sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Governo promete processar hotéis por preços abusivos durante a COP30 em Belém

Governo federal anuncia que vai acionar judicialmente hotéis de Belém que estão cobrando preços abusivos durante a COP30 — Ação visa a defesa da imagem da cidade e do direito de participação justa no maior evento climático do mundo

Por Ronald Stresser — Sulpost 
 
Preços abusivos, para a COP30, geram indignação — Reprodução/Internet
A cidade respira cheiro de tucupi e fumaça de lenha, o mercado pulsa com vozes que misturam português e memórias de rio. É essa imagem — de mesas cheias, de abraços largos e de uma cidade que abre a casa para o mundo — que o Pará quer levar à COP30. Mas, nas últimas semanas, há quem tente desfigurar esse retrato: preços de hotéis que sobem como maré alta, deixando à margem aqueles que mais precisam estar na conferência.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse, nesta quarta-feira (24), que o governo vai acionar judicialmente os estabelecimentos hoteleiros que cobraram valores "estratosféricos" para as noites da COP30. "Nós vamos acionar juridicamente, buscando trazer esses preços para o patamar da razoabilidade", afirmou. Palavras que soam como um chamado para que a cidade volte a pertencer ao seu povo — e não ao lucro fácil.

Números que excluem

No site oficial da conferência (cop30.br), o teto previsto era de US$ 600 por diária; nas buscas, porém, constou uma média de US$ 451 (cerca de R$ 2,4 mil) e ofertas que chegaram a ultrapassar US$ 1.000 por noite. São números que não cabem no bolso de delegações pequenas, pesquisadores independentes, povos indígenas e ativistas que carregam, às costas, a urgência da floresta.

O caso ganhou contornos internacionais: 25 países encaminharam carta à ONU demonstrando preocupação com a acessibilidade do evento. Para várias representações de nações mais vulneráveis às mudanças climáticas, a diferença entre participar ou não passa por uma conta simples — e implacável.

Obras prontas, desafio humano

Rui Costa lembra que a prefeitura e o governo federal investiram pesado em infraestrutura — mais de R$ 4 bilhões, segundo o governo — e que obras como a Vila dos Líderes e o Aeroporto Internacional estão praticamente finalizadas. "Se a imagem ao final da COP for a de que em Belém se praticam preços abusivos, impossíveis de serem pagos por qualquer pessoa comum, o grande legado da COP não será positivo", disse o ministro.

A realidade da hospedagem em Belém ajuda a explicar o problema. São mais de 53 mil leitos mapeados, mas apenas 27,4% dessa oferta está em hotéis tradicionais — o resto vem de imóveis de temporada e plataformas como Airbnb, que juntos somam mais de 60% das opções. Uma rede hoteleira com fôlego reduzido, diante da demanda global, criou espaço para especulação.

"Aqui a gente cuida da visita com pão quente e conversa, não com preço de ouro." — Dona Maria, moradora e pequena anfitriã local.

Do ponto de vista jurídico, o governo já acionou a Advocacia-Geral da União para buscar soluções que alinhem os preços à razoabilidade. Para analistas, a ação é necessária não só para proteger participantes, mas para resgatar o simbolismo da conferência: reunir vozes diversas, especialmente as de quem menos tem, para decidir rumos sobre um planeta em mudança.

A disputa é, também, um teste de retórica. Em um momento em que o planeta discute justiça climática, não seria aceitável que a conferência — palco das conversas sobre equidade — fosse marcada pela exclusão de quem mais sofre com as mudanças. Belém tem leitos, tem infraestrutura, tem um povo pronto para receber. Falta, para alguns, apenas a vontade de traduzir esse potencial em acesso real.

Ao final, o que está em jogo é mais do que tarifas: é o retrato que o mundo levará da Amazônia e do Brasil. Será a imagem de uma terra generosa, que enfrenta desafios com criatividade e acolhimento, ou a lembrança de um evento que deixou à margem os menos favorecidos? A resposta está sendo disputada hoje, nos corredores dos hotéis e nos gabinetes jurídicos — e, sobretudo, nas ruas, nas praças e nas cozinhas onde o povo prepara o que tem de melhor: um abraço.

📌 Com informações da Agência Brasil, G1, InfoMoney, Ministério do Turismo, organização da COP30 — Conteúdo produzido com base em reportagens e levantamentos da imprensa nacional e órgãos oficiais.

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