quarta-feira, 16 de abril de 2025

Tarifas dos EUA: análise da BlackRock aponta trégua tática

Com a mão no freio, mas sem voltar para trás: o que diz o alívio temporário nas tarifas dos EUA e por que o mundo ainda está em alerta

Por Ronald Stresser*

 
 

Depois de semanas de tensão nos mercados e um vaivém de declarações e medidas protecionistas, os Estados Unidos decidiram apertar o freio — ainda que levemente. A pausa de 90 dias nas tarifas “recíprocas” impostas a todos os países, com exceção da China, trouxe um alívio imediato às bolsas, mas o movimento da Casa Branca não foi um recuo: foi um ajuste tático em meio ao próprio caos que ajudou a criar. É o que aponta a análise do BlackRock Investment Institute, publicada nesta segunda-feira (14), com implicações que ecoam bem além de Wall Street.

O suspiro (curto) do mercado

O que se viu na última semana foi uma reação imediata à pausa tarifária. O S&P 500 subiu quase 6% em poucos dias, incluindo uma das maiores altas diárias da história do índice. Mas o alívio, como tudo neste novo cenário de guerra comercial prolongada, tem prazo de validade. O índice ainda está 13% abaixo de seu pico registrado em fevereiro. O dólar despencou para mínimas de três anos frente às principais moedas, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro americano dispararam. Para o investidor, o recado é claro: a volatilidade virou rotina.

Inflação na mira, recessão no retrovisor

Segundo o BlackRock, o impacto mais concreto das tarifas americanas continua sendo o aumento da inflação interna. Com taxas efetivas médias próximas de 20% — incluindo absurdos 145% para alguns produtos chineses —, os preços sobem, a confiança do consumidor cai e os investimentos corporativos tendem a minguar. A incerteza prolongada, dizem os analistas, “eleva o risco de uma recessão” e “pode corroer a confiança de investidores estrangeiros nos ativos dos EUA”.

É um ciclo que se retroalimenta: tarifas elevam custos, que reduzem consumo e produção, o que freia crescimento e pode exigir estímulos — justamente o que o governo tenta evitar ao apertar o cinto fiscal. “A administração Biden parece estar começando a ouvir o mercado”, observa o relatório. Mas ouvir não é o mesmo que obedecer.

China na linha de fogo

A trégua tarifária é seletiva, e o alvo principal permanece: a China. A escalada de tensões comerciais com o gigante asiático não deve recuar. O BlackRock prevê que as tarifas diminuam o crescimento chinês, mesmo com possíveis estímulos por parte de Pequim. Não é uma guerra fria, mas uma batalha morna, constante, com efeitos de longo prazo.

O novo cenário esboça três frentes tarifárias nos EUA: sanções direcionadas por país (com foco na China), tarifas setoriais para incentivar a reindustrialização doméstica, e uma tarifa universal de 10% sobre a maioria dos produtos importados. Tudo isso configura um protecionismo estrutural, mais ideológico do que pragmático.

Oportunidades no caos

Apesar do alerta geral, a BlackRock vê espaço para tomar algum risco — com cautela. A gestora aumentou sua exposição a ações americanas e japonesas, ampliando seu horizonte tático de três para até doze meses. A explicação? Resiliência da economia dos EUA, força do setor de tecnologia impulsionado pela inteligência artificial, lucros corporativos estáveis e reformas pró-acionistas no Japão.

Outros favoritos do momento: ouro, como proteção contra inflação e incerteza fiscal, e bancos globais, tanto nos EUA (onde se vislumbra possível desregulação) quanto na Europa e no Japão, beneficiados por taxas de juros mais altas e crescimento no crédito.

E a Europa?

No Velho Continente, o clima é de apreensão. A expectativa, segundo o BlackRock, é de que o Banco Central Europeu (BCE) anuncie nesta semana um corte de juros. Antes, o cenário era incerto. Agora, com as tarifas americanas pressionando o comércio global e ameaçando empurrar a Europa para uma recessão, a flexibilização monetária parece inevitável.

Ainda assim, há uma esperança: o aumento dos gastos fiscais pode ajudar a conter os impactos negativos do novo protecionismo americano. Um remendo temporário, mas necessário.

O que vem pela frente

Para o BlackRock, o mais importante agora é observar os “freios” que estão sendo acionados na política comercial dos EUA. A administração parece, enfim, considerar os riscos financeiros e a reação dos mercados. É pouco, mas é algo. E, nesse jogo de forças globais, qualquer sinal de bom senso já muda o tom da narrativa.

A pausa não é paz. O mundo continua em alerta. E o investidor, mais do que nunca, precisa estar preparado para decisões rápidas, reversões bruscas e oportunidades escondidas entre as rachaduras de um sistema que, aos poucos, vai sendo reconfigurado — tarifa por tarifa.

*com informações do BlackRock.


terça-feira, 15 de abril de 2025

Os três rótulos da Tentura Malucelli que estão conquistando os brasileiros

Direto do coração do Friuli: tradição, terroir e afeto – Descubra os encantos da vinícola Tenuta Malucelli e os três rótulos italianos que estão conquistando os  emerge como um refúgio para os amantes do vinho e da cultura italiana

 
O empresário Jorl Malucelli e seus vinhedos, na Itália – Arquivo/Web
 

Localizada na região de Friuli, no extremo nordeste da Itália, a vinícola carrega consigo séculos de herança e paixão, ampliando fronteiras com a modernidade sem jamais perder a essência que torna cada garrafa uma verdadeira obra de arte. Em um cenário onde vestígios da Antiguidade se misturam aos aromas contemporâneos, a Tenuta Malucelli conquista paladares ao redor do mundo, e agora, três de seus vinhos excepcionais encontram abrigo também no Brasil.

Mergulhando na história e na cultura de Friuli

No coração de Friuli, região histórica no nordeste da Itália, a vinícola Tenuta Malucelli transforma tradição e paixão em experiências sensoriais únicas. Com raízes que atravessam milênios e um terroir privilegiado moldado por dias quentes e noites frias, a vinícola une o saber ancestral à inovação cuidadosa, preservando o caráter artesanal em cada detalhe — das castas escolhidas à maturação em carvalho. Em meio a paisagens que respiram história, a Malucelli cria vinhos que não apenas encantam o paladar, mas também contam a alma de um território onde o tempo e a terra caminham lado a lado.

Agora, três dos rótulos mais expressivos da Tenuta chegam ao Brasil, trazendo consigo a essência de Friuli em forma líquida: o encorpado e sofisticado Janguito, o fresco e elegante Sei Fratelli e o tradicional Bosco Di Pietra. Cada garrafa é um convite para uma viagem sensorial que começa na taça e termina nas lembranças, carregando consigo o sabor de séculos de cultura, afeto e dedicação.

