Bolsonaro, a tornozeleira e o espelho: provocação, sensação de impunidade, jogada de marketing ou mera vaidade?
Por Ronald Stresser | Sulpost
Valter Campanato/Agência Brasil |
Na tarde dessa segunda-feira, 21 de julho, Jair Bolsonaro surgiu na Câmara dos Deputados como quem faz questão de ser visto. Mas era apenas o ex-presidente quem caminhava por ali — era um réu monitorado, com tornozeleira eletrônica na perna esquerda, imposta pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
As imagens da visita tomaram conta das redes sociais. O detalhe é que Bolsonaro está proibido de usá-las — direta ou indiretamente. E foi justamente esse tipo de movimentação que levou o STF a dar um ultimato: 24 horas para que a defesa explique o possível descumprimento das medidas cautelares. Caso contrário, a prisão preventiva pode ser decretada.
A pergunta que o país inteiro parece querer responder é simples, mas profunda: por que Bolsonaro faz isso?
Quando o confronto deixa de ajudar
Há quem veja na atitude do ex-presidente um ato de resistência. Outros enxergam provocação. Para muitos apoiadores, é o gesto de quem não aceita calado o que considera injusto. Mas é importante refletir: confrontar abertamente a Justiça — a mesma que precisa ser respeitada por todos — ajuda ou enfraquece o projeto político que Bolsonaro representa?
Transformar o Supremo em inimigo não fortalece a direita. Nem o conservadorismo. Pelo contrário: isola, desmobiliza e deslegitima. Não se trata de concordar com tudo o que vem do STF, mas de entender que sem regras claras e respeitadas por todos, a democracia se esvazia.
A vaidade de quem já foi aplaudido
Bolsonaro foi deputado, capitão e presidente. Acostumou-se à atenção, aos aplausos, aos microfones. Perdeu a presidência, mas não perdeu o desejo de permanecer no centro do palco.
O gesto de mostrar a tornozeleira talvez não tenha sido apenas um desafio à Justiça. Talvez tenha sido também um recado ao próprio ego: “ainda estou aqui”.
E esse é um sentimento humano. Difícil para qualquer um que já sentiu o peso do poder e agora enfrenta o silêncio e os limites impostos por decisões judiciais.
A sensação de estar acima da lei
Medidas como o recolhimento domiciliar noturno, a proibição de contatos e de uso de redes sociais — inclusive por terceiros — seriam suficientes para intimidar qualquer cidadão. Mas Bolsonaro, por vezes, parece se ver fora da curva. Acostumado a desafiar e recuar sem consequências, talvez ainda acredite que não será punido. Afinal, conta com uma base fiel e já escapou de outras investidas.
Só que os tempos mudaram. E o Brasil também.
Pausa para a reflexão
A defesa de Bolsonaro tem agora pouco tempo para explicar as postagens, os links, os vídeos e as imagens. O STF está de olho, a Procuradoria-Geral da República também. O jogo político pode continuar, mas com regras bem claras.
E aqui vale um convite à reflexão — não só para o ex-presidente, mas para seus apoiadores: o que é mais importante agora? Revidar ou reconstruir? Gritar ou pensar?
O enfrentamento puro e simples desgasta. A política, para sobreviver, precisa de estratégia, diálogo e responsabilidade. Inclusive — e talvez principalmente — de quem já esteve no topo.
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