VENENO À VENDA: BEBIDAS ADULTERADAS COM METANOL AVANÇAM NO BRASIL E CHEGAM AO PARANÁ
Por Ronald Stresser — Sulpost
Quando o copo vira armadilha, dentro do brinde que ceifa vidas, a festa pode se transformar em luto. Entre corredores, enfermarias, quartos e UTIs de hospitais, laudos e investigações, famílias esperam por respostas enquanto o país procura um nome para a emergência em saúde pública. Talvez por negligência da fiscalização, ou escalada do crime organizado, ou ambos, as bebidas adulteradas chegaram a um grau de letalidade a nivel nacional e investigações, também já estão realizadas pela Polícia Federal.
O que aconteceu
Em setembro apareceram os primeiros casos, antes em São Paulo, depois no Pernambuco, a crise foi se espalhando e logo no início de outubro, o Paraná também registrou casos de intoxicação por metanol — um álcool industrial altamente tóxico não destinado ao consumo humano.
Dois casos já foram confirmados em Curitiba e outros quatro seguem em investigação em diferentes cidades do Estado. Pacientes chegaram a apresentar perda visual, confusão mental e quadro que exigiu internação imediata.
O metanol não denuncia sua presença pelo cheiro ou sabor. É silencioso. E por isso, é um veneno altamente letal, mortal.
O Estado se organiza
A Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa) atualizou protocolos, lançou orientações e mobilizou centros de toxicologia — além de solicitar à Polícia Científica análises laboratoriais das amostras coletadas. O Ministério da Saúde já enviou antídoto baseado em etanol farmacêutico para o atendimento inicial dos casos.
Em paralelo, a Polícia Civil do Paraná (PCPR), a Vigilância Sanitária e o Ministério da Agricultura realizaram fiscalizações em distribuidoras e pontos de venda. Em Curitiba, uma operação no bairro Boqueirão recolheu amostras e lacrou material suspeito, que agora aguarda laudos periciais.
Política e prevenção: o projeto que quer dar um selo de confiança
Em junho, o deputado estadual Requião Filho (PDT), em parceria com a Abrabar (Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas), apresentou o Projeto de Lei nº 393/2025. A proposta institui o selo “Beber Legal”, com objetivo de certificar bares e restaurantes que comprovem procedência e qualidade das bebidas comercializadas. A proposta aguarda inclusão na pauta da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).
Para o autor, trata-se de uma medida preventiva — uma tentativa de criar transparência e rastreabilidade, penalizar a clandestinidade e valorizar quem trabalha dentro da lei.
O comércio, a concorrência e a economia humana
Proprietários de bares e restaurantes relatam perda de clientes, medo e angústia. A Abrabar defende que o Paraná é um corredor de mercadorias sem procedência e que, sem medidas firmes, empresários sérios são prejudicados por quem lucra com o descaminho e a contrafração.
Os números do mercado paralelo são assombrosos e traduzem uma perda dupla: vidas e receita pública. Em cena estão famílias, empregos e a frágil confiança entre consumidor e comerciante.
A face humana
Conversamos com profissionais de saúde e testemunhas: há um ritmo de espera, de chamadas para laboratórios, de pequenas vitórias e perdas anunciadas. Um paciente de 71 anos perdeu a visão em poucas horas; uma jovem recebeu alta, mas carrega dores e o temor de sequelas. O relato mais recorrente é o da impotência — de quem se vê vítima de um risco que não pode checar sozinho.
“O metanol não dá segunda chance. Quando o paciente chega, muitas vezes já é tarde”, diz um médico plantonista que acompanha os casos.
Como se proteger
- Compre bebidas apenas em estabelecimentos confiáveis, exija bebidas seladas e nota fiscal.
- Desconfie de preços muito abaixo do mercado.
- Verifique lacres, rótulos com erros grosseiros ou selo do IPI e registro do MAPA em embalagens quando aplicável.
- Em caso de sintomas (náusea, cefaleia, visão turva, dor abdominal intensa), procure serviço de saúde imediatamente e informe aos Centros de Informação e Assistência Toxicológica do Paraná (CIATox).
CIATox Curitiba: 0800 041 0148 — CIATox Londrina: (43) 3371-2244 — CIATox Maringá: (44) 3011-9127 — CIATox Cascavel: (45) 3321-5261
O que falta — e o que precisa ser cobrado
Fiscalização mais intensa, penas maiores para quem adulterar e distribuir bebidas, e uma cadeia de rastreabilidade que envolva produtores, distribuidores e pontos de venda. O Beber Legal pode ser um começo, mas precisa andar rápido — e ser acompanhado por investigação criminal firme e políticas públicas que sustentem as medidas preventivas.
Enquanto isso, familiares pedem — com razoável indignação — que a polícia e o poder público não transformem uma tragédia em estatística. Pedem resposta, acompanhamento e justiça.
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