No coração de Friuli, a Tenuta Malucelli mantém viva uma tradição de mais de três mil anos em vinicultura. Com um rigoroso controle de qualidade e uma paixão inabalável pela arte de produzir vinhos, a vinícola valoriza cada etapa, desde a escolha das castas nativas até o envelhecimento em barricas de carvalho francês e americano. O cuidado com a preservação – por meio de garrafas escuras que protegem o líquido da luz e rolhas naturais que garantem uma micro-oxigenação ideal – evidencia o comprometimento em oferecer não apenas um vinho, mas uma experiência completa que traduz a essência do terroir de Friuli.

Três joias que encantam o paladar

Janguito – O Blend Encantador

Produzido a partir de uma harmoniosa combinação de 50% Refosco, 40% Merlot e 10% Cabernet Franc, o Janguito é um tinto que surpreende logo na primeira degustação. Seu aroma é uma sinfonia de frutas vermelhas maduras, temperadas por notas sutis de especiarias, toques herbáceos e um leve sublimate terroso. Com uma acidez bem equilibrada e taninos integrados, este vinho é ideal para acompanhar carnes vermelhas grelhadas – como mignon e cordeiro –, massas com molhos intensos e queijos curados. A vinificação em cubas cônicas de madeira e o amadurecimento prolongado em barricas – 90% de carvalho francês e 10% americano – garantem que o Janguito evolua e se torne ainda mais complexo com o tempo, fazendo dele uma escolha irresistível para apreciadores que buscam uma experiência gastronômica sofisticada.

Sei Fratelli – A Elegância do Pinot Grigio

Com sua tonalidade amarelo-palha e reflexos esverdeados que lembram o brilho da manhã, o Sei Fratelli, feito da uva Pinot Grigio, conquista já no primeiro olhar. No nariz, revela uma sinfonia delicada de frutas frescas – maçã verde, pera, cítricos e pêssego branco –, que se traduzem em boca com uma acidez vibrante e uma leveza que expressa com fidelidade o solo generoso de Friuli. Versátil e cativante, é o par ideal para frutos do mar, peixes grelhados e pratos leves, além de harmonizar com perfeição com sushis, saladas e aperitivos elegantes. Sua elaboração cuidadosa – com prensagem rápida e uma decantação pré-fermentativa de 24 horas – preserva intactos o frescor e a riqueza de nuances até o instante da taça.

Bosco Di Pietra – A Expressão do Friulano

O Bosco Di Pietra é uma verdadeira homenagem à alma italiana, criado a partir da casta Friulano, cuja trajetória se confunde com a própria história da região. Com sua tonalidade palha luminosa, este branco encanta pelo perfume envolvente que transita entre pêssego, maçã verde e delicadas notas florais e herbáceas – como jasmim e manjericão –, suavemente moldadas pelo toque do carvalho ao longo do tempo. Nascido de vinhas com 41 anos de legado e elaborado com precisão artesanal, que alia maceração cuidadosa e fermentação controlada, oferece uma experiência memorável, marcada por elegância e longevidade. Ideal para acompanhar peixes frescos, frutos do mar, queijos cremosos e risotos delicadamente elaborados.

Convite para descobrir o melhor da Itália

A Tenuta Malucelli é mais do que uma vinícola; é um convite para embarcar em uma viagem pelos sabores e histórias de Friuli. Cada garrafa dos vinhos – seja o encorpado Janguito, o delicado Sei Fratelli ou o marcante Bosco Di Pietra – carrega o espírito de um terroir privilegiado, onde o passado e o presente se unem em perfeita harmonia para criar experiências sensoriais ímpares.

Se você, apreciador da boa mesa e do vinho de qualidade, deseja mergulhar na rica tradição enológica italiana e desfrutar de momentos inesquecíveis, descubra essa seleção exclusiva que chega diretamente do coração de Friuli para o Brasil. O convite está feito: permita-se saborear a história, a paixão e a elegância que só a Tenuta Malucelli pode oferecer.

 

Semente de soberania: Fafen-PR volta à ativa e mira o fim da dependência externa

Reportagem | Economia, Meio Ambiente e Trabalho

O coração que voltou a pulsar: a refinaria de Araucária e a reabertura da Fafen alimentam a esperança de um Brasil mais autossuficiente

Por Ronald Stresser, de Curitiba*

 
A refinaria de Araucária abriga a Repar e a Fafen -Petrobras 
 

Entre o cheiro forte do petróleo e o vapor quente que dança no ar, a cidade de Araucária, na região metropolitana de Curitiba, volta a sentir o pulsar de um gigante que havia adormecido. É ali, entre as torres metálicas da Repar — a Refinaria Presidente Getúlio Vargas — e os galpões industriais da Fafen-PR, que um novo capítulo começa a ser escrito, um capítulo onde a palavra-chave é renascimento.

Após anos de silêncio, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobras voltou a operar em julho de 2024, três anos após ter sido desativada na gestão anterior, sob o argumento de prejuízos financeiros. A reabertura foi conquistada com suor, pressão política e organização dos trabalhadores. Agora, a promessa se concretiza em números: três mil contratações durante o processo de retomada e, quando a planta estiver em pleno funcionamento, ao menos 700 empregos diretos. Mas os impactos vão muito além da folha de pagamento.

“Essa fábrica é muito mais do que uma planta industrial. Ela representa a soberania alimentar do nosso país”, afirma o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), que acompanhou de perto o processo de reativação. “Num mundo em guerra, instável, não podemos depender de 85% de fertilizantes importados.”

O Brasil e o desafio da autossuficiência

É esse número — 85% — que assombra a agroindústria brasileira. Apesar de ser uma potência agrícola, o Brasil importa quase todo o fertilizante que utiliza. No caso do potássio, a dependência é ainda maior: 96%. No período entre 1992 e 2020, o país deixou de ser exportador e passou a importar quase tudo que consome. Agora, com o Plano Nacional de Fertilizantes em vigor, o governo federal tenta alterar o rumo da história. A meta inicial é reduzir essa dependência dos fertilizantes importados para no máximo 50% até 2050.

A reabertura da Fafen, não é apenas simbólica. A planta terá capacidade de produzir 720 mil toneladas de ureia por ano — o equivalente a 8% do mercado nacional — além de 475 mil toneladas anuais de amônia, substância essencial para a produção de fertilizantes. Tudo isso integrado à cadeia do gás natural, num esforço conjunto com a transição energética planejada pela Petrobras.

Inovação que vem do chão de fábrica

O cenário em Araucária também é de otimismo na vizinha Repar, que bateu recordes históricos em 2024: foram 3,5 bilhões de litros de gasolina e 481 mil toneladas de asfalto produzidos. A refinaria também intensificou a produção de diesel com conteúdo renovável, elevando o volume em mais de 80% em relação a 2023. O futuro da energia brasileira, ao que tudo indica, passa por essas chaminés.

“Estamos operando com mais eficiência e menor impacto ambiental”, comemora Felipe Leonardo Gomes, gerente geral da Repar. Segundo ele, a refinaria reduziu significativamente suas emissões de CO2, atingindo a menor intensidade da série histórica desde 2019. “Isso mostra que é possível crescer com responsabilidade”, destaca.

