Em meio à escalada retórica em Brasília, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) responde com firmeza serena e mantém a pauta do governo: valorização do serviço público e respeito às instituições
Por Ronald Stresser · 02 de dezembro de 2025
| Ministra Gleisi Helena Hoffmann © Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Quando a palavra fisiologismo voltou a eoar nos corredores do Congresso, o ruído político ameaçou deslocar o centro do debate público — de medidas concretas em prol da população para reconstruções de narrativas e suspeitas. Foi nesse cenário que a ministra Gleisi Hoffmann tomou a palavra: não para inflamar o conflito, mas para assinalar limites.
Em nota e entrevistas concedidas na tarde do dia 1º de dezembro, a ministra afirmou ter “o mais alto respeito” pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre — e, em seguida, rejeitou categoricamente a insinuação de que o Executivo estaria trocando indicações por favores ou barganhas. Ao mesmo tempo, colocou em destaque algo simples e raramente dramático: o trabalho contínuo do governo em pautas concretas, como a valorização das forças de segurança e a reestruturação das carreiras públicas.
Firmeza sem teatralidade
O tom adotado por Gleisi foi calculado e maestral. Em vez de escalar o embate, ela optou por um gesto republicano — reconhecer o cargo e a pessoa do adversário institucional e, logo depois, refutar a alegação que — se fosse verdadeira — corroeria a legitimidade democrática. Essa fórmula — firmeza sem teatralidade — protege o núcleo do Executivo sem transformar o conflito numa batalha de traços baixos.
Para aliados próximos, a fala da ministra serviu para duas funções essenciais: demonstrar que o Planalto não cederá a acusações infundadas e, ao mesmo tempo, sinalizar que o governo mantém a disposição de diálogo com o Congresso, desde que este se dê nos termos da transparência e do respeito à coisa pública.
Trabalho levado a sério: MP e projeto para servidores
No mesmo dia em que a troca de farpas foi explorada pela imprensa, o governo publicou uma medida provisória propondo reajustes salariais para parte das forças de segurança — até cerca de 24% para categorias do Distrito Federal e das polícias militares do Amapá, Rondônia e Roraima — e anunciou o envio ao Congresso de um projeto de lei que reúne 24 iniciativas voltadas à reestruturação de carreiras do Executivo.
A atitude é, ao mesmo tempo, prática e política: prática porque trata de salários, condições de trabalho e gestão; política porque trata de construir confiança entre quem governa e quem serve ao público. Ao enfatizar essa agenda, Gleisi deslocou o centro da disputa para aquilo que realmente interessa aos cidadãos — segurança, emprego público e organização do Estado.
Significado político
O episódio reafirma dois vetores importantes da ação governamental: primeiro, a necessidade de preservar a integridade das relações entre os Poderes; segundo, a prioridade em produzir resultados mensuráveis para a população. Gleisi, ao conjugar respeito institucional e resposta firme, encarna uma forma de poder que prefere construir do que demolir.
Em um país onde as narrativas muitas vezes substituem a substância, a capacidade de manter uma agenda propositiva enquanto se defende a honra institucional é um ativo político raro — e, neste caso, valioso. Se o governo pretende traduzir autoridade em legitimidade, é preciso ganhar a disputa pelo que importa: trabalho e resultados.
O que observar
- Como o Senado receberá as indicações feitas pelo Executivo e com qual arguição elas serão avaliadas.
- A tramitação da MP e do projeto de reestruturação das carreiras, e as emendas que possam surgir.
- Se a narrativa do fisiologismo permanecerá como instrumento de pressão ou será desinflada pela própria dinâmica política.
Leitura final
Gleisi Hoffmann não fez espetáculo; fez política. Em vez de transformar a crise em show, atuou como articuladora que lembra ao país que governo é responsabilidade — de decisões, de prioridades e de cuidado com as instituições, servidoras e servidores. Num momento de ruídos, este é um gesto de firmeza que busca recompor a confiança pública na coisa pública.

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