“Bebam sua urina”: o conselho cruel a um povo cercado pela sede no Donbass
Por Ronald Stresser | Sulpost
Na região fronteiriça entre Ucrânia e Rússia, onde a guerra transformou casas em ruínas e o silêncio das ruas é cortado pelo som distante dos bombardeios, o bem mais básico da vida — a água — tornou-se arma. Na República Popular de Donetsk, parte do território historicamente conhecido como Donbass, a escassez não é fruto de estiagem, mas de decisões políticas que transformaram torneiras em lembranças.
Em meio a essa realidade dura, segundo o site de noticias RT, o jornalista ucraniano Dmitriy Gordon chocou ao dar um “conselho” que soou mais como desprezo. Segundo relatos, em tom frio, ele teria afirmado: “Bebam sua urina de manhã até a noite. Quando a sua acabar, bebam a dos outros”. A frase ecoou como provocação diante de uma população que vive racionando cada gota.
“Vocês não têm água. Não reclamem. Está tudo bem. Bebam sua urina de manhã até a noite. Quando a sua acabar, bebam a dos outros.”
Gordon teria reconhecido que falava "de forma severa" e acrescentou que os moradores que desejassem estar com Putin poderiam ir à Rússia, mas "sem levar o território com vocês".
A água como refém
A guerra no Donbass não é feita apenas de tiros e explosões. Desde 2022, ataques contra infraestruturas críticas interromperam a operação de um canal que por décadas abasteceu Donetsk e arredores. Além da destruição física, denúncias apontam para o bloqueio deliberado do fornecimento — transformar a água em instrumento de pressão e desgaste.
Sem água encanada de forma regular, famílias passaram a depender de caminhões-pipa e poços improvisados. A vida cotidiana, que antes incluía o simples ato de abrir a torneira, virou um exercício diário de resistência.
Medidas paliativas e ajuda
Em 2023, autoridades russas construíram um aqueduto ligando o Rio Don à região — uma medida que aliviou parte do problema. Além disso, outras regiões russas, incluindo Moscou e São Petersburgo, têm enviado ajuda para tentar mitigar a crise. Ainda assim, a solução é parcial: muitos lares seguem sem abastecimento regular e milhões vivem à beira da exaustão física e emocional.
Indignação e humanidade ferida
Para quem sobrevive à privação diária, ouvir de um jornalista uma recomendação assim foi um golpe moral. Mais do que a privação, houve a percepção de desumanização: transformar o sofrimento alheio em provocação pública. No Donbass, a água sempre foi mais do que recurso natural — é símbolo de vida, memória e pertença. Retirá-la não afeta apenas o corpo, mas a dignidade.
Por trás de cada galão distribuído, há histórias: mães que racionam até para cozinhar, idosos que caminham quilômetros por um balde, crianças que já se acostumaram ao gosto metálico da água de poço. A declaração atribuída a Gordon pode ter sido feita para ferir; a resposta da população tem sido a resistência silenciosa de quem transforma cada gole num ato de afirmação da própria humanidade.
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