Depois de quitar sua dívida histórica, Itaipu impulsiona queda na conta de luz e fortalece a soberania energética
Por Ronald Stresser |
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| Itaipu abastece Brasil e Paraguai com tarifa competitiva — William Brisida/Itaipu Binacional |
A força das águas do Rio Paraná continua movendo mais do que turbinas — move histórias, esperanças e a crença de que desenvolvimento pode ser sustentável e acessível. Quase meio século após entrar em operação, a Itaipu Binacional alcança em 2025 um marco que toca o bolso e o cotidiano de milhões de brasileiros: sua energia figura entre as mais baratas do país, com tarifa aplicada à CPFL Piratininga que evidencia potencial de alívio nas contas de luz.
Em 2025, a tarifa praticada em contrato com a distribuidora CPFL Piratininga foi reportada em R$ 221,30 por megawatt-hora (MWh) — um valor inferior à média das usinas cotistas previstas pela Lei 12.783/2013 (R$ 222,59/MWh) e significativamente abaixo do ACR médio do mercado regulado (R$ 307,29/MWh). Em termos práticos, trata-se de energia limpa e firme oferecida a um preço aproximadamente 33% mais competitivo do que parte do mercado regulado.
A redução tem explicação: com a quitação da dívida de construção — etapa relevante concluída em 2023 — e a manutenção da tarifa de repasse aprovada pela agência reguladora, a estrutura de custos da usina ficou menos pressionada. Segundo representantes da própria Itaipu, esse cenário permite transferir ganhos de eficiência para a cadeia, reforçando o que se chama de modicidade tarifária — ou seja, tarifas mais acessíveis ao consumidor.
“Essas reduções sucessivas consolidaram Itaipu como uma das fontes de energia mais competitivas do mercado regulado, contribuindo para a modicidade tarifária e para a previsibilidade dos custos das distribuidoras”, disse Enio Verri, diretor-geral brasileiro da usina.
A usina também se diferencia operacionalmente: opera com superávit de geração em relação à sua garantia física e atua como doadora no Mecanismo de Realocação de Energia (MRE). Esse desempenho reduz o custo médio do bloco hidráulico e fortalece a estabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN), especialmente em momentos de transição, quando a geração solar recua ao entardecer.
Impacto para quem paga a conta
Para o consumidor doméstico a notícia é promissora — mas exige cautela jornalística: a tarifa mais baixa decorre de contratos e parâmetros específicos; não é, por si só, um desconto automático imediato na fatura de todo domicílio. Ainda assim, menor pressão nos custos de geração tende a reduzir o risco de aumentos abruptos e cria espaço político e econômico para políticas tarifárias menos danosas aos lares e às pequenas empresas.
Sustentabilidade e desafio social
Itaipu tem buscado conjugar eficiência com projetos socioambientais: reflorestamento, proteção de bacias e iniciativas de saneamento que visam preservar a saúde do reservatório. Como lembra a própria gestão da usina, “a produção de energia começa muito antes da água chegar às turbinas” — nasce na proteção do solo, no diálogo com comunidades e na educação ambiental.
Ainda assim, a narrativa da “energia limpa” convive com questões que merecem vigilância: impactos ambientais, a relação com comunidades ribeirinhas e o equilíbrio entre desenvolvimento econômico e justiça territorial. Nossa cobertura acompanha esses pontos, porque energia justa também passa por cuidado com populações e ecossistemas.
O papel estratégico no novo mix
Com o avanço acelerado do vento e do sol nas regiões Norte e Nordeste, Itaipu transita de grande fornecedora para pilar de estabilidade do SIN. Sua potência firme e capacidade de resposta rápida são essenciais em janelas em que geradores variáveis perdem produção — fazendo da usina uma ponte entre a matriz tradicional e a renovável.
Em síntese: a queda relativa do custo da energia gerada por Itaipu é um resultado técnico com forte dimensão social. Representa uma oportunidade para políticas públicas que aliviem o custo de vida das famílias e protejam empregos, desde que a vantagem seja utilizada com transparência e equidade.
O que observar a seguir
- Como e em que prazo essa vantagem tarifária será repassada ao consumidor residencial em diferentes regiões do país;
- Como serão monitorados os impactos socioambientais em áreas diretamente afetadas pela operação e projetos de mitigação;
- Quais serão os desdobramentos das relações binacionais entre Brasil e Paraguai, que influenciam o futuro estratégico da usina.
Para os leitores do Sulpost — sobretudo os trabalhadores que sentem no mês a mês o peso das contas — é importante lembrar que energia barata não é apenas um dado econômico: é condição de dignidade, de manutenção de pequenas empresas e de estabilidade para quem acorda cedo e depende de serviços públicos e privados funcionando com preços justos.


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