terça-feira, 15 de abril de 2025

Semente de soberania: Fafen-PR volta à ativa e mira o fim da dependência externa

Reportagem | Economia, Meio Ambiente e Trabalho

O coração que voltou a pulsar: a refinaria de Araucária e a reabertura da Fafen alimentam a esperança de um Brasil mais autossuficiente

Por Ronald Stresser, de Curitiba*

 
A refinaria de Araucária abriga a Repar e a Fafen -Petrobras 
 

Entre o cheiro forte do petróleo e o vapor quente que dança no ar, a cidade de Araucária, na região metropolitana de Curitiba, volta a sentir o pulsar de um gigante que havia adormecido. É ali, entre as torres metálicas da Repar — a Refinaria Presidente Getúlio Vargas — e os galpões industriais da Fafen-PR, que um novo capítulo começa a ser escrito, um capítulo onde a palavra-chave é renascimento.

Após anos de silêncio, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobras voltou a operar em julho de 2024, três anos após ter sido desativada na gestão anterior, sob o argumento de prejuízos financeiros. A reabertura foi conquistada com suor, pressão política e organização dos trabalhadores. Agora, a promessa se concretiza em números: três mil contratações durante o processo de retomada e, quando a planta estiver em pleno funcionamento, ao menos 700 empregos diretos. Mas os impactos vão muito além da folha de pagamento.

“Essa fábrica é muito mais do que uma planta industrial. Ela representa a soberania alimentar do nosso país”, afirma o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), que acompanhou de perto o processo de reativação. “Num mundo em guerra, instável, não podemos depender de 85% de fertilizantes importados.”

O Brasil e o desafio da autossuficiência

É esse número — 85% — que assombra a agroindústria brasileira. Apesar de ser uma potência agrícola, o Brasil importa quase todo o fertilizante que utiliza. No caso do potássio, a dependência é ainda maior: 96%. No período entre 1992 e 2020, o país deixou de ser exportador e passou a importar quase tudo que consome. Agora, com o Plano Nacional de Fertilizantes em vigor, o governo federal tenta alterar o rumo da história. A meta inicial é reduzir essa dependência dos fertilizantes importados para no máximo 50% até 2050.

A reabertura da Fafen, não é apenas simbólica. A planta terá capacidade de produzir 720 mil toneladas de ureia por ano — o equivalente a 8% do mercado nacional — além de 475 mil toneladas anuais de amônia, substância essencial para a produção de fertilizantes. Tudo isso integrado à cadeia do gás natural, num esforço conjunto com a transição energética planejada pela Petrobras.

Inovação que vem do chão de fábrica

O cenário em Araucária também é de otimismo na vizinha Repar, que bateu recordes históricos em 2024: foram 3,5 bilhões de litros de gasolina e 481 mil toneladas de asfalto produzidos. A refinaria também intensificou a produção de diesel com conteúdo renovável, elevando o volume em mais de 80% em relação a 2023. O futuro da energia brasileira, ao que tudo indica, passa por essas chaminés.

“Estamos operando com mais eficiência e menor impacto ambiental”, comemora Felipe Leonardo Gomes, gerente geral da Repar. Segundo ele, a refinaria reduziu significativamente suas emissões de CO2, atingindo a menor intensidade da série histórica desde 2019. “Isso mostra que é possível crescer com responsabilidade”, destaca.

Da história à esperança

Curiosamente, os fertilizantes não são novidade no solo brasileiro. Eles chegaram por volta de 1895, em Campinas, São Paulo — uma região de terra tão fértil que, à época, os agricultores precisavam ser convencidos a usar os produtos. Hoje, o desafio é outro: produzir em larga escala, com independência e inovação.

E a Fafen tem um papel central nessa missão. Com a fábrica de volta ao jogo, somada às reservas naturais do país e aos investimentos crescentes em tecnologia, o Brasil pode enfim sonhar em retomar sua autonomia no setor. O parlamento discute, a indústria se movimenta, os trabalhadores retornam. Há um movimento claro rumo à reconstrução.

Na portaria da Fafen, o entra e sai de operários revela um cotidiano que parecia perdido. Entre capacetes e uniformes, há também olhares esperançosos. Gente como Anderson, 39 anos, técnico em manutenção que conseguiu ser recontratado após quatro anos de incertezas. “Voltar pra cá é como voltar pra casa. Mas agora, com a certeza de que a gente tem futuro.”

Em um país que planta, colhe e alimenta o mundo, talvez não exista imagem mais potente do que a de uma fábrica que volta a funcionar. Em Araucária, o chão voltou a tremer. E dessa vez, é de esperança.

*com informações da Agência Petrobras e Sindipetro PR/SC.

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