domingo, 6 de julho de 2025

Brasil registra queda histórica nas queimadas no primeiro semestre de 2025

Esperança retratada em chamas que não se acenderam: Brasil registra queda histórica nas queimadas no primeiro semestre de 2025

Por Ronald Stresser | Sulpost
 
 

Em tempos de emergência climática, quando os olhos do mundo se voltam com angústia para cada hectare de floresta devastada, o Brasil traz um sopro de alívio. Pela primeira vez em muitos anos, o país assistiu a uma queda expressiva nas áreas queimadas durante o primeiro semestre: uma redução de 65,8% em relação ao mesmo período de 2024. Uma cifra que, mais do que estatística, é respiro — para os biomas, para as comunidades e para quem luta, diariamente, pela preservação da vida em sua forma mais ampla.

De janeiro a junho deste ano, cerca de 1 milhão de hectares foram consumidos pelo fogo no Brasil. Ainda é muito — qualquer hectare em chamas já é perda. Mas é um terço dos 3,1 milhões devastados no mesmo período do ano passado. Um dado que reacende a confiança de que, com ação coordenada e vontade política, é possível virar o jogo contra a destruição ambiental.

As informações vêm do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Mais do que números, os dados revelam um país que começa a colher os frutos de uma política ambiental mais firme e estruturada.

Do sufoco ao alívio: a resistência dos biomas

A imagem que fica de 2024 ainda é dolorosa: a Amazônia enfrentou o maior número de queimadas em 17 anos. Agora, a floresta respondeu com vigor. A área queimada caiu 75,4%, graças a uma combinação de políticas públicas, brigadistas atuantes e ações de manejo que devolveram parte da esperança aos povos da floresta e às espécies ameaçadas.

O Pantanal, joia hídrica da América do Sul e um dos biomas mais frágeis ao fogo, surpreendeu com uma redução de 97,8% no território queimado. De mais de 600 mil hectares atingidos em 2024, o bioma sofreu este ano com pouco mais de 13 mil. O impacto positivo é sentido nas águas, nos pássaros que retornam e nos peixes que escaparam das cinzas.

Também a Mata Atlântica, historicamente pressionada por séculos de devastação, registrou queda de 69,7%, enquanto o Cerrado, berço das águas brasileiras, viu as chamas recuarem 47%.

Mas nem todos os dados são motivo de celebração. Caatinga e Pampa, biomas que costumam receber menor atenção midiática e institucional, apresentaram aumento nas áreas queimadas: 10,2% e 38,2%, respectivamente. O alerta acende para a necessidade de políticas mais equânimes que reconheçam a diversidade e a importância de todos os biomas brasileiros, sem exceção.

Quando o fogo se apaga, a política acende

Por trás da redução histórica, há estratégia. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o avanço só foi possível graças à intensificação de ações de enfrentamento, à ampliação do número de brigadistas — um incremento de 26%, totalizando 4.385 profissionais — e ao investimento robusto de R$ 405 milhões do Fundo Amazônia, voltado ao fortalecimento dos Corpos de Bombeiros na Amazônia Legal.

Além disso, a criação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo trouxe o que talvez fosse mais urgente: articulação. Governos estaduais, municipais, universidades, setor privado e comunidades passaram a trabalhar juntos, reconhecendo que enfrentar as queimadas é uma missão coletiva, que não se vence com discursos vazios nem com ações isoladas.

Prevenir e combater os incêndios é prioridade absoluta do governo do presidente Lula”, afirma o Ministério. A frase, embora institucional, representa a mudança de tom e postura no trato com o meio ambiente. Depois de anos de desmonte e negacionismo, o Brasil volta a tentar se reerguer como guardião de seus ecossistemas.

Focos de calor: uma nação menos incendiada

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectou, entre janeiro e junho de 2025, 19.277 focos de calor em todo o país — contra 35.938 no mesmo período do ano anterior. A queda de 46,4% nos focos é mais um indício de que as chamas não encontraram o mesmo espaço para se alastrar.

É claro que a luta está longe de terminar. A crise climática ainda impõe desafios diários. Secas extremas, mudanças nos regimes de chuva e o avanço da fronteira agrícola continuam pressionando os biomas. Mas o recuo das queimadas mostra que é possível enfrentar esses desafios com seriedade, ciência e compromisso.

Vozes da floresta

No coração do Xingu, a indígena Tainá Yawalapiti acompanhou com alívio a redução das queimadas em sua região. “O fogo que vem de fora não é o mesmo que usamos para cuidar da terra. O fogo que destrói é o fogo do descaso. Hoje, estamos sendo ouvidos”, disse, emocionada.

Já no Pantanal, o biólogo Marcelo Campos celebra a volta dos tuiuiús e das ariranhas, que haviam sumido após os grandes incêndios de 2020 e 2024. “Pela primeira vez em anos, não começamos julho respirando fumaça. Isso tem valor que nenhum número traduz”, afirma.

Passo adiante

A diminuição das queimadas no Brasil em 2025 não é o fim do problema. Mas é, sem dúvida, um marco. É o começo de uma nova narrativa, onde o fogo não é sinônimo de destruição inevitável, mas um lembrete de que a mudança é possível.

E ela está acontecendo — onde há floresta que renasce, onde há água que retorna, onde há gente que insiste em resistir.

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