Brasil encontra saída criativa e sustentável para hospedagem na COP30: navios cruzeiro atracarão em Belém para receber delegações
Por Ronald Stresser | Sulpost© PortosRio/Divulgação |
Belém não será maquiada. Está sendo transformada com soluções inteligentes. Com os pés firmes no chão, o Brasil caminha para receber a COP30 com soluções criativas, sustentáveis e, acima de tudo, humanas. Diante do impasse com a rede hoteleira local, que elevou os preços das diárias a patamares inacreditáveis — até R$ 6.500 por noite, mais caro que hotéis de luxo em Nova York — o governo federal anunciou uma alternativa à altura da conferência climática mais importante do planeta: dois navios de cruzeiro servirão de hospedagem temporária durante o evento.
Navios, não por luxo, mas por logística
Com cerca de 3.900 cabines e capacidade para até 6 mil pessoas, os transatlânticos MSC Seaview e Costa Diadema estarão ancorados no Terminal Portuário de Outeiro, atualmente em ampliação para o evento. Uma ponte, em construção, ligará o terminal aos locais da conferência, garantindo acesso em aproximadamente 30 minutos.
A contratação foi oficializada na semana passada pela Secretaria Extraordinária para a COP30, em parceria com a Embratur. A operadora responsável foi selecionada por meio de chamamento público e ficará encarregada da comercialização das cabines. A medida, além de estratégica, é emblemática: mostra que, quando há vontade política, criatividade e compromisso com o bem coletivo, os impasses se tornam pontes — ou, neste caso, portos.
“Não é maquiagem. É transformação”
A fala da diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello, durante o seminário “A Transição Energética e a Sustentabilidade do Futuro”, sintetiza o espírito da preparação para a COP30: “Não estamos fazendo isso para maquiar Belém. São obras estruturais, investimentos super estratégicos. Belém vai deixar de ter 500 mil pessoas vivendo em áreas de risco”.
E completa, com a serenidade de quem compreende o desafio histórico: “O presidente Lula, quando chamou a COP para Belém, sabia dos desafios logísticos e estruturais da cidade. Ele queria que o mundo visse a Amazônia real, e não uma versão idílica fabricada para turista ver”.
Mais que discurso, a ação do governo mostra que não se trata apenas de receber visitantes — trata-se de dignidade. Dignidade para os moradores de Belém, que verão investimentos permanentes em saneamento, infraestrutura e adaptação climática. E também dignidade para os países convidados, especialmente os mais vulneráveis às mudanças climáticas, que terão prioridade nas acomodações dos navios.
Justiça climática na prática: prioridade para países pobres
Na primeira etapa da hospedagem flutuante, 98 países em desenvolvimento ou ilhas vulneráveis terão prioridade, com diárias acessíveis, limitadas a US$ 220. Só após essa fase outros países poderão reservar acomodações, com valores de até US$ 600.
Segundo Valter Correia, secretário extraordinário para a COP30, a solução dos navios se soma a outros esforços para receber mais de 40 mil pessoas, entre diplomatas da ONU, pesquisadores, ativistas e empresários.
“É um problema real que estamos enfrentando. E estamos batalhando para que aconteça da melhor forma possível”, reforçiu Tereza Campello no evento da semana passada.
Imobiliária selvagem: especulação em Belém
Enquanto isso, a crise na rede hoteleira local se agrava. Imóveis com aluguel inflacionado a níveis surreais revelam um retrato distorcido da realidade amazônica: uma casa simples em bairro nobre ofertada por R$ 1,2 milhão para apenas 11 noites. Um apartamento por R$ 1 milhão no mesmo período. Preços que não apenas espantam, mas colocam em risco a imagem do Brasil perante a comunidade internacional.
A tentativa de se aproveitar de um evento global, para especular financeiramente, contrasta com o esforço coletivo de milhares de pessoas que estão trabalhando para fazer da COP30 um marco da luta por justiça climática e por um mundo mais equilibrado.
Sustentabilidade para além da COP
Além dos navios, outras iniciativas sustentáveis estão em curso: 17 escolas públicas serão adaptadas como hostéis temporários pelo governo paraense, e plataformas como Airbnb e Booking estão sendo articuladas para ampliar a oferta de hospedagem de forma justa e transparente.
Para além do evento, o legado é concreto. Segundo o BNDES, os investimentos em infraestrutura de Belém têm potencial para tirar meio milhão de pessoas das áreas alagadas, criando um modelo replicável para outras cidades brasileiras afetadas pelas mudanças climáticas.
“Essa é a Amazônia que o mundo precisa ver”, afirma Campello. “Com seus desafios, sua beleza real e sua força.”
A COP do povo — e para o povo
Com os navios atracando no Pará, o Brasil mostra que está disposto a enfrentar a COP30 de peito aberto, sem disfarces, sem maquiagem. Ao usar embarcações sustentáveis como solução de moradia temporária, o governo dá um recado claro: a Amazônia não será vendida e nem arrendada a preço de diária superfaturada. Ela será mostrada em sua inteireza, com todas as suas contradições, riquezas e potenciais.
Belém está sendo preparada para o mundo, mas sobretudo para os próprios paraenses. Porque o futuro não se constrói apenas com discursos nos palcos internacionais. Ele começa no chão alagado de uma periferia amazônica que, agora, começa a se tornar habitável.
Se for pra mudar o mundo, vamos começar dando o exemplo.
📍 A COP30 acontece entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, em Belém (PA).
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