Governo prepara plano de contingência para salvar setores atingidos pelo tarifaço dos EUA
No estacionamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o vice-presidente Geraldo Alckmin falou com a pressa e a prudência de quem sabe que decisões anunciadas em Brasília rebatem nas mesas, nos depósitos e nas vidas por todo o país. O alvo: o tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros — uma medida que expõe cadeias produtivas inteiras e tira o sono de trabalhadores e empresários.
Segundo Alckmin, o plano de contingência será anunciado até terça-feira (12) e terá como princípio a diferenciação: uma "régua" que medirá o grau de exposição de cada setor às exportações para os Estados Unidos, tornando o socorro mais preciso e menos genérico.
“Ele foi apresentado ao presidente Lula, que terminou ontem tarde da noite o trabalho de leitura. O presidente vai bater o martelo e aí vai ser anunciado. Se não for amanhã, provavelmente na segunda ou terça-feira.”
O objetivo, disse o vice-presidente, é ter foco: priorizar o amparo para as empresas e segmentos mais afetados pela tarifa de 50% e, ao mesmo tempo, evitar distribuição de recursos que não alcançaria quem realmente precisa.
Régua de exposição: tilápia não é atum
Alckmin explicou que o critério será baseado na intensidade das exportações — há setores em que mais de 90% da produção é consumida internamente, e outros em que grande parte segue para o exterior. "Há setores em que mais de 90% da produção fica no mercado interno, com exportações de 5%, no máximo 10%. E tem setores em que metade do que se produz é para exportar. E tem setores que exportam mais da metade para os Estados Unidos. Então, foram muito expostos, estão muito expostos", disse.
O ministro citou o setor de pescados para exemplificar a necessidade de tratar cada produto dentro de um mesmo segmento de forma diferente: a tilápia tem consumo majoritariamente interno; o atum, ao contrário, depende muito mais de mercados externos.
Calçados e couro: cadeias que dependem do mundo
Antes do encontro com o encarregado de negócios da embaixada dos EUA, Alckmin recebeu representantes da Abicalçados. Ele alertou que o setor será bastante afetado, sobretudo a cadeia do couro — matéria-prima com elevada fatia de exportação. "O couro, mais de 40% é para exportação", afirmou, lembrando que, embora o calçado empregue muita mão de obra, o impacto sobre o couro pode ser ainda mais severo.
Entre diplomacia e economia
Na tarde em que falou com a imprensa, Alckmin também se reuniu com o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar. O encontro foi tratado de forma discreta: "foi muito bom", limitou-se a dizer o vice-presidente. Escobar visitou ainda a Comissão de Relações Exteriores do Senado e a Câmara dos Deputados, sinalizando que o tema já ganhou recorte diplomático e parlamentar.
O que está em jogo
Mais do que números, o tarifaço tem rostos: o pescador que depende da venda do atum, o curtume que vê estoques de couro acumularem, a fábrica que teme não conseguir pagar salários no fim do mês. O plano de contingência promete ser a ponte que evite demissões em massa e fechamento de empresas que levaram anos para se consolidar.
Até terça-feira, os setores aguardam medidas concretas — não apenas palavras — capaz de amortecer o choque e preservar empregos e mercados.
📍Com informações da Agência Brasil. Edição para o Sulpost: Ronald Stresser.
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