda. Não vende nada. É um gesto coletivo, silencioso, mas que ecoa. Um grito que se materializa em letras garrafais, feito por moradores preocupados com o futuro do país.
A ação nasceu da inquietação de um grupo que, diante das das sobretaxas de 50% sobre produtos brasileiros anunciadas por Donald Trump — medidas que entraram em vigor na última quarta-feira (6) — decidiram ocupar o espaço físico para reafirmar um princípio: soberania não se negocia. Em poucos dias, eles se cotizaram e financiaram a colocação do outdoor.
“Às vezes é preciso falar com as pessoas na rua, no olho, no espaço real, e não apenas nas redes sociais”, explicou ao Sulpost um dos idealizadores, lembrando que a comunicação política vai muito além dos algoritmos.
Um país se mobiliza
Enquanto Jaú se expressa com arte e coragem, Brasília se movimenta nos bastidores. Uma força-tarefa, coordenada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), continua tentando negociar alternativas com interlocutores americanos, tanto do governo quanto da iniciativa privada. O objetivo é evitar que a sobretaxa de 50% se transforme em um embargo comercial real, pois já afeta vários setores da economia, como o madeireiro, piscicultura e cafeicultura, por exemplo.
Olavo Noleto, secretário do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, resumiu recentemente este sentimento nacional em uma entrevista à CNN:
“Soberania não se negocia.”
O trabalho do governo é detalhado e minucioso, avaliando cada setor, cada empresa e até o CNPJ individual, para compreender os impactos reais da medida americana.
“Dentro do mesmo setor, há quem exporte 30% para os EUA e quem exporte 90%. É preciso olhar isso com calma, carinho e solidariedade”, explica Noleto.
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Close do outdoor, mostrando que a criatividade do povo brasileiro se sobrepõe às redes sociais dos EUA - Divulgação |
Da rua para o país
Se o pessoal da diplomacia de Brasília atua nas negociações de maneira discreta, Jaú escolheu ocupar o espaço visível da cidade. O outdoor chamou atenção imediata, e fotos começaram a circular nas redes sociais, mas agora como consequência, não como ponto de partida. A mensagem transformou o cotidiano da cidade: virou motivo para moradores puxarem conversa em filas de supermercado, motivo de debate nos cafés, bares, comércios e nas ruas.
É um grito silencioso, mas que ecoa, mostrando o poder do texto. Um lembrete de que há princípios maiores que qualquer negociação comercial. Que a soberania, patrimônio de todos, precisa ser defendida com coragem e união, independente de correntes ideológicas.
O outdoor de Jaú não derruba tarifas sozinho. Mas faz algo ainda mais valioso: lembra o país de sua força e do que está em jogo, de que há ideias que resistem, que se levantam e que jamais se dobram.
Se um país é feito de muitos contrastes, certamente a questão patriótica não o é. Ou se é patriota, ou não. Chama atenção que enquanto Jaú mostra seu patriotismo, de fronte a um Shopping Center — um dos maiores símbolos da cultura estadunidense — Curitiba, capital do Paraná, se prepara para um "Natal Disney". O que dizer disso?
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