Da história à esperança

Curiosamente, os fertilizantes não são novidade no solo brasileiro. Eles chegaram por volta de 1895, em Campinas, São Paulo — uma região de terra tão fértil que, à época, os agricultores precisavam ser convencidos a usar os produtos. Hoje, o desafio é outro: produzir em larga escala, com independência e inovação.

E a Fafen tem um papel central nessa missão. Com a fábrica de volta ao jogo, somada às reservas naturais do país e aos investimentos crescentes em tecnologia, o Brasil pode enfim sonhar em retomar sua autonomia no setor. O parlamento discute, a indústria se movimenta, os trabalhadores retornam. Há um movimento claro rumo à reconstrução.

Na portaria da Fafen, o entra e sai de operários revela um cotidiano que parecia perdido. Entre capacetes e uniformes, há também olhares esperançosos. Gente como Anderson, 39 anos, técnico em manutenção que conseguiu ser recontratado após quatro anos de incertezas. “Voltar pra cá é como voltar pra casa. Mas agora, com a certeza de que a gente tem futuro.”

Em um país que planta, colhe e alimenta o mundo, talvez não exista imagem mais potente do que a de uma fábrica que volta a funcionar. Em Araucária, o chão voltou a tremer. E dessa vez, é de esperança.

*com informações da Agência Petrobras e Sindipetro PR/SC.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Marcelo Silvério sobe 17 posições e emociona na Supermoto da Europa

Marcelo Silvério emociona em remontada histórica na primeira corrida do Campeonato Francês de Supermoto: “Às vezes vencer é simplesmente não desistir”

 
 

Com 54 anos, e mais em fotma do que nunca, o curitibano Marcelo Silvério tem provado que idade não é obstáculo quando se trata de paixão, coragem e velocidade. Único representante brasileiro no Campeonato Francês de Supermoto de 2025, Silvério protagonizou uma das corridas mais emocionantes de todas as temporadas europeias em que já participou  — e contou tudo com a emoção de quem viveu cada curva como se fosse a última.

A prova, que aconteceu no último fim de semana em território europeu, parecia encaminhada para um resultado frustrante. “Tudo ia bem, até que na entrada da terra, um piloto caiu na minha frente. Me enrosquei, perdi tempo e quando consegui sair, estava em 24º”, contou o piloto, em publicação no Instagram. Mas foi aí que começou a virada.

 
 

“Respirei fundo e coloquei todo o meu sentimento. Ultrapassagem por ultrapassagem, fui buscando. Tinha barro na viseira, adrenalina no talo e uma coisa na cabeça: isso não acaba assim.”

De forma espetacular, Silvério foi escalando o pelotão, ultrapassando rivais por dentro, por fora, “pedindo licença ou forçando a barra”, como ele mesmo descreveu. Foram 16 ultrapassagens em ritmo alucinante até cruzar a linha de chegada em sétimo lugar, colado no sexto. “Sétimo com uma remontada fenomenal. Eu passei muito bem, estava apreciando”, vibrou.

 
 

Mas o momento mais marcante não veio na pista, e sim nos bastidores: “O mais legal de tudo não foi a minha colocação. Foi quando cheguei nos boxes e vi minha equipe inteira me esperando. Aquele momento valeu mais do que qualquer pódio. Porque às vezes vencer é simplesmente não desistir.”

Essa foi apenas a primeira corrida do Campeonato Fracês de Supermoto, Marcelo Silvério ainda vai disputar mais cinco provas no Francês de Supermoto, pela equipe Team Grau. Com seis etapas a competição promete fortes emoções — e o veterano brasileiro já mostrou que está pronto para protagonizar mais capítulos épicos.

 

Primeiro voo espacial privado, só com mulheres, é um sucesso

Com o pé no chão e os olhos nas estrelas: seis mulheres fazem história em voo espacial só delas

Por Ronald Stresser, da redação

 
O New Shepard, com seis mulheres à bordo, rumo à estratosfera - Blue Origin 

Na vastidão azul do céu texano, às 10h31 desta segunda-feira (14), um rugido rasgou o silêncio do deserto. Em poucos segundos, o foguete New Shepard, da Blue Origin, cruzava a atmosfera levando consigo um feito histórico e uma cápsula com seis mulheres rumo ao espaço. Foi breve – dez minutos e alguns segundos –, mas o suficiente para eternizar o voo NS-31 como um marco na corrida espacial: pela primeira vez desde 1963, uma missão tripulada exclusivamente por mulheres saiu da Terra.

A bordo, nomes conhecidos e potentes: a cantora pop Katy Perry, a jornalista e empresária Lauren Sánchez (noiva do próprio Jeff Bezos, fundador da Blue Origin), a apresentadora Gayle King, a ex-cientista da NASA Aisha Bowe, a ativista Amanda Nguyen e a produtora de cinema Kerianne Flynn. Seis figuras públicas, seis mulheres de sucesso, seis cosmonautas endinheiradas, agora com um título em comum – todas já viram a Terra do alto, bem além da Linha de Kármán, o limiar simbólico do espaço sideral, a 100 km de altitude.

“Algo maior que eu está guiando esta jornada”, escreveu Katy Perry horas antes do lançamento. Ao pousar, ela ajoelhou-se e beijou o chão, em um gesto de reverência – talvez à Terra, talvez à vida, talvez ao próprio sonho realizado.

 
Katy Perry dá entrevista ao final da missão - Blue Origin 
 

Do chão ao espaço, em dez minutos

A missão durou o tempo de um café demorado. Mas o impacto, para quem acompanhou de perto – ou para quem esteve dentro da cápsula – parece ter rompido a lógica dos minutos.

Logo após a decolagem vertical, o foguete atingiu mais de 3.700 km/h. Em dois minutos, a cápsula se separou da base e seguiu sozinha, em silêncio, flutuando no escuro pontilhado de estrelas. Lá dentro, por 3 a 4 minutos, a ausência de gravidade deu às passageiras a chance de dançar no ar, sorrir como crianças e espiar a curvatura azulada do planeta por janelas panorâmicas.

Enquanto isso, o foguete – reutilizável – descia com precisão cirúrgica, pousando verticalmente. Depois, foi a vez da cápsula retornar, amparada por paraquedas e retrofoguetes que suavizaram a chegada no deserto do Texas.

Do lado de fora, um Jeff Bezos emocionado aguardava. Recebeu Lauren Sánchez com um beijo. Oprah Winfrey e as Kardashians, presentes na plateia, aplaudiram o reencontro.

Um voo simbólico (e milionário)

Esta foi a 11ª missão tripulada da Blue Origin, mas nenhuma como essa. Desde Valentina Tereshkova, a primeira mulher no espaço em 1963, nenhuma outra viagem havia sido feita apenas por elas.

Desta vez, não foi uma missão científica, nem de treinamento para futuras astronautas de carreira. Foi turismo espacial – mas com um peso simbólico inegável. “É sobre dizer que também podemos”, comentou Aisha Bowe, ex-cientista da NASA, antes do embarque.

