Era para ser apenas uma atividade entre tantas no calendário escolar: um exercício sobre reutilização em alusão ao Dia Mundial do Meio Ambiente. Virou espetáculo — e, mais que isso, espelho
Era para ser apenas uma atividade entre tantas no calendário escolar: um exercício sobre reutilização em alusão ao Dia Mundial do Meio Ambiente. Virou espetáculo — e, mais que isso, espelho
Por Ronald Stresser — 21 de novembro de 2025
| Reprodução/Internet |
No Centro Educa Mais Djalma Cruz, em Cândido Mendes (MA), alunos do 2º e 3º ano do Ensino Médio costuraram um recado: com papelão, sacolas plásticas, páginas de livros antigos e materiais que muitos chamariam de lixo, fizeram roupa, fizeram luxo, fizeram futuro.
O desfile nasceu dentro da programação da COM-VIDA — um programa de educação ambiental presente em centenas de escolas estaduais — mas ganhou as redes como se carregasse uma urgência coletiva. Em poucos dias o vídeo ultrapassou milhões de visualizações e foi replicado por jornais locais, perfis de professores e milhares de internautas que se espantaram com a beleza possível no que sobrou.
O verniz da improvisação — e a raiz da coragem
Nada ali tinha o verniz das grandes produções: as peças eram fragrantes do trabalho coletivo — cola, durex, recortes, remendos, páginas de livros que voltaram a servir ao corpo humano. Havia um improviso que não é gambiarra; era projeto. Cada dobra de papelão, cada volume criado com sacolas plásticas, carregava uma ideia de design, de economia circular e, sobretudo, de pertencimento.
No vídeo que circulou com força, o narrador comenta: “Olha que fantástica a criatividade desses alunos. Conta pra mim, que nota eles merecem? Porque realmente ficou maravilhoso.” A pergunta — direta, simples — reverbera. Ela transforma o espectador passivo em avaliador, e o comentário em voto de confiança.
O impacto além das redes
A repercussão trouxe reconhecimento. Veículos locais publicaram matérias, perfis educacionais repercutiram o projeto e a escola recebeu menções e carinho público. Para jovens acostumados a ouvir que o seu lugar é o “dever de casa”, o desfile representou algo diferente: visibilidade. Aquele exercício escolar virou trajetória.
Educação que dignifica
O gestor da escola ressaltou a dimensão comunitária da iniciativa: quando a escola abre espaço para a imaginação dos alunos, ela não apenas ensina conteúdos; ela devolve voz. É essa devolução que fica — nos olhares dos que desfilaram, nas mãos que colaram, nas mães e professores que aplaudiram. A transformação de materiais, nesse sentido, foi exemplar: o que era descartável voltou a ter valor simbólico e prático.
Lugar, futuro, propósito e cuidado
Se pedir nota é reduzir o gesto a número, ainda assim vale dizer: o país precisa mais desses 10. Não pelo espetáculo viral, mas pela coragem política escondida nas dobraduras de papelão — a coragem de falar que a escola pública pode ensinar a inventar caminhos, a costurar autoestima, a transformar desesperança em projeto. O vídeo viralizou no início do ano e têm milhares de visualizações nas redes sociais.

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