Inflação em 2025 deve cair, mas segue acima da meta — e brasileiro sente no bolso
Valter Campanato / Agência Brasil |
No vai e vem das contas, da feira ao financiamento da casa, cada ponto percentual na inflação faz diferença na vida do brasileiro. E, pela 11ª semana consecutiva, o mercado financeiro traz uma notícia que, embora tímida, acende um lampejo de otimismo: a previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — a inflação oficial — caiu de 5,07% para 5,05% em 2025. O dado consta no Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (11).
Acima do que o BC deseja
Apesar da melhora, a projeção segue acima do teto da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional: meta central de 3% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual — o limite superior é de 4,5%. No acumulado de 12 meses até junho, a inflação alcançou 5,35%, o que representa o sexto mês seguido acima do teto e configura o chamado “estouro da meta” no regime adotado em 2024.
Quando isso ocorre, o presidente do Banco Central deve enviar uma carta aberta ao ministro da Fazenda com a descrição das causas do descumprimento, as providências para assegurar o retorno da inflação aos limites e o prazo esperado para que as medidas produzam efeito.
Selic alta e incertezas internacionais
O principal instrumento para conter a inflação continua sendo a taxa básica de juros, a Selic, atualmente definida em 15% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). O colegiado interrompeu o ciclo de alta na última reunião, após sete aumentos consecutivos, mas não descartou a possibilidade de elevar a taxa novamente caso o cenário externo — especialmente a política comercial dos Estados Unidos — aumente as pressões sobre os preços.
Por enquanto, a estimativa dos analistas é que a Selic encerre 2025 em 15%, com projeções de queda para 12,5% em 2026 e 10,5% em 2027.
PIB e câmbio: crescimento menos vigoroso
O mercado também revisou para baixo as expectativas de crescimento: o Produto Interno Bruto (PIB) para 2025 ficou estimado em 2,21%, ante 2,23% na semana anterior. Para 2026 e 2027, as projeções estão em 1,87% e 1,93%, respectivamente. Já a cotação do dólar tem previsões estáveis em torno de R$ 5,60 para o fim de 2025 e R$ 5,70 nos anos seguintes.
O peso no dia a dia
Para a economista Ana Luísa Prado, que acompanha famílias endividadas, a redução projetada da inflação é um sinal bem-vindo, mas insuficiente para reverter perdas de renda acumuladas.
“Quando falamos de inflação acima da meta, significa que o poder de compra segue corroído. Mesmo com desaceleração, o preço do arroz, da carne, da luz e do transporte continua pesando.”
Ela lembra que juros elevados encarecem o crédito e freiam investimentos, efeitos que se traduzem em menor dinamismo do emprego e da renda. Para muitos, a sensação é de que o país respira mais devagar: números melhores, mas alívio ainda distante.
Entre a meta e o carrinho do supermercado
A queda nas projeções é um respiro técnico — e, em um ambiente saudável, abriria espaço para descompressão dos juros e queda do custo do crédito. Mas, com a Selic em patamar elevado e o crescimento desacelerando, o caminho até que isso se reflita no bolso do brasileiro continuará árduo e incerto.
O leitor que acompanha os boletins semanais sabe: a economia é disciplina e também coração. As projeções de 5,05% para 2025 e 4,41% para 2026 (com 4% previsto para 2027) mostram um sinal de controle, mas não dispensam vigilância — nem empatia — com quem estaciona o carrinho no mercado e sente o preço subir.
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