Com valores estimados na casa dos milhões de dólares por assento, a missão levanta também debates sobre exclusividade e acesso. Não é todo dia que alguém pode comprar um bilhete para o espaço – muito menos qualquer mulher. Mas ainda assim, a imagem das seis, flutuando lado a lado, tem o poder de inspirar uma nova geração de meninas a olhar para cima com menos medo e mais ambição.

A Terra vista do alto 

De cima, tudo parece diferente. A política, as guerras, os muros, as fronteiras... tudo fica menor quando se vê o planeta inteiro através de uma janelinha oval. “É impossível não se emocionar. É impossível não repensar tudo”, disse Gayle King em uma transmissão logo após o pouso.

A cápsula agora está de volta, as mulheres voltaram ao chão. Mas talvez, por dentro, nenhuma delas tenha de fato voltado. Levaram consigo a leveza do espaço, o silêncio absoluto das estrelas, e um novo olhar sobre o mundo. E nós, aqui embaixo, ganhamos também: a certeza de que o futuro pode, sim, ser mais plural, mais feminino – e, quem sabe, menos distante das estrelas.

Brasil blindado na guerra comercial

Enquanto o mundo se arma com tarifas, Brasil e BRICS acionam seu escudo: reservas bilionárias em dólar

Por Ronald Stresser*

 

Na contramão da tensão global desencadeada pelo novo tarifaço do presidente norte-americano Donald Trump, o Brasil assiste ao cenário com menos sobressalto do que se poderia imaginar. Em tempos de guerra comercial — uma guerra de cifras, retaliações e discursos inflamados —, quem tem dólar guardado, tem trunfo. E o Brasil tem.

Com cerca de US$ 370 bilhões em reservas internacionais, o Brasil aparece entre os dez maiores detentores dessa "poupança de emergência" global, de acordo com o Banco Mundial. Não por acaso, o presidente Lula foi direto ao ponto, ao  comentar os efeitos da nova ofensiva tarifária norte-americana, no último dia 7, em Cajamar/SP: “Mesmo o presidente Trump falando o que ele quer falar, o Brasil está seguro”, afirmou, confiante no colchão que protege a economia nacional de abalos externos.

Mas o Brasil não está sozinho nesse campo de resiliência. O país faz parte de um grupo que, a cada novo revés do sistema financeiro internacional, se fortalece: o BRICS.

BRICS: uma fortaleza no meio da tempestade

Formado hoje por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Egito, Etiópia, Emirados Árabes e, em processo de confirmação, a Arábia Saudita, o bloco responde por mais de 40% da população mundial e 37% do PIB global. É, em termos brutos, o grupo de países que mais concentra recursos naturais, reservas de energia e agora, também, reservas cambiais significativas.

A reação coordenada entre China e Brasil — ambos alvos de novas tarifas americanas — foi silenciosa, mas estratégica. Em vez de trocar farpas públicas ou ameaças diretas, o BRICS parece apostar em uma resposta de longo prazo: mais integração, mais comércio em moedas locais, menos dependência do dólar.

“O BRICS tem força material, mas também simbólica”, explica Marta Fernández, diretora do Brics Policy Center. “Representa uma alternativa à forma como o mundo tem sido organizado até agora — uma espécie de voz do sul global que começa a incomodar quem sempre ditou as regras.”

Um novo centro de gravidade

Segundo o Fórum Econômico Mundial, **os BRICS concentram 44% das reservas de petróleo do planeta, 53% do gás natural e mais de 70% das terras raras**, essenciais para a indústria tecnológica. Rússia e Brasil, inclusive, dividem o posto de maiores reservas de água doce do mundo. São dados que, combinados com o peso político e militar — o bloco abriga três potências nucleares —, reposicionam a bússola do poder global.

Em 2014, o grupo criou o **Novo Banco de Desenvolvimento**, com sede em Xangai e atuação crescente no financiamento de projetos sustentáveis no sul global. E, mais recentemente, intensificou o debate sobre uma moeda comum ou, no mínimo, o uso das moedas locais nas trocas comerciais internas — um gesto claro de autonomia em relação à hegemonia do dólar.

“O que o BRICS quer não é derrubar o dólar, mas poder respirar fora dele”, diz Evandro Carvalho, professor da UFF. “É sobre ter o direito de existir comercialmente sem depender das decisões monetárias de Washington.”

O Brasil em meio ao furacão

A nova guerra comercial deflagrada por Trump afeta diretamente as exportações brasileiras — especialmente do agronegócio e do setor metalúrgico. As tarifas de 10% sobre produtos brasileiros e 34% sobre bens chineses podem redesenhar cadeias produtivas inteiras.

Mas o Brasil chega mais preparado a esse cenário do que nas crises passadas. Além das reservas em alta, o país viu nos últimos anos um fortalecimento de sua presença diplomática no BRICS e uma diversificação tímida, mas crescente, de suas relações comerciais fora do eixo EUA-UE.

Em evento recente, Lula reforçou que a estabilidade do Brasil não depende “da China, dos Estados Unidos ou da Argentina, mas dos brasileiros”. E quando diz isso, mira nas reservas que seu próprio governo acumulou: “Nós pagamos a dívida externa brasileira. Fizemos uma reserva de US$ 370 bilhões. Isso segura esse país até hoje contra qualquer crise.”

O futuro é multipolar

Enquanto Washington arma o mercado com tarifas, os BRICS seguem com sua aposta: um mundo menos dependente de um único centro financeiro, mais interligado por interesses comuns — ainda que divergentes — e, sobretudo, mais protegido de choques externos.

Talvez essa seja a nova linguagem do poder em tempos de globalização desgastada: não gritar mais alto, mas saber onde — e quanto — guardar.

*com informações da Agência Brasil e Agência Globo/Valor Econômico.

domingo, 13 de abril de 2025

Papa Francisco reaparece no Domingo de Ramos e emociona fiéis com mensagem de fé e compaixão

 

Por volta das 11h da manhã no Vaticano, uma cadeira de rodas surge entre os tapetes vermelhos estendidos na Praça São Pedro. Nela, o Papa Francisco, aos 88 anos, acena com serenidade para as milhares de pessoas que o aguardavam ansiosas. Seu semblante é mais magro, a voz ainda frágil. Mas há um brilho nos olhos de quem superou dias difíceis e, mesmo em recuperação, escolheu estar presente para iniciar a Semana Santa – uma das celebrações mais importantes do calendário cristão, ao lado do Natal.

A cena aconteceu neste Domingo de Ramos (13), data que recorda a entrada de Jesus em Jerusalém e marca o início do caminho para a Páscoa. Cerca de 40 mil pessoas ocuparam a praça para participar da Missa solene, presidida pelo cardeal argentino Leonardo Sandri. O Papa, ainda em convalescença devido a uma pneumonia que o afastou por semanas da agenda pública, apareceu apenas no final da cerimônia, mas o gesto teve impacto profundo nos fiéis.

