Brasil tem as cartas nas mãos: terras raras e minerais críticos podem entrar na mesa de negociação com os EUA
Por Ronald Stresser | Sulpost
© Lula Marques/Agência Brasil |
O Brasil começa a descobrir a força silenciosa de suas riquezas subterrâneas. Em meio à escalada comercial promovida por Donald Trump — que ameaça taxar produtos brasileiros em até 50% a partir desta quarta-feira (6) — o país dá sinais de que não irá para o embate de cabeça baixa. E pode, inclusive, colocar em jogo um trunfo valioso: as terras raras e os minerais críticos.
A afirmação veio do próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta segunda-feira (4), em entrevista à BandNews. Com o tom sereno de quem entende as engrenagens econômicas e políticas do mundo, Haddad disse, com todas as letras, que há possibilidade de um acordo bilateral com os Estados Unidos envolvendo minerais estratégicos como lítio e nióbio — ambos essenciais para o futuro da energia e da tecnologia global.
“Temos minerais críticos e terras raras. Os Estados Unidos não são ricos nesses minerais. Podemos fazer acordos de cooperação para produzir baterias mais eficientes”, afirmou o ministro.
O novo petróleo do século XXI
Longe dos olhos do público geral, minerais como o lítio, o nióbio e as chamadas terras raras tornaram-se peças-chave de uma disputa silenciosa entre as potências do século XXI. São eles que alimentam os processadores de inteligência artificial, os carros elétricos, os satélites, os data centers e as novas tecnologias de defesa.
E o Brasil? Está no centro desse mapa estratégico. Possui a segunda maior reserva de terras raras do mundo e é um dos principais produtores de nióbio — usado em supercondutores e ligas metálicas leves e resistentes.
Com os EUA à beira de um tarifaço generalizado contra produtos brasileiros, essa riqueza pode virar moeda de negociação.
Plano de contingência em andamento
Na mesma entrevista, Haddad revelou que o governo brasileiro já tem um plano de contingência pronto para minimizar os efeitos da retaliação americana sobre a economia nacional. O anúncio das medidas está previsto para esta quarta-feira (6), exatamente o dia em que a nova política tarifária deve entrar em vigor.
Entre os instrumentos já definidos, estão linhas especiais de crédito e apoio público para compras governamentais nos setores mais atingidos. A articulação vem sendo conduzida em conjunto com o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
“O Brasil não vai sair da mesa de negociação. Mas também não vai se submeter a um acordo que não faz o menor sentido”, disse Haddad. “Esses termos, como estão, são inaceitáveis.”
Café e outros setores podem escapar
Um dos setores que pode respirar mais aliviado é o de exportação de café. Após reunião com Alckmin, o presidente do Cecafé, Marcio Ferreira, afirmou que há 50% de chance de o setor ser excluído da tarifa de 50%.
A esperança é que novas exceções à regra americana sejam anunciadas até o dia 6. Haddad não cravou nenhuma garantia, mas deixou claro que há espaço para avanços diplomáticos.
“Creio que alguma coisa ainda pode acontecer. Não trabalhamos com data fatídica”, declarou.
O futuro em jogo
O que está em disputa vai além das tarifas. É a autonomia brasileira frente às cadeias produtivas globais, é a revalorização do que o país tem de mais estratégico, é o posicionamento geopolítico de uma nação que quer ser ouvida — e respeitada.
Num mundo em que os recursos naturais voltaram a ditar as regras do jogo, o Brasil tem cartas poderosas nas mãos. Se vai saber jogá-las com inteligência e coragem, o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: as negociações com os Estados Unidos deixaram de ser apenas comerciais. Agora, são também geopolíticas.
📍Com informações da Agência Brasil, entrevista à BandNews e declarações oficiais de Fernando Haddad e Geraldo Alckmin. Edição: Ronald Stresser.
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