Em vídeo nas suas redes, a ministra e deputada paranaense reafirma a defesa da soberania, critica o enquadramento punitivo e aponta a necessidade de políticas integradas e com centro humano
Por Ronald Stresser · 07 de novembro de 2025
Há uma delicadeza que a política costuma rasgar: a vida das pessoas. É aí — nesse vão entre a proteção legítima e a tentação do atalho punitivo — que se trava o maior debate da semana sobre segurança pública no Brasil.
A operação que atingiu as favelas do Rio chocou o país e reacendeu pressões por soluções imediatas. Em Brasília, as respostas se dividem: o governo empurra uma agenda de integração — a PEC da Segurança e um projeto antifacção com regras mais duras — enquanto parte da oposição tenta transformar o fenômeno do crime organizado numa categoria legal de terrorismo.
Transformar isso em uma etiqueta única — “terrorismo” — é, antes de tudo, uma violência sem contornos: substitui o diagnóstico por um rótulo que facilita decisões de exceção, dilui responsabilidades e abre portas perigosas para ingerências externas. A história moderna nos lembra como classificações apressadas serviram de pretexto para intervenções que não trouxeram segurança, apenas dor.
A voz de quem representa o Paraná e o país
Em vídeo publicado em suas redes, a ministra da Articulação Política — e deputada federal eleita pelo Paraná — Gleisi Hoffmann foi direta, firme e humana. Ela afirmou que o governo é “terminantemente contra” o enquadramento das facções como terroristas e explicou por que essa equação é perigosa para a soberania nacional.
“Somos contra esse projeto. O terrorismo tem objetivo político e ideológico — e, pela legislação internacional, essa classificação abre brecha para que outros países possam intervir no nosso território. Nós não concordamos com isso. Nós já temos legislação sobre facções criminosas e enviamos ao Congresso um projeto de lei que traz rigor e efetividade no combate a elas.”
(Transcrição do vídeo da ministra nas redes sociais).
A ministra não apenas fez a crítica: apontou caminhos. Ressaltou a necessidade de acelerar a tramitação da PEC da Segurança — parada na Câmara — e de aprovar o projeto antifacção que amplia instrumentos legais para investigar, apreender bens e enfrentar o domínio territorial das organizações criminosas.
“Não é sobre silêncio diante do crime; é sobre construir ferramentas que sejam efetivas sem transformar o estado democrático em máquina de excludência”, disse a ministra — uma frase que sintetiza sua postura: firme na repressão a quem comete crimes, vigilante quanto às liberdades que garantem que a Justiça não vire vingança.
Soberania e risco geopolítico
O debate extrapola o jurídico. Ao nivelar o crime organizado ao terrorismo, abre-se uma via que autoriza interpretações internacionais e justificativas de segurança que podem, na prática, reduzir a autonomia do Brasil sobre seu território e suas decisões.
Não é teoria: intervenções em outras regiões do mundo, muitas vezes sustentadas por acusações frágeis, deixaram lições duras. Assim, a advertência da ministra sobre soberania não é retórica — é precaução histórica: um país que perde o controle de como rotula seus problemas perde também a capacidade de conduzí-los.
Entre governadores, PEC e o caminho da integração
Governadores de diversas regiões criaram um consórcio para tratar da segurança e criticaram a PEC proposta pelo governo. O Planalto, por sua vez, argumenta que a proposta busca padronizar registros, fortalecer a integração e garantir que União, estados e municípios cooperem de forma mais eficiente — sem usurpar comandos locais.
Especialistas consultados nas últimas semanas mostram que há ganhos em padronizar dados e procedimentos, além de desenvolver instrumentos reais de investigação e apreensão. Mas nenhum desses ganhos se realiza sem um mínimo de consenso político: sem ele, a maquinaria da segurança tende a oscilar entre o autoritarismo e a ineficiência.
Humanizar a segurança: a prioridade que falta
Segurança pública não é apenas um mapa de operações e números de apreensões. É também a vida interrompida, o futuro negado, a dor das mães e pais que perdem filhos — e a esperança de comunidades que buscam oportunidades. É possível — e necessário — combinar firmeza com prevenção social, inteligência policial com integração entre entes federativos, repressão a líderes do crime com políticas econômicas que diminuam o apelo do ilícito.
Nesse esforço, Gleisi Hoffmann aparece como voz coerente: atua no Parlamento, mantém diálogo com governadores e reafirma compromisso com o povo do Paraná e com toda a nação. Sua postura combina pressa legislativa e cuidado institucional — exatamente o que o país precisa para transformar uma crise em projeto coletivo de proteção e cidadania.


Nenhum comentário:
Postar um comentário