Aécio Neves e a reconstrução do centro: a busca por um Brasil menos polarizado em 2026
Por Ronald Stresser - redação SulpostAécio ganha força quando o assunto é democracia -Wilson Dias/Agência Brasil Brasil |
No corredor largo e ruidoso de Brasília, onde os extremos gritam mais alto, Aécio Neves (PSDB) caminha tentando reencontrar um caminho já muito trilhado e agora quase apagado: o do centro político. No alto de seus 65 anos de idade, deputado federal e ex-governador de Minas Gerais, Aécio carrega não só a experiência de quem já chegou muito perto da Presidência da República, mas também o peso de um nome que por anos simbolizou o próprio PSDB — e, em certa medida, o centro político brasileiro.
Já foi dada a largada para mais um ciclo eleitoral. 2026 é ano de eleição presidencial e Aécio Neves volta ao debate com um discurso que soa quase anacrônico no atual cenário: ele fala em reconstrução, em diálogo, em equilíbrio. Em entrevista recente, afirmou que há um movimento do eleitorado rumo ao centro, “contrário aos extremismos”. E aposta nesse terreno como palco de um novo protagonismo tucano.
O centro como resistência
“O que nós não vamos ser são incorporados por um partido, porque isso faria com que o PSDB desaparecesse. Essa fusão tem que permitir o nascimento de uma candidatura ao centro que rivalize com os extremos.” A frase, dita em entrevista ao programa Café com Política, revela não apenas a estratégia do PSDB para 2026, mas também o receio de dissolução, de apagamento, de irrelevância.
Aécio está longe de ser um novato no jogo político. Já foi senador, governador e presidenciável. Também enfrentou denúncias e turbulências que desgastaram sua imagem e abalaram a credibilidade do PSDB. Mesmo assim, segue em cena, defendendo a construção de uma frente de centro, negociando alianças com partidos como Podemos e Solidariedade, e abrindo espaço para possíveis diálogos com MDB, PSD e Republicanos.
Mas o que significa esse centro que Aécio propõe?
Democracia fora da trincheira
Para Aécio, o centro é mais que uma posição entre polos — é uma resposta à radicalização. “Não vamos ter em 2026, Deus queira que eu esteja certo, uma eleição tão polarizada como tivemos em 2018 e 2022, onde o meio foi simplesmente expelido”, afirmou. Ele critica o ambiente político atual, que segundo ele, serve apenas aos extremos, alimentados por discursos inflamados, cancelamentos e uma lógica binária que reduz o Brasil a dois lados.
O centro, então, aparece como uma trincheira desocupada — ou melhor, como uma ponte. Uma ponte entre o liberalismo econômico e a responsabilidade social. Uma ponte entre o passado democrático e um futuro ainda incerto. O certo é que de poucos ou nada adianta um pré candidato ou formador de opinião falar apenas para dentro. A teoria da comunicação manda que falemos para fora.
Num país onde o debate político muitas vezes se transforma em campo de batalha, Aécio tenta relembrar o que é possível construir quando se ouve mais do que se grita. Em suas palavras, “o PSDB vai continuar sendo essencial para apresentar ao Brasil uma alternativa de centro, liberal na economia, responsável do ponto de vista social, que dialogue com os extremos e permita que o Brasil saia dessa polarização tão violenta, tão rasa, que tantos prejuízos vêm trazendo.”
Aécio e 2026: uma peça ou o arquiteto do jogo?
Embora ainda evite confirmar uma candidatura em Minas Gerais, Aécio não descarta voltar ao front eleitoral. “Recebo manifestações diárias de lideranças políticas de Minas Gerais para que eu volte a disputar uma eleição”, diz, com a segurança de quem sabe que ainda tem espaço no tabuleiro.
Mas a grande aposta de Aécio parece ser menos pessoal e mais estratégica: quer ser o arquiteto de uma nova aliança, de um novo discurso. Se conseguirá ou não, ainda é incerto. O fato é que, ao falar em “reconstrução do centro”, Aécio também tenta reconstruir algo em si mesmo — e no próprio PSDB.
Entre o passado e o futuro
O nome Aécio Neves já esteve ligado ao auge e ao abismo. Para uns, ele representa o último respiro da política de conciliação. Para outros, um símbolo de um modelo que se esgotou. Seja como for, ele está de volta ao debate, buscando dar voz ao eleitorado que se sente sufocado entre os gritos de esquerda e direita.
Se conseguirá reerguer o centro, ainda não se sabe. Mas em tempos de ruído e polarização, apenas propor diálogo já é, de certa forma, um ato político relevante.
Em 2026, o Brasil pode não votar com saudade, mas talvez com sede de equilíbrio. E é nesse vazio — e nesse desejo — que Aécio aposta todas as suas fichas.
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