Projeto de porto para contêineres em Pontal do Paraná — Trabalho, Riqueza e Sustentabilidade: o projeto que promete logística moderna, turismo náutico e respeito ao litoral
Por Ronald Stresser — Sulpost
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Projeto conceitual do Porto de Pontal: integração entre logística, marina e vila de canais — pensado com critérios de sustentabilidade — Divulgação |
Pontal do Paraná guarda há anos um projeto que pulsa entre promessas e resistências: o chamado Porto de Pontal. Não é apenas um terminal — é a tentativa de integrar logística para operação com navios de transporte de contêineres e automóveis, uma marina, uma vila residencial com canais e trapiches, e áreas pensadas para o turismo náutico.
A proposta vem com uma palavra que o litoral pede a gritos: sustentabilidade. Desde o desenho urbano até o projeto de macrodrenagem e as medidas previstas de compensação ambiental, a narrativa oficial aposta em tecnologia e em um modelo de intervenção que minimize impactos sobre restingas, manguezais e a dinâmica costeira.
Um projeto que ainda não saiu do papel — e por quê
Como tantas grandes obras no Brasil, o Porto de Pontal ainda não saiu do papel. Parte disso se explica por trâmites técnicos e ambientais — normais quando se trata de áreas costeiras sensíveis. Mas há também algo mais tortuoso: o lobby oculto que atua para preservar posições consolidadas. No país, quando o lobby ultrapassa limites legais, ele se faz na penumbra — discreto, poderoso, e muitas vezes decisivo para travar iniciativas.
A razão imediata é simples, mesmo que incômoda: o custo operacional de um terminal em Pontal poderia ser inferior ao de portos já estabelecidos — Paranaguá, Itajaí, Santos — e isso mexe com interesses enormes. Longe da retórica, estamos falando de cadeias que movimentam cifras gigantescas — portos brasileiros lidam com volumes e valores que balizam regiões inteiras da economia nacional.
A estrada que reabre o caminho: decisão do TRF4
Um capítulo recente e decisivo aconteceu em 16 de julho deste ano: o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) acatou recurso do Governo do Paraná e liberou a continuidade do processo de licenciamento ambiental para dois componentes essenciais da chamada Faixa de Infraestrutura — a nova rodovia paralela à PR-412 e o canal de macrodrenagem que dará acesso a Pontal do Sul.
A PR-412, construída nos anos 1970, carrega congestionamentos e alagamentos crônicos. A nova via e o canal prometem desafogar o tráfego, reduzir perdas por inundações e abrir uma via logística mais moderna para a região. Para muitos moradores, como lembra o presidente do Movimento Pró-Paraná, Marcos Domakoski, são obras que trarão infraestrutura real ao cotidiano.
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Duplicação de trechos urbanos, conectando rodovias que dão acesso ao litoral, está entre os projetos para a região — AEN |
Emprego, riqueza e logística — a promessa
Do ponto de vista econômico, o Porto Maravilha aparece como um motor: projeções institucionais falam em milhares de empregos — estimativas frequentemente citadas situam-se em torno de 1.500 empregos diretos e outros 5.000 indiretos em operação plena — além do efeito multiplicador sobre serviços, turismo e comércio local.
Em termos logísticos, um terminal privado em Pontal poderia aliviar o já saturado corredor de Paranaguá, oferecendo alternativas para a logística de contêineres.
O "Projeto Porto Pontal do Paraná" prevê que terminal portuário privado em Pontal do Paraná, será um dos mais modernos da América do Sul, especializado em contêineres.
Menor custo operacional e agilidade nos prazos tornam Pontal atraente para operadores e embarcadores — e isso altera o jogo econômico regional.
Turismo e marina: outro face do projeto
O projeto também mostra um condomínio residencial com marinas, canais residenciais, casas com trapiches e espaços de convivência. É a visão de um litoral que privilegia o mar também como lazer — atraindo embarcações de recreio e potencialmente cruzeiros turísticos. Estudos técnicos e simulações náuticas feitos por universidades e por Portos do Paraná já ensaiam essa possibilidade na Baía de Paranaguá. Um desenvolvimento bem-feito poderia ampliar a cadeia turística local: hotéis, restaurantes, guias, e pequenos empreendedores veriam novas oportunidades.
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Vista aérea da área destinada ao novo porto — JCR/Divulgação |
João Carlos Ribeiro: empreendedorismo e visão
No centro da articulação privada está o empresário João Carlos Ribeiro, voz e rosto que deram forma ao projeto em sua fase inicial. Sua trajetória é a de um empreendedor que apostou em escala, projeção e captação de investidores — a própria entrada de gestoras de investimento sinalizou que o projeto tem viabilidade econômica.
Ribeiro e seus parceiros defendem um Porto Maravilha pensado em tecnologia, compensações e monitoramento contínuo — um modelo que, em tese, permite conciliar eficiência logística e preservação ambiental. É essa promessa que têm repetido em reuniões, estudos e apresentações aos órgãos públicos.
Dúvidas, críticas e a necessidade de garantias
Do outro lado das promessas, há vozes que não se convencem. Organizações ambientais e movimentos sociais se preocupam com riscos à restinga, manguezais, à pesca artesanal e ao modo de vida das comunidades locais. A judicialização que suspendeu temporariamente etapas do projeto originou-se dessas preocupações: alegações de riscos ambientais e falhas em regularizações fundiárias chegaram ao Judiciário e deram origem a atrasos e exigências.
O desafio, portanto, é concreto e ético: não basta declarar sustentabilidade. É preciso aplicar condicionantes fortes — licenciamento rigoroso, transparência plena, mitigação real, monitoramento independente e mecanismos claros de reparação socioambiental. Sem isso, a promessa de desenvolvimento corre o risco de reproduzir velhos erros.
O equilíbrio possível
O Porto Maravilha está num lugar simbólico: a interseção entre o desejo de progresso e a obrigação de conservar. Se for conduzido com transparência, participação comunitária e ciência, pode ser um exemplo de projeto costeiro que combina produção, turismo e cuidado ambiental. Se for empurrado por interesse obscuro e atalhos, poderá alimentar conflitos e prejuízos duradouros.
Em última instância — e aqui cabe uma pergunta que acompanha todo grande empreendimento — o que queremos que seja legado ao litoral paranaense? Mais empregos, mais riqueza e uma costa preservada? Ou lucro concentrado e um patrimônio natural empobrecido? A resposta está na decisão coletiva que governos, empresas, sociedade civil e justiça tomarem nos próximos capítulos deste projeto.
Observação: a matéria sintetiza documentos públicos, reportagens e manifestações institucionais. Para links e documentos originais, recomendamos consultar os sites do TRF4, do Governo do Paraná, Portos do Paraná e reportagens especializadas sobre Porto Pontal.
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