Francisco havia sido internado no fim de 2024, após o agravamento da infecção pulmonar. Foram quase 40 dias entre hospital e repouso na Casa Santa Marta. A última vez que visitara o local antes da piora de saúde havia sido em 14 de dezembro. Seu retorno neste domingo, portanto, foi simbólico. Um reencontro com o povo, com a fé vivida no coletivo, e com a missão pastoral que ele insiste em cumprir mesmo diante das limitações da idade e da saúde.

“Carregar a cruz não é em vão”

A homilia da celebração, escrita pelo Papa e lida por Sandri, tocou corações ao refletir sobre Simão de Cirene – o homem que, inesperadamente, ajudou Jesus a carregar a cruz no caminho para o Calvário. “Quantos cireneus carregam a cruz de Cristo! Somos capazes de reconhecê-los?”, questiona o texto de Francisco.

O Papa recorda que Simão não escolheu estar ali. Foi chamado à força. E, no entanto, tornou-se parte da história da salvação. “Não ajuda Jesus por convicção, mas por obrigação. Por outro lado, vê-se a participar pessoalmente na Paixão do Senhor. A cruz de Jesus torna-se a cruz de Simão.” Francisco convida os fiéis a levarem suas cruzes durante a Semana Santa não apenas como adorno, “não ao pescoço, mas no coração”.

Gesto simples, mensagem profunda

Ao fim da missa, Francisco apareceu cercado por seguranças, cumprimentou os fiéis por cerca de 10 minutos e deixou uma breve saudação ao microfone: “Bom Domingo de Ramos! Boa Semana Santa”. Com sua presença, lembrou a todos que o sofrimento, a fragilidade e a fé caminham lado a lado – especialmente neste tempo litúrgico.

No Angelus, divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, o Papa fez mais um apelo pela paz. Seu olhar se voltou às vítimas das guerras, da fome, dos desastres naturais. “Que a paz desça sobre os países em guerra”, pediu, citando nominalmente Ucrânia, Palestina, Israel, República Democrática do Congo, Mianmar e Sudão do Sul.

Semana Santa de compaixão

Francisco não esconde o cansaço de quem já não tem a mesma força física de antes. Mas sua voz – mesmo que lida por outro – segue ecoando com a força de um líder espiritual que nunca deixou de escutar os que sofrem.

Neste início de Semana Santa, ele nos lembra que a cruz de Cristo continua sendo carregada todos os dias – pelos pobres, pelos doentes, pelos deslocados, pelos que choram em silêncio. E nos convida a reconhecer os cireneus de hoje. Porque, como ensinou neste domingo, carregar a cruz, ainda que por obrigação, nunca é em vão.

Ronald Stresser, com informações do Vatican News.

Crise climática ameaça o lar de milhões de brasileiros

 Reportagem | Clima em colapso

Quando o clima bate à porta: a crise climática ameaça o lar de milhões de brasileiros

Por Ronald Stresser, da redação 

 
 

Imagine a cena: uma família reunida para o almoço de domingo em sua casa no interior do Rio Grande do Sul. De repente, o céu escurece, e em poucos minutos, uma enxurrada leva parte da estrutura da residência. Cenas como essa, infelizmente, estão se tornando parte da rotina brasileira — e revelam uma dura verdade: o aquecimento global não é um problema distante. Ele está atingindo, cada vez mais, a porta da nossa própria casa.

O planeta, hoje todo conectado em tempo real, está testemunhando o avanço do mar em ilhas do Pacífico e as enchentes nos deltas asiáticos. Uma fatia gorda do patrimônio imobiliário público e privado global está sob o risco direto dos efeitos das mudanças climáticas. Calcula-se que cerca de 10% do valor das propriedades residenciais no mundo — o equivalente a impressionantes US$ 25 trilhões até 2050 — pode ser varrido pelo impacto direto e indireto do aquecimento global.

E o Brasil? Está no olho do furacão.

Casas em risco, vidas em jogo

Não é preciso morar na costa para sentir os efeitos. Os temporais cada vez mais violentos no Sul, as ondas de calor sufocantes no Centro-Oeste e as secas prolongadas no Nordeste revelam como o Brasil, com seu território vasto e diverso, está sendo pressionado por um único e cada vez mais instável clima: o da Terra.

Só em 2023, eventos extremos afetaram milhões de brasileiros. Segundo dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), 1 em cada 3 municípios sofreu com desastres associados ao clima — e a conta só cresce.

“Meu seguro não cobria enchente”, conta Vera Lúcia, moradora de Petrópolis, onde deslizamentos de terra deixaram dezenas de mortos. “Perdi minha casa e tive que começar do zero. Ninguém me avisou que isso podia acontecer aqui.”

Quem paga essa conta?

Com o aumento da frequência e intensidade dos desastres, surge uma questão inevitável: quem vai arcar com os custos? No Brasil, boa parte das vítimas depende de programas emergenciais do governo, como o Auxílio Reconstrução, enquanto o mercado de seguros ainda engatinha na cobertura ampla de desastres naturais.

Nos Estados Unidos, os custos já estão pressionando o sistema financeiro. Em estados como Califórnia e Flórida, o valor dos seguros disparou tanto que se fala em uma “bolha climática” prestes a estourar. No Brasil, ainda estamos atrasados — e isso é um problema.

“Quando o seguro não cobre e o poder público demora a agir, o cidadão é duplamente penalizado”, analisa o urbanista Rafael Maciel. “E, no fim, quem mais sofre é quem menos tem.”

Proteger ou reconstruir?

Além do prejuízo, há o desafio de adaptação. Cidades como Recife, Salvador e Rio de Janeiro, com suas populações densas e trechos costeiros vulneráveis, precisarão de investimentos bilionários em infraestrutura para se proteger do avanço do mar e das chuvas extremas. Isso inclui desde muros de contenção até sistemas inteligentes de drenagem.

Na outra ponta, também será necessário investir em tecnologias domésticas que reduzam emissões: casas mais ventiladas, telhados frios, painéis solares, isolamento térmico. Mas essas soluções ainda são caras — e raras — na maioria dos lares brasileiros.

Um bom exemplo vem da Europa, onde a Itália criou o "superbonus", um programa de subsídio generoso para reformas sustentáveis. A iniciativa custou mais de 200 bilhões de euros ao governo, mas impulsionou uma onda de retrofit verde. No Brasil, iniciativas assim ainda são pontuais e limitadas.

O futuro mora aqui

As mudanças climáticas estão transformando o lar, que antes era símbolo de segurança, em um espaço de incertezas. E a omissão pode custar caro: tanto economicamente quanto em vidas humanas.

O momento exige decisões difíceis e urgentes. O poder público precisa investir em infraestrutura e prevenção. O mercado imobiliário tem que repensar onde e como construímos. E os cidadãos, por sua vez, precisam de informação, apoio e incentivos para adaptar suas casas.

Ignorar o problema não vai torná-lo menor. Como já mostrou a história, esperar o desastre para reagir é a forma mais cara — e mais cruel — de lidar com a realidade.

