Com políticas públicas estruturadas, envolvimento da indústria e participação popular, estado atinge índice recorde de 56,8% e se torna exemplo nacional de economia circular
Por Ronald Stresser | Sulpost
No Paraná, até mesmo os cacos têm valor. Ali, o que poderia ser só mais um estilhaço do consumo moderno se transforma em insumo, em emprego, em futuro. Com 56,84% das embalagens de vidro recicladas em 2024 — mais que o dobro da média nacional, que ficou em 25,1% — o estado rompeu a lógica do descarte e assumiu um protagonismo silencioso, porém poderoso, na luta por um planeta mais equilibrado.
Esse recorde, validado pela auditoria da organização Circula Vidro, reconhecida pelo Ministério do Meio Ambiente, não veio por acaso. Foi construído dia após dia, em cada casa que separa o lixo, em cada cooperativa que transforma esforço em renda, em cada política pública que opta pela preservação e não pelo desperdício.
A coordenadora de Saneamento Ambiental e Economia Circular da Secretaria do Desenvolvimento Sustentável (Sedest), Isabella Tioqueta, conhece de perto esse caminho. “Esse resultado é fruto de um trabalho contínuo de diagnóstico, capacitação e monitoramento junto aos municípios, às associações e às cooperativas. Foi uma construção coletiva”, afirma ela, com a serenidade de quem vê os números confirmarem aquilo que já se intuía na prática. “Ser destaque nacional superou nossas projeções.”
Hábito que começa dentro de casa
A reciclagem do vidro tem seus próprios desafios: trata-se de um material pesado, frágil e que exige manuseio específico. Ainda assim, quando reaproveitado, é 100% reciclável e infinitamente reutilizável. O simples ato de separar uma garrafa da lixeira comum já pode fazer a diferença — e o Paraná vem dando aula de cidadania ambiental nesse sentido.
“É dentro de casa que começa a educação ambiental. A separação adequada é essencial para que o material chegue às cooperativas em condições de ser reaproveitado”, reforça Isabella. E quando essa consciência coletiva se soma à ação governamental e ao compromisso da indústria, os resultados aparecem.
A engrenagem da economia verde
O estado não só monitora o desempenho de todos os seus municípios, como também atua para que seus Planos de Gestão de Resíduos estejam alinhados às diretrizes nacionais. Parte dessa engrenagem é o programa Recicla Paraná, que, embora não exclusivo ao vidro, fortalece a cadeia como um todo por meio de capacitações, investimentos em infraestrutura e apoio direto às cooperativas.
Outro fator decisivo é a força da indústria local de bebidas, que utiliza massivamente embalagens de vidro. Marcas de refrigerantes, sucos e cervejas — como a Ambev, que está construindo uma nova fábrica em Carambeí, nos Campos Gerais, com investimento de R$ 870 milhões — também estão impulsionando a demanda por vidro reciclado e colaborando ativamente com a circularidade do material.
A nova fábrica, uma das mais modernas e sustentáveis da América Latina, promete fabricar até 15 milhões de garrafas por mês. Uma única garrafa retornável pode ser reutilizada, em média, 20 vezes antes de se tornar resíduo definitivo. A matemática é simples: mais reutilização, menos lixo, menos emissão de gases de efeito estufa.
Vitória a cada tonelada
Segundo o CEO da Circula Vidro, Fábio Ferreira, “para cada seis toneladas de vidro reciclado, evita-se a emissão de uma tonelada de CO₂ na produção”. Em um mundo em que as mudanças climáticas avançam com velocidade alarmante, isso equivale a uma pequena revolução. “Começamos a gerar resíduos de vidro ainda bebês, com as mamadeiras. Por isso, ensinar o ciclo completo do consumo é vital.”
A Circula Vidro, fundada em 2024 com apoio da Abividro, Abrabe e Sindicerv, reúne fabricantes, recicladores e consumidores em torno do compromisso com a economia circular, conceito que substitui o modelo linear do "extrair-produzir-descartar" por um fluxo sustentável de reaproveitamento constante.
A meta é o futuro
A meta do Ministério do Meio Ambiente é ambiciosa: chegar a 40% de reciclagem nacional de embalagens de vidro até 2030. O Paraná, que já ultrapassou essa marca em mais de 16 pontos percentuais, mostra que é possível — e mais do que isso, necessário.
Para além das estatísticas, o sucesso paranaense revela uma mudança de mentalidade. O lixo deixou de ser apenas sobra para virar recurso. Os cacos, antes invisíveis, passaram a ser elo de transformação social e ambiental. É como se o estado tivesse recolhido os pedaços do descaso e, com eles, moldado um novo paradigma de desenvolvimento.
Enquanto outros ainda discutem como sair do impasse ambiental, o Paraná segue recolhendo vidro — semeando o presente e colhendo o futuro.
📍Com informações da Secretaria do Desenvolvimento Sustentável do Paraná (Sedest), Circula Vidro, AEN Paraná, Ministério do Meio Ambiente - Edição: Ronald Stresser | Sulpost
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