Pink Floyd relança sua performance mais hipnótica com som e imagem restaurados, devolvendo aos fãs a magia crua e intocada de um dos encontros mais lendários entre música e história
Por Ronald Stresser, fã do Pink Floyd
Em outubro de 1971, quatro jovens ingleses tomaram para si um dos palcos mais improváveis da história: as ruínas de Pompeia, soterradas havia quase dois milênios. Nenhum aplauso, nenhuma multidão. Apenas o vento cortante, o sol impiedoso e as pedras milenares como testemunhas silenciosas. Era o Pink Floyd em sua fase mais criativa e ousada, registrando ali um dos momentos mais místicos do rock psicodélico.
Mais de meio século depois, esse ritual sonoro ressurge com força total: o filme Pink Floyd at Pompeii acaba de ser restaurado em 4K, com áudio remasterizado e cenas inéditas. Para os fãs, é mais que um relançamento — é uma viagem no tempo, com parada obrigatória no coração da história da banda.
Tudo começou com um passaporte perdido
A ideia de filmar um concerto sem plateia em meio às ruínas nasceu de um acidente quase poético. Durante uma visita a Pompeia, o diretor Adrian Maben perdeu seu passaporte. Ao voltar para procurar, se deparou com um anfiteatro vazio, onde só o silêncio parecia ocupar os assentos. Ali, imaginou o Pink Floyd tocando para a eternidade.
O resultado foi um filme cru, livre de efeitos ou artifícios, que capturou a essência do grupo pouco antes de atingir o estrelato com The Dark Side of the Moon. Mais que um show, Live at Pompeii se tornou um documento histórico da fase mais experimental da banda.
Agora, a nova versão — batizada de Pink Floyd at Pompeii – MCMLXXII — foi restaurada com esmero a partir dos negativos originais de 35 mm, encontrados por acaso em latas esquecidas. Sob a liderança de Lana Topham, a imagem foi reconstruída quadro a quadro. O som, por sua vez, ganhou nova mixagem assinada por Steven Wilson, e finalmente corrigiu um erro quase imperceptível: por mais de 50 anos, as gravações estavam quase meio tom acima da afinação real.
Echoes, a alma de Pompeia
É impossível falar de Pompeia sem falar de “Echoes”. Com seus quase 25 minutos de duração, a faixa é mais do que música — é um transe, uma comunhão entre som e espaço. Em Pompeia, ela se transforma numa espécie de oração psicodélica que dialoga com o silêncio milenar das pedras.
Mas o filme não vive só de “Echoes”. Há a tensão crescente de “A Saucerful of Secrets”, o baixo ameaçador de “One of These Days”, os gritos de “Careful with That Axe, Eugene”. Cada faixa, ali, parece respirar o ar rarefeito da cidade soterrada.
A nova edição ainda traz pérolas dos bastidores nos lendários estúdios Abbey Road, onde o Floyd já gestava seu próximo salto quântico: The Dark Side of the Moon. Ver a banda entre cabos, sintetizadores e máquinas de fita, trocando ideias e risadas, é quase como estar presente.
A viagem agora é imersiva
A restauração chega também às telonas — inclusive em salas IMAX — transformando o que antes era uma relíquia cult em uma experiência cinematográfica de tirar o fôlego. É como estar ali, sentado entre os fantasmas de Pompeia, sentindo cada nota reverberar nas pedras.
O lançamento também inclui versões em CD, vinil, Blu-ray e plataformas digitais. Uma nova chance para colecionadores e iniciados levarem para casa uma das obras mais intensas e ousadas do Pink Floyd.
Mais que memória, legado vivo
Pink Floyd at Pompeii nunca foi apenas um filme de show. É um documento poético, uma carta do passado para o futuro. Agora, restaurado com todo o cuidado que merece, ele ganha nova vida — e talvez, para muitos, mais sentido do que nunca.
Porque algumas músicas não envelhecem. Elas apenas aguardam o momento certo para serem redescobertas. E Pompeia, com sua beleza estática e sua história trágica, ainda guarda o eco de um tempo em que o rock ousou falar com as ruínas.
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