No fim, a casa da qual falamos não é só de alvenaria. É o planeta inteiro. E ele está pedindo socorro.

sábado, 12 de abril de 2025

Brasil responde com unidade ao tarifaço de Trump com Reciprocidade Comercial

Em meio à tensão global, decisão unânime une Legislativo e Executivo em torno da defesa do Brasil — e dá início à chamada “troca de chumbo” com os EUA

Por Ronald Stresser, redação Sulpost*

 
Guerra comercial une o Brasil. Os presidentes Lula e Trump - Arquivo
 

Na política, o consenso é raro, entretanto, quando o que está em jogo é a economia nacional, o Brasil mostra que ainda se lembra como colocar interesses partidários e ideologias de lado. Foi exatamente isso que aconteceu na última sexta-feira (11), quando o presidente Lula sancionou, sem vetos, a Lei da Reciprocidade Comercial — uma resposta direta e assertiva ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump.

A nova legislação, aprovada pela maioria esmagadora do Congresso Nacional, autoriza o governo brasileiro a adotar contramedidas comerciais, sempre que outro país impuser barreiras unilaterais aos produtos brasileiros. A lei entra em vigor na próxima segunda-feira (14), data em que será publicada no Diário Oficial da União. Mas, mais do que uma norma jurídica, a medida representa algo mais simbólico: a união do Brasil em defesa da sua soberania econômica.

Gesto que fala mais alto que o protecionismo

A decisão do governo americano de sobretaxar exportações, incluindo produtos brasileiros, acendeu o sinal de alerta em Brasília. A medida mais drástica do novo pacote tarifário de Trump foi a elevação de 10% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil aos EUA — com o aço e o alumínio penalizados com 25%.

Diante da ofensiva protecionista de Trump, a resposta brasileira veio rápida, firme e coordenada. “Não é retaliação, é defesa. O Brasil não pode ser alvo de um ataque comercial sem reagir. Estamos dizendo: se bater, vai levar”, afirmou um assessor do Palácio do Planalto, em condição de anonimato, à reportagem.

Congresso unido, povo impactado

A sanção da Lei da Reciprocidade Comercial não é apenas uma vitória do governo Lula — é, sobretudo, uma vitória do país. No Congresso, deputados e senadores de diferentes espectros políticos votaram de forma unânime a favor da proposta. O simbolismo é potente: em um Brasil polarizado, a defesa da economia nacional ainda consegue unir.

“Essa lei é sobre soberania. Não podemos assistir calados enquanto setores produtivos inteiros perdem competitividade por decisões tomadas fora daqui”, declarou a senadora Simone Tebet (MDB), uma das vozes mais ativas no debate da proposta no Senado.

Do outro lado da moeda estão os brasileiros comuns, que já começam a sentir os efeitos do tarifaço no bolso. Produtos eletrônicos, como iPhones e notebooks importados dos EUA, estão entre os itens que mais devem subir de preço. Em estados com forte dependência do comércio exterior, como Santa Catarina, o impacto pode ser ainda mais severo.

Do Planalto à Camex: os bastidores da decisão

A Lei autoriza a Camex (Câmara de Comércio Exterior) a adotar medidas como restrições às importações de bens e serviços vindos de países que prejudiquem os interesses do Brasil. No entanto, antes de aplicar qualquer sanção, o texto prevê que o governo busque negociações diplomáticas — uma tentativa de evitar que a “troca de chumbo” se torne uma guerra prolongada.

O Ministério das Relações Exteriores já trabalha nos bastidores para costurar diálogos bilaterais com os EUA. Mas a mensagem foi enviada: o Brasil está preparado para agir, caso não haja abertura para o entendimento.

Economia como território de defesa nacional

Mais do que uma briga de tarifas, o embate revela uma transformação: o Brasil, muitas vezes visto como espectador nas grandes disputas comerciais globais, agora assume protagonismo. Com a nova lei, o país passa a ter ferramentas concretas para defender suas empresas, trabalhadores e produtos.

A sanção presidencial também reforça a visão de que, quando o assunto é economia, o Brasil sabe caminhar unido. No final das contas, a Lei da Reciprocidade Comercial não é só sobre Trump, tarifas ou aço. É sobre proteger o que é nosso — e lembrar ao mundo que o Brasil não assiste calado quando o jogo é desleal.

*Com informações da Agência Brasil

Marcos Olivrira, o Beiçola da Grande Família, ganha casa de Marieta Severo, que interpretava Dona Nenê

​Um novo lar, um novo começo: o gesto de Marieta Severo que transformou a vida de Marcos Oliveira​ e mostra os fortes laços criados entre o elenco da Grande Família, seriado de maior sucesso da história da Globo

 
Marieta e Marcos Oliveira foram colegas na Grande Família - Divulgação
 

O Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, na tarde dessa quinta-feira (10), foi o cenário para um reencontro emocionante. É mais um exemplo, dado por uma das maiores divas da TV e do cinema brasileiro, Marieta Severo.

Marcos Oliveira, eternizado como o Beiçola de "A Grande Família", recebeu das mãos de sua antiga colega de elenco, as chaves de uma nova casa — um gesto que simboliza não apenas solidariedade, mas também a força dos laços construídos ao longo de uma vida dedicada à arte.​

Aos 68 anos, Marcos enfrentava uma dura realidade: problemas de saúde e dificuldades financeiras. Em 2023, chegou a expor sua situação nas redes sociais, pedindo ajuda para sobreviver. A resposta veio de Marieta Severo, que, profundamente tocada pela situação do amigo, decidiu construir uma casa para ele no Retiro dos Artistas, instituição que há décadas acolhe profissionais das artes em momentos de vulnerabilidade.​

A nova residência, mobiliada e decorada com fotos que relembram a carreira de Marcos, não oferece apenas um abrigo, mas também traz de volta a dignidade e esperança. "Agora posso dormir tranquilo, seguro, com a Lolita, minha filha de quatro patas, feliz por saber que a Mel e a Preta, minhas filhas mais velhas, estarão bem também e em um espaço bom e feliz para elas, onde sempre poderei visitar", declarou o ator, emocionado.​

Marcos não está sozinho nessa jornada. A advogada e amiga Rose Scalco, que o acompanha de perto, destaca que, apesar das comorbidades e do uso de bolsa de colostomia, o ator está em plena condição de voltar a trabalhar. E ele já tem planos: um filme na próxima semana e a estreia de um espetáculo em São Paulo em maio. "Vamos olhar pra frente, SEMPRE!", afirma com entusiasmo.​

A história de Marcos Oliveira ecoa a de outros artistas que, após anos de sucesso, enfrentam dificuldades na velhice. Guta Stresser, por exemplo, teve sua casa no Rio de Janeiro leiloada pela Caixa Econômica Federal, evidenciando a fragilidade da segurança financeira de muitos profissionais da cultura.​ Guta hoje voltou a morar em Curitiba, sua cidade natal, e está no Rio de Janeiro trabalhando em um novo projeto cultural, com o ator José de Abreu, com quem já havia trabalhado no filme "Antes que eu me esqueça" (2017).

O gesto de Marieta Severo vai além da amizade; é um chamado à empatia e à valorização daqueles que dedicaram suas vidas a entreter e emocionar o público. Em tempos de incerteza, ações como essa reacendem a esperança e lembram que a solidariedade pode ser o alicerce de um novo começo.

