segunda-feira, 7 de julho de 2025

PT têm as eleições mais polêmicas de sua história recente

Eleições no PT: democracia interna posta à prova em meio a adiamentos, incertezas e silêncio sobre resultados

Por Sulpost | Reportagem especial | Stresser

 
 

Era para ser só alegria, uma verdadeira festa da democracia partidária, um momento de reafirmação dos compromissos históricos do Partido dos Trabalhadores (PT) com a participação de suas bases, a transparência e o respeito às divergências. Mas o domingo, 6 de julho de 2025, terminou sem resultados oficiais, com diretórios silenciosos, eleitores frustrados e a sombra de um paradoxo no processo democrático interno da legenda que, há mais de quatro décadas, representa uma parte gigantesca do campo progressista brasileiro.

O processo de escolha das novas direções municipais, estaduais e nacional do PT — que mobilizou milhares de filiados e lideranças em todo o país — terminou como começou: cercado de ruídos, decisões contestadas, embates judiciais e uma enorme ausência de informações claras e diretas à imprensa e filiados.

Em Minas Gerais, o terceiro maior colégio eleitoral da legenda, a votação sequer aconteceu. E, mesmo após o encerramento da eleição no restante do país, o resultado segue indefinido.

“É a eleição mais polêmica da história recente do partido”, resume uma fonte petista ouvida pelo Sulpost, sob reserva. E não é por acaso.

Minas Gerais no centro do impasse

A judicialização do processo em Minas transformou o Estado em epicentro da crise. A deputada federal Dandara Tonantzin, pré-candidata à presidência estadual, teve sua candidatura impugnada por suposta inadimplência com o partido. Segundo a direção nacional, havia uma dívida de acordo e contribuições partidárias em aberto. Dandara, por sua vez, afirma que não teve direito ao contraditório antes da decisão, e após apresentar documentos que comprovariam erro bancário, obteve decisão favorável do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (DF).

O tempo, no entanto, jogou contra. Com a decisão judicial saindo às vésperas da eleição, o partido alegou não conseguir imprimir e distribuir as cédulas a tempo. Resultado: a votação em Minas foi adiada, e o pleito nacional ficou sem 10% dos votos previstos — número suficiente para adiar a divulgação do novo presidente do PT.

O senador Humberto Costa, atual presidente interino da legenda, criticou a judicialização. “Entendemos que as decisões do partido devem ser tomadas no âmbito do partido”, declarou à imprensa, destacando que o Diretório Nacional já havia se posicionado majoritariamente contra a candidatura de Dandara. Mas essa defesa do “foro interno” parece, na prática, esconder uma ferida mais profunda: a fragilidade dos mecanismos internos de mediação de conflitos e a resistência histórica dos partidos políticos brasileiros à transparência em processos internos.

Silêncio e opacidade: cadê os resultados?

Para além da judicialização, o maior incômodo sentido por filiados, militantes e por nós da imprensa, é a falta de informação. Passadas 24 horas do encerramento da votação, os resultados dos diretórios municipais e estaduais seguem sem qualquer divulgação oficial por parte do PT. Por que o PT não adotou às urnas eletrônicas? Por que não divulgar os demais resultados?

Nenhuma lista com totalizações municipais, estaduais e regionais, nenhum boletim preliminar, nenhum comunicado oficial detalhado.

A ausência de transparência do PT em falar para fora tem chamado a atenção, especialmente em um partido que, historicamente, foi referência na construção de instâncias de base e no protagonismo das zonais e diretórios locais. As atuais lideranças parecem muito hábeis em falar para dentro, mas carecem da iniciativa ao falar para fora, para a maioria, que mesmo sem ter filiação partidária, confia nos políticos do PT.

“Estamos no escuro. Militantes, apoiadores, imprensa — ninguém sabe de nada. Isso é inadmissível num partido que prega a participação, o progresso, a democracia e o controle social das instituições públicas e privadas”, reclama uma militante do PT do Paraná. “Tá dando muita treta”, diz um antigo filiado ao partido.

Nem mesmo as tendências internas mais organizadas conseguiram avançar em estimativas confiáveis. A disputa nacional entre Edinho Silva — ex-prefeito de Araraquara, aliado de Lula e favorito ao cargo — e os demais concorrentes está sendo conduzida longe dos olhos da base. Um silêncio ensurdecedor, que ameaça contaminar a legitimidade do resultado final, mesmo que este venha a confirmar a ampla vantagem esperada para Edinho. Episódio que lembra quando racistas questionaram o resultado quando Dilma foi eleita.

O que está em jogo?

Mais do que nomes, a eleição de 2025 redefine o rumo do PT às vésperas de um importantíssimo ciclo eleitoral. Em 2026, o Brasil escolherá seu próximo presidente da República. Internamente, o partido busca se reposicionar frente a um governo de coalizão que desafia sua identidade tradicional. A escolha de Edinho Silva, que representa um setor mais moderado e conciliador, aponta para a manutenção da estratégia de alianças amplas e governabilidade. Mas há quem veja nessa movimentação um afastamento da militância, das pautas populares, das bases e das lutas históricas do campo progressista.

Em paralelo, movimentos como o da deputada Dandara — mulher negra, jovem, oriunda da periferia e das lutas antirracistas — revelam uma disputa mais profunda: quem fala pelo PT hoje? E quem pode disputar o futuro da legenda? Ao judicializar a candidatura, Dandara não apenas adiou uma eleição, mas escancarou um conflito entre gerações, métodos e visões de mundo e forma de se fazer política.

Crítica construtiva

Como veículo independente, enraizado no campo progressista e comprometido com a democracia participativa, o Sulpost faz um apelo público à direção nacional do PT: que haja transparência, que se publiquem os resultados municipais e estaduais, que se respeite o direito à informação da militância e do público.

A falta na divulgação de dados e o controle centralizado da narrativa enfraquecem não apenas o partido, mas o próprio campo popular. A democracia se constrói na luz, com confronto de ideias e respeito aos processos. Se o PT pretende manter sua relevância histórica em alta, deve liderar pelo exemplo — e não pelo silêncio, contrário ao próprio governo que fez da transparência um dos nortes do país.

Passando a régua, até agora, no final das contas, a eleição mais polêmica da história do partido só terá validade se for, também, a mais democrática. O partido precisa evoluir com o país, e também adotar o formato eletrônico de votação do TSE. Democracia exige mais do que cédulas ou números digitados na urna: exige coragem, escuta e, acima de tudo, verdade e transparência.

Atualização: por volta das 19h13 Edinho Silva foi oficialmente declarado eleito em 1º turno no PED 2025 nacional do Partido dos Trabalhadores.

Ronald S. Stresser Jr., para o Sulpost.

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