quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Decisão de Dino pode gerar crise institucional

A recente decisão do ministro Flávio Dino, de suspender 4,2 bi em emendas pix, pode resular em uma crise nas já fragilizadas relações institucionais entre Executivo, Legislativo e Judiciário

Por Ronald Stresser / Dezembro de 2024
 
 
Lula (PT) e Lira (PP). Foto: Valter Campanato/Agência Brasil.
 

A suspensão do pagamento das emendas pix trouxeram à tona mais um capítulo na já delicada relação entre os Poderes da República. A decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de suspender o pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares, deixa visíveis as fraturas de uma crise que ameaça conturbar o processo de aprovação do Orçamento de 2025, comprometendo a relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário.

A decisão que mexeu com o jogo político

Na véspera do feriado de Natal, Dino acolheu uma representação do PSOL, que apontava irregularidades na destinação das emendas. De acordo com o partido, as verbas foram indicadas sem a devida aprovação prévia pelas comissões parlamentares responsáveis, em um processo descrito como “opaco” e contrário aos princípios de transparência exigida pela coisa pública. A decisão do ministro, além de barrar o pagamento, determina a abertura de um inquérito policial federal para investigar possíveis irregularidades.  

“Fica uma situação muito delicada. O Parlamento toma uma medida, o Executivo corrobora, e aí vem o Judiciário e corta”, declarou o senador Ângelo Coronel (PSD-BA), que é o relator do Orçamento de 2025. Para o deputado, a decisão lança um desafio adicional para a votação da Lei Orçamentária Anual (LOA), já adiada para o próximo ano.

Reação no Congresso e no Governo

A suspensão das emendas provocou reações imediatas no Congresso. Deputados e senadores, especialmente aqueles que dependiam da execução dessas verbas, acusaram o Judiciário de interferir em prerrogativas legislativas. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), reuniu-se com o presidente Lula no Palácio da Alvorada, em busca de estratégias para reverter ou contornar os impactos da decisão.  

Do lado do governo, a equipe econômica, liderada pelo ministro Fernando Haddad, enfrenta um cenário ainda mais complicado. Após semanas de intensas negociações para aprovar o pacote de medidas fiscais, a decisão de Dino reacendeu temores de instabilidade política. “O que deveria ser um momento de consolidação das reformas tornou-se um jogo de incertezas”, afirmou uma fonte próxima ao Planalto.

Tensão entre os poderes

A crise vai além da suspensão das emendas. Parlamentares já questionam se o Executivo teve algum papel na decisão de Dino, dado o contexto em que ela ocorreu. Embora o senador Coronel tenha ressaltado a necessidade de trabalhar com a presunção de inocência, não deixou de apontar que, se houver alguma articulação por trás da medida, isso representaria “um marco histórico” na relação entre os Poderes.  

Ao mesmo tempo, a avaliação nos bastidores do governo é de que a decisão “esfriou” o clima para novos avanços legislativos, alimentando especulações sobre a inclusão de “jabutis” — emendas que alteram projetos originais — no Orçamento.  

Um caminho para o diálogo

Com a troca iminente de lideranças no Congresso, Coronel sugeriu que o início do próximo ano seja marcado por um esforço de pacificação. “Precisamos de uma reunião entre os três Poderes. Do jeito que está, as brigas só aumentam e quem perde é o Brasil”, afirmou o senador.  

Enquanto isso, a Advocacia-Geral da União (AGU) e o Palácio do Planalto trabalham para mapear os impactos da decisão e buscar uma saída institucional. A promessa de cumprir integralmente a determinação do STF é vista como uma tentativa de manter a integridade das negociações futuras.  

Um fim de ano sem conclusão

A suspensão das emendas deixou o Congresso em uma encruzilhada. A LOA de 2025 segue pendente, e a relação entre os Poderes, fragilizada. No horizonte, o Brasil observa, apreensivo, a possibilidade de que novas rusgas entre Executivo, Legislativo e Judiciário atrasem ainda mais os avanços necessários para a economia e a estabilidade política.  

Em meio ao turbilhão, resta a esperança de que o diálogo prevaleça. Afinal, o Brasil não pode se dar ao luxo de um impasse prolongado em um momento tão crucial.

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