 

sexta-feira, 11 de abril de 2025

A tradição da cannabis legalizada nos Estados Unidos

Das raízes da tradição ao verde do futuro: a fazenda centenária que floresce com a cannabis em Nova York

 
 

Por trás da fumaça, há história, suor e muito amor pela terra. Conheça Torrwood Farm, o pedaço de chão que atravessou séculos até florescer no mercado da cannabis legalizada nos Estados Unidos.

 
 

Por sete gerações, a fazenda Torrwood, no interior do estado de Nova York, foi terra de gado, milho, rugas no rosto e histórias em volta da mesa. Hoje, ela também é lar de um dos cultivos de cannabis mais promissores do estado — e símbolo vivo de como a tradição pode caminhar lado a lado com a reinvenção.

Lucas Kerr, 44 anos, é o rosto desse novo capítulo. Nascido e criado entre os riachos e pedras da propriedade da família, ele ainda se lembra da infância assistindo caminhões-tanque enchendo garrafões com a água pura da nascente local — água que um dia foi o grande tesouro do lugar. Mas foi da terra que veio o novo ouro verde da fazenda.

“Eu fico imaginando o que meus antepassados pensariam disso tudo”, diz ele, com um sorriso que mistura reverência e audácia. Desde a legalização do uso recreativo da cannabis no estado, em 2021, Lucas apostou todas as fichas no futuro — e fez do cultivo da planta uma nova herança para a família.

A Torrwood Farm de hoje vende seus produtos para mais de 100 dispensários em Nova York, do Bronx a Albany. “As pessoas querem comprar local, querem saber de onde vem”, explica Lucas. E Torrwood vem de longe: fundada em 1846 por imigrantes escoceses, a fazenda já foi pousada para turistas da cidade, produtora de água mineral e hoje se desdobra entre cultivos sofisticados e um lar repleto de relíquias do passado.

Mais do que plantar, é cuidar da terra

Ao lado de Lucas está Paul Bernal, mestre cultivador vindo de Humboldt, na Califórnia — uma espécie de Meca da cannabis artesanal. Ele traz no bolso o conhecimento de práticas como a Agricultura Natural Coreana e o cuidado com o solo como um organismo vivo. “Você não está cultivando uma planta. Está cuidando da terra”, afirma ele, com a calma de quem conversa com as raízes.

E é justamente nesse equilíbrio entre natureza e técnica que o cultivo floresce. Torrwood produz ao ar livre, em estufas com luz solar estendida, e em um laboratório interno onde desenvolve genéticas exclusivas. É um trabalho diário, com jornadas que começam às três da manhã e só terminam ao pôr do sol. “Todo mundo quer plantar cannabis… até a hora de encarar o campo de verdade”, brinca Lucas.

A operação funciona sete dias por semana e produz até 9 mil cigarros e 10 mil gomas por dia. Tudo é testado rigorosamente para garantir segurança e qualidade. No início, houve erros e gargalhadas: “Era uma roleta-russa canábica”, lembra Shane Pearson, chef e testador de sabores da casa, sobre os primeiros lotes de comestíveis.

Entre antiguidades e buds

A casa principal da fazenda é quase um museu. David Kerr, pai de Lucas, é apaixonado por antiguidades e transformou o antigo lar em um espaço que parece suspenso no tempo: tapetes caucasianos com séculos de história, móveis resgatados de igrejas escocesas, lavabos vindos da Hollywood dos anos 1930. “Tem que se perguntar quem lavava o rosto ali”, diz ele, encantado.

David, hoje com 74 anos, nunca fumou maconha. “Sempre tive medo de ser pego… acho que agora já não importa mais”, brinca. Ainda assim, é ele quem olha com ternura para esse novo ciclo da fazenda, onde as conferências para budtenders (os sommeliers da cannabis) se misturam com festas de família no celeiro remontado peça por peça.

Negócio com alma

Na outra ponta, o desafio do negócio. O ano de 2023 foi duro. O mercado enfrentou a concorrência das lojas clandestinas, a lentidão das licenças e a confusão da regulamentação. Mas 2024 trouxe fôlego: mais dispensários, mais fiscalização, mais espaço para quem quer fazer certo.

Torrwood se destaca pelo foco artesanal e parcerias conscientes. Um de seus sócios é John Morrongiello, fundador da S.T.A. Exotics. Ele começou vendendo maconha aos 11 anos, passou por Rikers Island em 2018, e hoje é exemplo de como o mercado legal pode incluir quem sempre esteve à margem. “A legalização é o futuro — e eu incentivo todos do legado a fazerem essa transição”, diz ele.

Outro parceiro é a Weekenders Cannabis, que aposta em pequenos lotes de produção artesanal. Seu CEO, Kahlil Lozoraitis, compara o cultivo de sol ao suco de laranja fresco: tem alma, tem gosto de verdade.

Dois séculos de passado, olhos no futuro

No fim das contas, Torrwood é mais do que uma fazenda de maconha. É um símbolo. Um lugar onde a terra, mesmo cheia de pedras, ainda dá frutos. Onde o antigo e o novo se olham nos olhos, sem medo. Onde um jovem veterano de guerra pode voltar para casa, plantar algo novo e honrar cada geração que veio antes.

Lucas resume com simplicidade: “Estou feliz que meu avô e meu pai não venderam esse lugar. Agora podemos escrever uma nova história.” E ela já está brotando, folha por folha, na colina onde um dia só havia vacas e silêncio.

Ronald Stresser, com informações do New York Times.

Família perde a vida em trágico acidente de helicóptero

"Eles só queriam celebrar um aniversário": Tragédia no Hudson destrói uma família em passeio turístico por Nova York

Por Ronald Stresser
 
Os últimos momentos da família Escobar - New York Helicopter Tours LLC
 

Era para ser um dia de celebração. Um momento de encanto diante do horizonte de Manhattan, o voo panorâmico sobre a Estátua da Liberdade, os risos infantis embalados pela promessa de aventura. Mas o que começou como uma comemoração em família terminou em silêncio absoluto nas águas do rio Hudson.

Na tarde desta quinta-feira (10), por volta das 16h17 no horário de Brasília, um helicóptero modelo Bell 206 caiu nas águas do Hudson, entre Nova York e Nova Jersey. A bordo estavam Augustín Escobar, presidente da Siemens Mobility na Espanha, sua esposa Merce Camprubi Montal — executiva da Siemens Energy e neta de Agustí Montal Costa, ex-presidente do FC Barcelona —, os três filhos do casal, de 4, 5 e 11 anos, e o piloto da aeronave, um homem de 36 anos cuja identidade ainda não foi revelada. Ninguém sobreviveu.

A família havia chegado recentemente a Nova York, vinda de Barcelona. A viagem era um presente: um dos filhos fazia aniversário, e o passeio de helicóptero marcaria a primeira experiência da família na cidade. Horas antes do voo, uma fotografia publicada no site da empresa New York Helicopter Tours mostrava o grupo sorridente, posando em frente à aeronave. O clique agora é uma cápsula de uma felicidade interrompida.

Vídeos compartilhados nas redes sociais registram o momento angustiante da queda. A cauda do helicóptero já estava ausente quando a fuselagem, girando descontrolada, mergulhou de cabeça nas águas turvas próximo ao píer 40, na altura da West Houston Street. Testemunhas relataram ter ouvido um "estrondo" e viram destroços se espalhando. Um som seco, metálico — e depois, o nada.

Autoridades americanas investigam as causas do acidente. Até agora, não há confirmação oficial sobre falha mecânica, colisão com pássaros ou influência do clima. O que se sabe é que, apenas 16 minutos após a decolagem, o piloto teria enviado uma mensagem ao centro de controle informando que estavam ficando sem combustível. Pouco depois, tudo acabou.

Michael Roth, CEO da New York Helicopter Tours, se mostrou profundamente abalado. “Estou devastado. Sou pai, sou avô... ver crianças ali dentro é algo que me destrói”, disse. “Em 30 anos no setor, nunca vi algo assim. Aparentemente, as pás do rotor principal não estavam mais no helicóptero no momento da queda. É inacreditável.”

O ex-presidente Donald Trump também se manifestou sobre o acidente em sua rede social, classificando-o como “terrível” e expressando solidariedade às famílias das vítimas.

A Siemens, até o momento, não divulgou nota oficial sobre a perda de dois de seus executivos de alto escalão. Em seus perfis profissionais, Escobar era descrito como um líder inspirador, dedicado à modernização da infraestrutura ferroviária global. Merce, por sua vez, era apontada por colegas como uma estrategista brilhante, sensível e apaixonada pelo que fazia.

Mas ontem, nenhum título corporativo fez diferença. Naquele helicóptero, estavam apenas um pai, uma mãe e três crianças pequenas — todos unidos pela alegria simples de estarem juntos, vivendo um sonho em família. Um sonho que durou menos de vinte minutos.

Agora, entre destroços e investigações, fica a dor imensurável de uma ausência que se espalha em ondas, como aquelas do rio Hudson, onde a tragédia encontrou seu cenário final.

Eles só queriam celebrar um aniversário.

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Aécio pode surprender como nome forte da terceira via

Aécio Neves e a reconstrução do centro: a busca por um Brasil menos polarizado em 2026

Por Ronald Stresser - redação Sulpost

 
Aécio ganha força quando o assunto é democracia -Wilson Dias/Agência Brasil Brasil
 

No corredor largo e ruidoso de Brasília, onde os extremos gritam mais alto, Aécio Neves (PSDB) caminha tentando reencontrar um caminho já muito trilhado e agora quase apagado: o do centro político. No alto de seus 65 anos de idade, deputado federal e ex-governador de Minas Gerais, Aécio carrega não só a experiência de quem já chegou muito  perto da Presidência da República, mas também o peso de um nome que por anos simbolizou o próprio PSDB — e, em certa medida, o centro político brasileiro.

Já foi dada a largada para mais um ciclo eleitoral. 2026 é ano de eleição presidencial e Aécio Neves volta ao debate com um discurso que soa quase anacrônico no atual cenário: ele fala em reconstrução, em diálogo, em equilíbrio. Em entrevista recente, afirmou que há um movimento do eleitorado rumo ao centro, “contrário aos extremismos”. E aposta nesse terreno como palco de um novo protagonismo tucano.  

O centro como resistência

“O que nós não vamos ser são incorporados por um partido, porque isso faria com que o PSDB desaparecesse. Essa fusão tem que permitir o nascimento de uma candidatura ao centro que rivalize com os extremos.” A frase, dita em entrevista ao programa Café com Política, revela não apenas a estratégia do PSDB para 2026, mas também o receio de dissolução, de apagamento, de irrelevância.

Aécio está longe de ser um novato no jogo político. Já foi senador, governador e presidenciável. Também enfrentou denúncias e turbulências que desgastaram sua imagem e abalaram a credibilidade do PSDB. Mesmo assim, segue em cena, defendendo a construção de uma frente de centro, negociando alianças com partidos como Podemos e Solidariedade, e abrindo espaço para possíveis diálogos com MDB, PSD e Republicanos.

Mas o que significa esse centro que Aécio propõe?

Democracia fora da trincheira

Para Aécio, o centro é mais que uma posição entre polos — é uma resposta à radicalização. “Não vamos ter em 2026, Deus queira que eu esteja certo, uma eleição tão polarizada como tivemos em 2018 e 2022, onde o meio foi simplesmente expelido”, afirmou. Ele critica o ambiente político atual, que segundo ele, serve apenas aos extremos, alimentados por discursos inflamados, cancelamentos e uma lógica binária que reduz o Brasil a dois lados.

O centro, então, aparece como uma trincheira desocupada — ou melhor, como uma ponte. Uma ponte entre o liberalismo econômico e a responsabilidade social. Uma ponte entre o passado democrático e um futuro ainda incerto. O certo é que de poucos ou nada adianta um pré candidato ou formador de opinião falar apenas para dentro. A teoria da comunicação manda que falemos para fora.

Num país onde o debate político muitas vezes se transforma em campo de batalha, Aécio tenta relembrar o que é possível construir quando se ouve mais do que se grita. Em suas palavras, “o PSDB vai continuar sendo essencial para apresentar ao Brasil uma alternativa de centro, liberal na economia, responsável do ponto de vista social, que dialogue com os extremos e permita que o Brasil saia dessa polarização tão violenta, tão rasa, que tantos prejuízos vêm trazendo.”

Aécio e 2026: uma peça ou o arquiteto do jogo?

Embora ainda evite confirmar uma candidatura em Minas Gerais, Aécio não descarta voltar ao front eleitoral. “Recebo manifestações diárias de lideranças políticas de Minas Gerais para que eu volte a disputar uma eleição”, diz, com a segurança de quem sabe que ainda tem espaço no tabuleiro.

Mas a grande aposta de Aécio parece ser menos pessoal e mais estratégica: quer ser o arquiteto de uma nova aliança, de um novo discurso. Se conseguirá ou não, ainda é incerto. O fato é que, ao falar em “reconstrução do centro”, Aécio também tenta reconstruir algo em si mesmo — e no próprio PSDB.

Entre o passado e o futuro

O nome Aécio Neves já esteve ligado ao auge e ao abismo. Para uns, ele representa o último respiro da política de conciliação. Para outros, um símbolo de um modelo que se esgotou. Seja como for, ele está de volta ao debate, buscando dar voz ao eleitorado que se sente sufocado entre os gritos de esquerda e direita.

Se conseguirá reerguer o centro, ainda não se sabe. Mas em tempos de ruído e polarização, apenas propor diálogo já é, de certa forma, um ato político relevante.

Em 2026, o Brasil pode não votar com saudade, mas talvez com sede de equilíbrio. E é nesse vazio — e nesse desejo — que Aécio aposta todas as suas fichas.

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